A nova época da NBA em 23 pontos (o número de LeBron James)
Não há como fugir ao óbvio. O tema mais forte das conversas sobre a nova temporada da NBA, que arranca na madrugada desta quarta-feira (com os jogos Philadelphia 76ers-Boston Celtics e Oklahoma Thunder-Golden State Warriors), é a mudança daquele que é o melhor jogador desta geração para uma das melhores equipas da história, os Los Angeles Lakers, que andam arredados da elite desde a reforma de Kobe Bryant (um pouco antes até). Mas os motivos de interesse estão longe de esgotar-se na aventura de LeBron James em LA.
Partindo desse tema central, o DN deixa-lhe aqui uma apresentação da nova época em 23 pontos (sim, aproveitando o número que LeBron continua a vestir também nos Lakers).
Oito anos depois de ter deixado Cleveland pela primeira vez, para rumar a Miami, LeBron James voltou a deixar para trás a "sua" cidade e, desta vez, também a conferência Este da NBA, pela primeira vez em 16 épocas na carreira. A grande referência individual da atual geração da liga escolheu os míticos Lakers e a cidade de Los Angeles para o seu novo (e último?) desafio competitivo, procurando resgatar para o topo uma equipa histórica (16 títulos de campeã, um menos do que os recordistas Boston Celtics) que há cinco anos não vê sequer os playoffs.
Às rising stars Brandon Ingram, Josh Hart, Kyle Kuzma e Lonzo Ball, o presidente e antiga lenda Magic Jonhson conseguiu juntar ainda veteranos como Rajon Rondo, JaVale McGee e Lance Stephenson, na expectativa de ver LeBron reativar desde já o showtime que Magic e C.ª celebrizaram nos anos 1980. Mas a grande aposta será mais projetada para a próxima temporada, aproveitando o isco de Lebron para atrair grandes estrelas livres no verão de 2019. Aos 33 anos, King James chega também ao grande mercado de LA, com Hollywood à porta, no que muitos veem também já como um piscar de olho ao seu futuro pós-basquetebol.
Quando os Golden State Warriors já pareciam muito difíceis de melhorar, Kevin Durant resolveu juntar-se à equipa e elevar ainda mais a fasquia. Dois anos e mais dois títulos depois, os Warriors conseguem atrair mais uma das grandes estrelas da liga, o poste DeMArcus Cousins, e assim formar o primeiro quinteto inicial da NBA dos últimos 40 anos completamente composto por jogadores all-star na época anterior (desde os Celtics em 1975-76 que isso não acontecia). Além de Cousins, Durant, Stephen Curry, Klay Thompson e Draymond Green, os Warriors têm ainda um outro all-star no banco, Andre Iguodala. À procura de um three-peat (o tri) e do quarto título em cinco anos, os Warriors são cada vez mais os favoritos a prolongar a sua dinastia atual na NBA. E também, claro, a equipa a abater.
Se Lebron James nos Lakers e o reforço dos campeões Warriors já seria suficiente para valorizar ainda mais a forte conferência Oeste, a verdade é que as novidades não se ficam por aí. Em Houston, os Rockets, que na época passada só caíram no sétimo jogo das finais de conferência frente aos Warriors, juntaram o talentoso mas problemático Carmelo Anthony a uma equipa liderada pelo MVP James Harden e por outro base all-star, Chris Paul. Em Oklahoma, Russell Westbrook e Paul George não têm agora de dividir atenções com o ego de Carmelo nos Thunder. E em Salt Lake City há uns Utah Jazz de ritmo excitante sob a liderança de uma jovem superestrela em potência, Donovan Mitchell.
Se no Oeste, apesar da cada vez mais forte concorrência, os Golden State Warriors continuam favoritos a marcar presença, pela quinta vez consecutiva, nas Finais da NBA, de Leste chega a garantia de que o duelo decisivo pelo troféu Larry O'Brien terá desta vez um protagonista novo. Ou alguém acredita que os Cleveland Cavaliers sem Lebron James conseguirão forçar uma quinta final frente aos Warrios? Pois, ninguém. Com os CAVS em mais uma ressaca pós-LeBron, abre-se o palco a outros protagonistas na conferência de Este.
Boston Celtics e Philadelphia 76'ers parecem os mais apetrechados para o disputar, resgatando uma histórica rivalidade que teve os momentos áureos na décadas de 1950 e 1960 (com os gigantes Bill Russell e Wilt Chamberlain) e que voltou a ter um ensaio nas meias-finais de conferência da época passada, que os Celtics venceram por 4-1. Nos verdes de Boston, ainda para mais, estão de regresso após lesões as estrelas Kyrie Irving e Gordon Hayward. Em Filadélfia, cresce a expectativa em relação à evolução dos jovens supertalentos Ben Simmons, Joel Embiid e até do recuperado Markelle Fultz. Nesta rivalidade podem intrometer-se os Toronto Raptors (este ano com Kawhi Leonard) e os Milwaukee Bucks do fenómeno grego Antetokounmpo.
Nunca um basquetebolista europeu terá gerado tanta expectativa à chegada à NBA quanto o está a fazer o jovem base/extremo esloveno Luka Doncic, que depois de afirmar o seu talento precoce ao mais alto nível na Europa, ao serviço do Real Madrid, foi escolhido na terceira posição do draft deste ano, pelos Atlanta Hawks, que o enviaram para os Dallas Mavericks por troca com Trae Young (já lá vamos). Os Mavs esperam ter com Doncic a sorte que tiveram com o alemão Nowitzki, que se tornou jogador-chave da equipa que conseguiu chegar a um título, em 2011, e o jovem jogador esloveno deixou boas indicações na pré-época quanto à adaptação à NBA. Além de Doncic, forte expectativa em redor do poste Deandre Ayton, escolhido como n.º 1 do draft pelos Phoenix Suns, e de Trae Young, o base que é apontado como uma nova versão de Stephen Curry e que passou por Portugal em criança, no início do século, quando o pai Ray jogou no FC Porto.
Aos 40 anos, o alemão Dirk Nowitzki deve passar a desempenhar um papel mais secundário nos Dallas Mavericks, saindo do banco, naquela que será uma época histórica para o extremo. O jogador dos Mavericks vai bater o recorde de Kobe Bryant como o atleta da NBA com mais épocas consecutivas no mesmo clube, ao iniciar a sua 21.ª temporada em Dallas. Nowitzki igualará ainda os nomes de Robert Parish, Kevin Willis e Kevin Garnett como os jogadores com mais campeonatos disputados, no que terá a companhia de outro veterano no ativo, Vince Carter, de 41 anos, que nesta temporada se mudou para os Atlanta Hawks.
Na lista dos salários para esta temporada, o base dos campeões Golden State Warriors aparece no topo, com um salário anual de 32,5 milhões de euros para 2018-19. Russell Westbrook (Oklahoma City Thunder), com 31 milhões, Chris Paul (Houston Rockets) e Lebron James (LA Lakers), ambos com 30,9, completam o pódio dos mais bem pagos na nova época. A equipa com uma folha salarial mais elevada é a dos Miami Heat, com 136,5 milhões.
A partir desta temporada, as equipas deixam de voltar a ter 24 segundos para atacar o cesto depois de recuperarem a bola num ressalto. De forma a tornar o jogo mais rápido, e a exemplo do que já acontecia na FIBA ou na WNBA, os segundos ataques passam a ter um limite máximo de 14 segundos. Além disso, a penalização para quem travar um contra-ataque em falta passa a ser de dois lances livres e posse de bola para a equipa que ataca.
Gregg Popovich começa a sua 23.ª temporada consecutiva como treinador dos San Antonio Spurs, igualando um recorde de Jerry Sloan com os Utah Jazz. Mas, pela primeira vez desde 1997, o histórico técnico que ganhou cinco títulos para os Spurs não terá Tim Duncan, Tony Parker ou Manu Ginóbili em campo. Se Duncan já se tinha retirado há algum tempo, o argentino retirou-se no último verão, enquanto o base francês rumou aos Charlotte Hornets. A equipa texana não conta também com Kawhi Leonard, que saiu em rutura para os Toronto Raptors, e viu uma série de lesões afetar a pré-época. Popovich enfrenta sérios problemas para manter a série de playoffs consecutivos ao comando dos Spurs: 21, desde 1997-98.
Se nos Spurs Popovich iguala o recorde de longevidade de Jerry Sloan, há oito equipas que apostam em treinadores novos para esta temporada. Destaque para Dwane Casey, a quem a eleição como o melhor treinador da temporada passada não evitou o despedimento por parte dos Toronto Raptors e que agora substitui Stan van Gundy nos Detroit Pistons. Mike Buldenhozer também saiu de Atlanta mas manteve-se na liga, agora ao comando dos Milwaukee Bucks. Tal como Steve Clifford, que deixou os Charlotte Hornets e passou para os Orlando Magic. Lloyd Pierce (Atlanta Hawks), James Borrego (Charlotte Hornets), David Fizdale (NY Knicks), Igor Koksov (Phoenix Suns) e Nick Nurse (Toronto Raptors) são as caras novas nos bancos.
Escolhida inicialmente para acolher o fim de semana das estrelas em 2017, Charlotte vai por fim ser palco do All-Star Game, com dois anos de atraso. Na altura, a lei discriminatória do estado da Carolina do Norte em relação aos transexuais, obrigando-os a utilizar casas de banho públicas destinadas ao seu sexo de nascença, fez a NBA alterar os planos. Com a lei agora revogada, Charlotte receberá as estrelas da liga para o 68.º All-Star Game, a 17 de fevereiro de 2019, na Spectrum Arena.
Para os campeões Golden State Warriors, esta época marca a despedida da Oracle Arena, em Oakland, inaugurada em 1966 e a mais antiga da atual NBA. A partir da próxima temporada, os Warriors regressam a São Francisco, onde vão estrear a Chase Arena. Quem estreia novo pavilhão já nesta época são os Milwaukee Bucks, que depois de 30 anos no Bradley Center passam agora a jogar no Fizerv Forum, na Baixa da cidade. Em Atlanta, o pavilhão dos Hawks sofreu uma remodelação de 166 milhões de euros e passou a designar-se State Farm Arena.
Com a saída de DeMarcus Cousins, os New Orleans Pelicans são objetivamente a equipa de Anthony Davis. Mas o problema é: que equipa oferecem os Pelicans a Davis para poder lutar por títulos e prémios? O extremo é talvez a superestrela da NBA mais "isolada" (em relação ao potencial da equipa que o rodeia) e isso faz crescer a especulação em torno de uma eventual mudança no próximo verão, antes de entrar no seu último ano de contrato com os Pelicans. O clube garante que não o troca nem por Beyoncé. E Anthony Davis garante que o seu objetivo é apenas um: conseguir ganhar em Nova Orleães. Mas o facto de ter mudado recentemente de empresário, para o mesmo de LeBron James, fez disparar os alarmes sobre uma possível mudança para os LA Lakers no horizonte.
A pré-época dos Minnesota Timberwolves foi bastante agitada, com um nome no olho do furacão. O base Jimmy Butler está descontente, não gosta de jogar com Andrew Wiggins e Karl Anthony Towns e exigiu ser trocado. O treinador, Tom Thibodeau, que já o treinara nos Chicago Bulls, não quer abrir mão, mas já foi obrigado até a cancelar um treino após uma confusão armada pelo base. Para já, ainda sem qualquer troca acertada com outra equipa, Jimmy Butler começa a época nos Wolves, mas o caso ameaça afetar as aspirações da equipa, que na época passada conseguiu ir aos playoffs pela primeira vez em 14 anos.
Da primeira vez que LeBron James decidiu deixar os Cleveland Cavaliers, o dono Dan Gilbert prometeu, ressentido, que a equipa ganharia um título de campeão antes do craque. Não ganhou, obviamente. Bem pelo contrário. Durante quatro épcoas, os Cavs não chegaram sequer aos playoffs ou aos 50% de vitórias na fase regular (o melhor que conseguiram foram 40,2%, à quarta época). Foi preciso LeBron regressar, em 2014, para os Cavalier voltarem aos playoffs e ao tão almejado título (2016). Agora, de novo sem o rei, conseguirá a equipa de Cleveland reagir melhor? A esperança de reconstrução passa sobretudo pelo rookie Collin Sexton. Mas o mais natural é que a seca regresse ao Ohio.
Sem LeBron James na paisagem, abre-se a vaga para o trono de novo rei da conferência Este. Há um vasto lote de pretendentes, mas a ascensão do grego Giannis Antetokounmpo nos últimos anos, em Milwaukee, faz do "Greek Freak" talvez o principal candidato. A combinação de tamanho, força, velocidade e liderança no ataque reunida por Giannis deixa perceber um potencial quase ilimitado que pode ganhar novo impulso agora com um novo treinador nos Bucks, Mike Budenholzer. Mas no Este desfilam também os talentos de Kyrie Irving (Celtics), Joel Embiid e Ben Simmons (76ers), e agora também Kawhi Leonard (Raptors). A corrida à sucessão de James está aberta.
Depois de uma época em conflito aberto com Gregg Popovich nos Spurs, o MVP das Finais de 2014 conseguiu por fim sair de San Antonio e mudou-se para o Canadá, onde terá de provar nos Toronto Raptors que consegue jogar ao mesmo nível que atingiu debaixo da asa do lendário técnico dos Spurs. Falta perceber também se Kawhi vai comprometer-se a longo prazo com a equipa canadiana ou se esta foi apenas uma forma de sair do Texas para poder, no próximo verão, assinar contrato com outra equipa (Lakers, Clippers, Knicks... os interessados são vários). Para os Raptors, é uma contratação importante com vista a dar o passo final rumo às Finais da NBA, objetivo que tem escapado.
Símbolo histórico dos Miami Heat, com os quais ganhou três títulos de campeão e foi o MVP das Finais de 2006, Dwyane Wade renovou contrato por um ano com a equipa da Florida para uma tournée de despedida da NBA. Aos 36 anos, o base anunciou que esta é a sua época de retirada, ao serviço da equipa que o escolheu na 5.ª posição do draft em 2003. Depois de 13 anos nos Heat, Wade ainda jogou nos Chicago Bulls e nos Cleveland Cavaliers (onde retomou parceria com LeBron James, que o tinha procurado em Miami, em 2010) nas duas últimas temporadas, antes de regressar a Miami, em fevereiro passado. Agora, o melhor marcador da liga em 2009 prepara-se para fazer descer a cortina, à 16.ª temporada.
Líder indiscutível dos Oklahoma City Thunder desde a saída de Kevin Durant, o base Russell Westbrook entrou numa dimensão que poucos julgavam possível nesta era: acabou as últimas duas épocas com médias de triplo-duplo. Ou seja, conseguiu médias de dois dígitos em três categorias diferentes: pontos, ressaltos e assistências. Antes dele, só Oscar Robertson o tinha conseguido, em 1961-62. Mas nunca ninguém o tinha repetido, até Westbrook o fazer, na época passada. Agora, conseguirá o base dos Thunder uma terceira façanha consecutiva? Mas, para já, há uma interrogação maior a sobrepor-se: como irá recuperar da cirurgia ao joelho efetuada na pré-época?
Entre o cenário idílico que parecem viver os Warriors, um fator de preocupação vislumbra-se no horizonte. Kevin Durant termina o contrato no final da temporada e não deu ainda quaisquer indicações sobre a sua vontade em continuar ou não na equipa para lá dessa data. Durant, que resolveu deixar os Oklahoma Thunder para se juntar a Stephen Curry e companhia no verão de 2016 - após a final perdida pelos Warriors para os Cavaliers de LeBron James -, foi peça fulcral nos últimos dois títulos da equipa de Steve Kerr, tendo mesmo sido eleito o MVP das duas Finais. Mas já com esse objetivo cumprido e a possibilidade de assinar um contrato máximo no próximo verão, a possibilidade de este ser o último ano nos Warriors é um fantasma que vai crescendo.
Nos últimos anos, o fenómeno tornara-se tão evidente e tão intensificado em diversas equipas da liga que a NBA viu-se obrigada a tomar medidas. Falamos do tanking, que é basicamente o fenómeno de ver equipas que sabem não ter hipóteses de sucesso a tentar deliberadamente perder jogos para ter mais hipóteses de ficar com as primeiras escolhas dos draft seguinte. Em setembro do ano passado, a NBA anunciou planos para combater a proliferação do tanking e redefiniu as percentagens de hipóteses que as piores equipas têm em obter a primeira escolha do draft. Assim, em vez do último classificado na fase regular ter 25% de chances de ficar com o melhor rookie do ano seguinte, agora as três piores equipas têm igual percentagem, e bem menor: 14%. Vamos ver se o crime deixou de compensar.
Com LeBron James em Los Angeles, numa equipa ainda em construção, a ter de chamar a si, muito provavelmente, a decisão de várias partidas, o 23 dos Lakers será naturalmente um dos mais sérios candidatos ao troféu de melhor jogador da temporada, com uma subida prevista dos seus dados estatísticos. Mas James Harden, dos Houston Rockets, tem o título a defender, e Russell Westbrook, que venceu no ano anterior, também está sempre na linha da frente ao prémio, desde que recuperado da intervenção cirúrgica ao joelho. Kyrie Irving, Joel Embiid, Anthony Davis e o sensacional rookie dos Jazz na temporada passada, Donovan Mitchell, são outros nomes a considerar.
Feche-se o ciclo como se começou. Com LeBron James. Não se trata aqui da velha discussão sobre quem é o melhor jogador de sempre, mas James pode acrescentar nesta época mais um pequeno troféu na sua comparação histórica com o ex-jogador dos Chicago Bulls. Se mantiver a média de pontos que apresenta ao longo da carreira, Lebron, atualmente o sétimo melhor marcador de sempre na NBA, vai ultrapassar nesta época o total de carreira de Michael Jordan, quarto melhor anotador da história com 32 292 pontos marcados. LeBron entra para a sua 16.ª época com 31 038 e precisa de apenas 1255 para ultrapassar "Sua Alteza". Atendendo a que nunca marcou menos do que 1654 numa temporada até agora, e se nenhuma lesão o afetar, parece que essa vai ser uma marca da sua primeira época como o 23 dos Lakers. No pódio dos melhores marcadores da NBA estão depois Kobe Bryant (33 643), Karl Malone (36 928) e o líder absoluto Kareem Abdul-Jabbar (38 387).