Cada inverno, cada vacina?

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Eleições legislativas à porta e o pico da pandemia em Portugal também. O país deve atingir o auge de contactos de infeção por covid-19 nesta semana, apontam vários especialistas de saúde, para quem o período de contenção, na primeira quinzena de janeiro, criou alguma ilusão acerca da realidade. Alcançar os 500 mil cidadãos isolados continua a ser um cenário plausível, dizem os entendidos. Se desse universo retirarmos os mais novos, até aos 18 anos, e os votos antecipados (até quinta-feira estão abertas as inscrições para o chamado voto em mobilidade e ontem eram já 137 mil os eleitores inscritos), o grupo de votantes isolado pode atingir os 250 mil.

Ainda assim, há motivos para estarmos "otimistas", segundo João Paulo Gomes. É microbiologista e coordenador do estudo sobre a diversidade genética do SARS-CoV-2 no Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge e desde o início da pandemia que está nas reuniões do Infarmed. "Quanto ao futuro, temos de olhar com "otimismo", mas o grande desafio será "ter a coragem de olhar para a doença e mudar as regras", aponta. Sobre os próximos anos e os invernos vindouros, admite que o vírus volte a regressar na época fria, mas acerca do reforço anual da vacinação não tem tantas certezas.

O virologista conselheiro de Ursula von der Leyen (presidente da Comissão Europeia) prevê "explosão de casos" a cada inverno. O belga Peter Piot, um dos cientistas que descobriram o vírus ébola em 1976, diz que a pandemia está a entrar "numa nova fase" que é "muito mais transmissível", mas menos grave. Considera que é preciso promover um debate para refletir sobre como organizar as nossas sociedades e vidas para conviver com a covid-19 de uma maneira totalmente diferente em relação ao que fazemos hoje. Mas Piot , ao contrário do português, acredita que "provavelmente" vai ser necessário tomar uma vacina anual, a cada inverno, como já acontece com a da gripe, por exemplo.

Face ao estado da saúde pública, é gigantesco o desafio de comunicação que os partidos candidatos às eleições legislativas terão de fazer nos próximos 15 dias de campanha. Em pandemia todos os debates televisivos valem (ainda mais) ouro. Ontem à noite, os nove partidos com assento parlamentar reuniram-se num fórum único de discussão, transmitido pela RTP. Um serviço público importante e mais um esforço para esclarecer os eleitores.

O encontro realizou-se após os dois primeiros dias de campanha eleitoral marcados por ataques violentos entre os líderes dos dois principais partidos: AntónioCosta e Rui Rio. Mesmo sem grandes arruadas ou feiras e mercados repletos de populares, a "troca de mimos" entre os candidatos não confinou.

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