Desconfinar. À vontade não é à vontadinha! 

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Olhos colados às televisões e aos sites e ouvidos bem abertos. Os portugueses esperavam a comunicação da "libertação total" na sequência da reunião do Infarmed, ontem à tarde, mas ainda não foi desta. Mais vale prevenir do que cantar vitória antes do tempo certo. O encontro, em que Presidente da República, Presidente da Assembleia da República e governo ouviram os especialistas da área saúde, deixou antever um novo alívio das medidas restritivas da pandemia, mas de forma leve. Antes do encontro, Marcelo Rebelo de Sousa disse que já passaram os tempos em que entrava naquela reunião com o "coração pequenino", mas pediu "serenidade". Não vem aí a liberdade completa, mas a terceira fase de desconfinamento.

As transformações não serão radicais e "à vontade não é à vontadinha", como se diz na tropa. As máscaras mantém-se obrigatórias em certos espaços fechados e há a expectativa de que, muito em breve, os restaurantes, pastelarias e cafés ficarão a funcionar sem limite de lotação, quer nos espaços exteriores quer interiores. Também os casamentos, baptizados e espectáculos culturais deverão deixar de ter lotação limitada pela covid-19. E, ao que tudo indica, bares e discotecas poderão finalmente ver a luz verde para reabrir as portas, desde que exijam aos clientes que apresentem o certificado digital ou teste negativo.

O país caminha a passos largos para uma nova normalidade, recuperando antigas rotinas. Afinal, já só deverão faltar cerca de 400 mil doses para a meta exacta dos 85% de população vacinada e, com isso, renova-se a esperança de recuperar uma vida com menos restrições. Dos 15% em falta, cerca de 10% são crianças até aos 12 anos, os restantes 5% juntam as pessoas que recusam vacinar-se, as que estiveram infectadas com covid-19 nos últimos três meses e outras que por motivos específicos de saúde são aconselhadas a não ser vacinadas. Ainda assim, o país tem a maior taxa de cobertura da população com vacinação completa do mundo, segundo o site de estatísticas Our World in Data.

Apesar destas boas notícias, vale a pena lembrar o alerta vincado de Gouveia e Melo, o líder da task force: "a guerra não acabou". Está ganha a primeira batalha, mas falta ainda completar o plano de vacinação que poderá prolongar-se até março de 2022, admitiu o vice-almirante. Também Raquel Duarte, da ARS Norte, Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto e Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, médica a quem cabe a proposta de medidas a adotar a partir de setembro 2021, acompanhou o mesmo raciocínio e referiu que "a pandemia não terminou" e que passámos agora da "obrigatoriedade para a responsabilidade cívica" de cada um. Este é o aviso mais importante que saiu da reunião do Infarmed. Este "é o fechar de uma página, mas não a conclusão de um processo", como sublinhou o Presidente. Se o fosse, os entendidos da área da saúde não teriam pedido ao governo o reforço da vacina para todos os portugueses. Adoptar comportamentos para a nova fase mas sem facilitar será também uma boa autovacina.

Diretora do Diário de Notícias

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