Fim de greves e manifestações de apoio ao governo provisório
No dia 18 de novembro de 1910, uma das principais notícias na primeira página do DN dava conta da solução provisória para um conflito laboral que opunha os trabalhadores da Companhia Carris de Ferro à administração da empresa.
O "comité de Londres", conta o DN, atribuiu "poderes de arbítrio ao sr. ministro do Interior" para que se encontrasse uma solução, e nesse mesmo dia os trabalhadores voltaram a laborar.
Mesmo sem todas as reivindações ainda satisfeitas, cancelar a greve como aconselhou "o ilustre" ministro "não representava uma transigência [dos trabalhadores], mas sim uma vitória, porque praticavam um grande ato de civismo, aguardando o momento oportuno de fazerem as necessárias reclamações". No mesmo espírito, o governante fez um apelo: o de que "se tornava preciso mostrar que a atitude dos grevistas não era de oposição, mas sim de amor pela República".
Venceu o amor à República. Os trabalhadores voltaram ao trabalho dando vivas ao ministro, com a promessa de novas negociações e com algumas das suas reivindicações satisfeitas.
A companhia, conta o Diário de Notícias, concordou num horário de oito horas para o pessoal com serviço mais violento, como eletricistas, guarda-freios, condutores e revisores; nove horas de trabalho para pessoal de limpeza de ruas, agulheiros, fretadores de gado ou pessoal dos elevadores, um aumento de 30 réis em todos os salários e ainda 12 dias de licença anualmente.
Foi um final feliz, ainda que provisório, mas aquela não era a única greve noticiada nesse dia no jornal. Os conflitos laborais e os movimentos grevistas alastravam no país, com os moços de armazéns em conflito com os proprietários de comércio, as ameaças dos operários do Gás de Setúbal de "pôr-se em greve geral" e idênticos sobressaltos na fábrica de serração na Rua 24 de Julho e na fábrica de cortiça da Calçada dos Barbadinhos, em Lisboa. Os operários reclamavam melhores salários.