PSD está sem "visão reformista" e sem "urgência de transformar o país"

Novo líder vai mudar a forma de fazer política na Iniciativa Liberal e apostar numa "proximidade virada para fora". Do PSD espera que regresse ao que já foi e que vá a "jogo". Sobre o governo? "Está esgotado" e até Marcelo já "concluiu que a continuidade de Costa é "nefasta" para o país.
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O que é que mudou com a sua liderança?

Ainda estamos a fazer algumas alterações, algumas mudanças. Basicamente há aqui uma ideia de proximidade que, neste momento, estamos a desenvolver e a apostar. Essa proximidade tem a ver com proximidade aos próprios membros da Iniciativa Liberal, presenças muito frequentes em iniciativas de núcleos, em contacto frequente e muitas vezes informal. E, por outro lado, uma proximidade virada para fora.

Isso não existia com a anterior liderança?

Não há nenhum problema em dizer que há mudanças. Cada liderança tem o seu estilo pessoal. O meu estilo é o de grande proximidade. É algo que está, neste momento, a mudar. Haver essa proximidade quer para fora, quer para dentro.

O partido precisava dessa mudança, não tinha essa proximidade?

Responde a uma visão de que a IL tinha uma proposta política e ideológica muito marcada. Queremos continuar com essa visão, mas queremos complementar isso com proximidade aos problemas concretos dos portugueses. E para termos essa proximidade, esse conhecimento, é importante estarmos presentes, ouvirmos, discutirmos... e vale também para dentro do partido.

E quais são as suas bandeiras?

Há um conjunto de bandeiras que são da IL, as questões da redução fiscal, a desburocratização, as liberdades de escolha na Educação e na Saúde, a liberdade de expressão...

E as suas?

Olharmos para problemas concretos, mantermos uma matriz liberal de soluções. Todos sabemos que o país atravessa, agora, uma dificuldade ao nível da habitação, por exemplo, e aí estaremos nós com medidas concretas de matriz liberal. A mesma coisa para os transportes, vamos insistir muito no nosso plano ferroviário nacional. São dois exemplos de medidas muito concretas, de visões muito concretas para problemas concretos dos portugueses.

Sei que ainda agora chegou, mas até quando pretende ser líder?

O meu compromisso é de quatro anos. Este mandato tem dois anos, ao fim de dois anos haverá uma avaliação daquilo que foram os resultados. Eu, pela minha parte, farei também obviamente uma avaliação de resultados pessoais. O meu compromisso, se assim o entenderam os membros da IL, é de quatro anos.

Ir até 2027.

Completar todo o ciclo eleitoral, quer deste mandato quer do seguinte. Se os calendários, entretanto, não forem alterados por incidentes políticos que o possam justificar.

Porquê essa necessidade de avaliação daqui a 2 anos?

É uma prática democrática que deve ser feita. Há um conjunto de objetivos: quer a transformação interna do partido, quer até objetivos eleitorais e de crescimento do partido.

Qual é a transformação interna que é precisa?

Tem a ver com a evolução do partido, o seu crescimento. Um dos compromissos foi o de promover uma revisão estatutária que permita discutir os estatutos do partido. O partido cresceu e é natural que haja essa necessidade. Outras propostas, por exemplo, são o valor das próprias quotas, o reforço e o suporte aos núcleos e aos autarcas em termos administrativos e de apoio jurídico.

Isso é necessário porquê?

O partido cresceu. Não tinha autarcas, passou a ter. Tinha umas dezenas de núcleos, hoje tem 80. O objetivo é chegar aos 121. Todo este crescimento do partido já não se coaduna com uma estrutura menos profissionalizada.

E sabe quantos são os militantes do seu partido?

Sim... estamos acima dos 6300, 6400 creio eu.

Explique-me o afastamento de apoiantes de Carla Castro.

Não há muita explicação a dar. Um dos casos eu conheço diretamente. É o caso de um assessor aqui do grupo parlamentar. A questão foi discutida pelo grupo parlamentar e houve uma decisão unânime de que a pessoa não tinha enquadramento em nenhuma das comissões em que estamos presentes.

Não tinha perfil agora?

Aí reporto-me aquilo que foram as declarações que o Carlos Guimarães Pinto fez de que esse desenquadramento já era sentido antes, mas que durante a campanha interna se entendeu que não era o momento. O outro caso foi decisão autónoma dos deputados eleitos pela Iniciativa Liberal na Assembleia Municipal de Lisboa. É uma decisão que respeito e não tive qualquer participação nessa.

Não receia ser líder de um partido dividido?

Não sinto de todo isso. Já estive oportunidade, nestas três semanas, de estar em vários núcleos, a tal proximidade de que falei, e sinto que as pessoas estão muito motivadas, que o projeto liberal é cada vez mais entusiasmante seja dentro ou fora do partido. Sinto um partido motivado, unido e cheio de vontade de transformar Portugal.

E onde é que está a proximidade com o PSD?

Quero que seja claro desde o princípio o que pomos como condição, como caderno de encargos para uma negociação que será sempre pós-eleitoral. Um entendimento terá sempre que respeitar cinco, seis, 10 pontos fundamentais: uma baixa da carga fiscal para as famílias e para as empresas, simplificação de processos, as liberdades de escolha na Saúde e na Educação, e a somar a isso uma questão muito relevante que é a alteração da lei eleitoral porque hoje há centenas de milhares de eleitores cujo voto não contribui para nenhum tipo de eleição, as questões da lei constitucional...

Isso é o caderno de encargos. Queria perceber onde é que está a proximidade entre PSD e IL.

Neste momento as questões da menor ou maior proximidade não são muito relevantes.

Porque é um caderno de encargos que nunca seria aceite pelo PS?

Creio que não. É um caderno de encargos que, apesar de tudo, faz sentido discutir com o PSD. Quero crer que o PSD fará o caminho de recuperar a sua visão mais inconformada, a sua visão de transformação do país que já teve e que, entretanto, não parece ser evidente naquilo que foram os últimos anos. Quero crer que em algum momento será possível o PSD recuperar essa visão reformista que já teve e não tem tido.

No caso dos imigrantes existe proximidade com o que defende Luís Montenegro?

O ponto central é neste momento a existência de um serviço que se chamava SEF e que entretanto implodiu por decisão política do governo socialista.

Só integrar quem melhor se insira na nossa cultura, na nossa identidade, faz sentido para si?

O que faz sentido é dizer o seguinte: o que nós temos é uma situação em que as pessoas estão completamente abandonadas à sua sorte porque há um serviço do Estado que não garante aquilo que deveria fazer. E isso tem uma consequência que me parece fundamental que é estas pessoas estarem num limbo jurídico completamente atentatório da dignidade humana porque nem sequer conseguem, se houver a possibilidade de trabalhar, ter a situação legalizada.

E a questão da nossa cultura, da nossa identidade?

Recordo que Portugal é um país de imigrantes, de pessoas que ao longo da história saíram do país em busca de melhores condições. Recordo bem as imagens de portugueses em França nas bidonville e, portanto, um país com esta história tem que saber receber aqueles que procuram Portugal.

Independentemente de uma maior ou menor identificação cultural?

Não é essa a nossa visão. A nossa visão é sobretudo de um país que cresça economicamente, cresça socialmente e que tenha condições para atrair pessoas que queiram participar desse esforço de crescimento do país.

Partilha então mais a leitura do Presidente da República?

É a leitura da IL. Sou genericamente avesso a visões mais restritas, de um país mais pequeno do ponto de vista da sua composição e da sua diversidade. Precisamos de ser um país atrativo para os portugueses, atrativo para quem nos procura, para que sejamos capazes de crescer todos juntos.

O que falta ao PSD para a IL se sentir mais confortável e possa apresentar o caderno de encargos?

A questão é outra. É se o PSD consegue ou não acompanhar o nosso caderno de encargos.

O que lhes falta, então?

É sobretudo esse ímpeto reformista do país que o PSD já teve e que entretanto perdeu. Vejo um pouco a IL como o Red Bull do sistema partidário. Nós faremos seguramente a nossa parte. Quero acreditar que o PSD fará o caminho.

Quer acreditar porquê?

Acredito que o PSD tendo na sua história esse ímpeto reformista o voltará a a ter. Repare, nós apresentámos uma moção de censura ao governo de António Costa e...

Não percebeu o voto do PSD?

Não é uma questão de perceber. É uma questão, na nossa avaliação, de que cada dia que passa com o governo de Costa é um dia pior. O PSD entendeu que devia sair de jogo. Nós entendemos que o governo de Costa está esgotado, mas aparentemente para o PSD, não sei se por motivos táticos se por avaliação, esse tempo ainda não chegou. Aí tem uma divergência. Não vamos olhar para trás nem esperar por ninguém.

Acredita num cenário de eleições legislativas antecipadas?

Estou a ver uma situação de desgaste rápido, esgotamento de soluções políticas, de desorientação do governo, mas há uma maioria absoluta. Todos os cenários são possíveis. É hoje mais provável que tenhamos alguma instabilidade política nos próximos tempos. O PS tem, apesar de tudo, uma maioria absoluta que na avaliação da IL não tem contribuído para o país.

É o que sustenta a sua afirmação de que Costa já não tem condições para governar?

É uma constatação de facto. Olhamos para os acontecimentos das últimas semanas, vemos professores na rua a contestar o governo, vemos a saúde também sem soluções - os médicos também a contestar... o que é que isto significa? Que a base natural de apoio de António Costa, que estava muito alicerçado nos funcionários públicos, começa a sofrer uma forte erosão. E sendo pragmáticos, olhando para as sondagens, vamos vendo tendências que falam numa erosão na base apoio de António Costa. Alguns estudos de opinião que saíram apontam para que Costa tenha perdido um terço da sua base de apoio. São dados relevantes, dados da realidade.

A realidade da parcela sindicalizada do país.

Certo. Há aqui alguma influência de sindicatos, algumas tensões, algumas movimentações. Mas eu acho que a própria função pública no seu conjunto, neste momento, está a chegar à conclusão de que as políticas de António Costa são inimigas da própria Função pública.

O melhor era então haver já eleições?

Se não fosse esse o cenário desejável não teríamos apresentado a moção de censura. A permanência de António Costa no governo e as políticas socialistas que António Costa lidera são nocivas para o país. Basta olhar para todos os indicadores.

Nada de muito diferente do que se viveu última década.

Sim, mas quem é que governou na última década? Neste milénio quem esteve no poder?

Também o PSD com quem procura proximidade.

Sim, mas apesar de tudo com menos tempo, apesar de tudo em circunstâncias com um determinado enquadramento internacional. Não é por acaso que digo que queremos romper com o bipartidarismo.

A avaliação que faz de Costa está clara. E Luís Montenegro?

É alguém que ainda não transportou para o PSD essa visão reformista, esse inconformismo, essa urgência de transformação do país.

E como avalia a postura interventiva do Presidente da República?

A Iniciativa Liberal concluiu mais cedo do que o presidente que esta continuidade de António Costa era nefasta. O Presidente da República começou também a perder a paciência. E por algum motivo colocou o governo de António Costa a prazo dando ali um limite de 2024. Há claramente uma intenção de colocar o governo a prazo exigindo-lhe uma alteração de políticas. O presidente ainda lhe dá o benefício da dúvida, ainda que mínimo. Nós já esgotámos a nossa capacidade de dar qualquer benefício da dúvida a António Costa.

Eleições Europeias, qual é o objetivo?

Pretendemos eleger o primeiro deputado europeu da IL. E estamos em fase de preparação de um programa eleitoral.

Já tem nomes?

Não. Neste momento não há nomes de candidatos sobre a mesa.

O anterior líder é um candidato provável?

É um excelente candidato a qualquer coisa, temos essa enorme vantagem. Mas não é tema que tenha sido discutido.

Madeira?

O objetivo mínimo é ter um deputado eleito, mas como somos ambiciosos queremos um grupo parlamentar.

Dois deputados?

Sim.

Podendo ser fator de desempate entre PSD e PS apoiam quem?

A IL fará uma avaliação muito exigente daquilo que serão as propostas concretas que forem apresentadas. O PSD Madeira enferma de muitos daqueles que são os vícios que nós apontamos ao PS do continente: a ocupação do aparelho regional por clientelas políticas; temos muitas preocupações sobre a liberdade de expressão; muitas preocupações sobre o condicionamento da atividade económica - a presença excessiva da dimensão regional e pública.

Açores?

É reforçar a presença que temos.

Mantendo o apoio a Bolieiro?

É um cenário que ainda tem que ser discutido. Preservamos a autonomia do núcleo dos Açores, mas temos que discutir isso. Mas para já avaliamos positivamente a capacidade que a IL teve de reduzir o endividamento da região autónoma, de reduzir a carga fiscal. A IL teve um impacto positivo.

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