Menos violência contra as mulheres, mais ação
A pandemia agravou as situações de extrema pobreza, de discriminação e violência contra as mulheres, em Portugal e um pouco por todo o mundo. Os números têm sido crescentes. À beira da quinta vaga de covid-19 - que segundo alguns epidemiologistas já terá chegado mesmo ao nosso território, ao ponto de alguns membros do governo admitirem a necessidade de voltar ao regime de teletrabalho -, teme-se um novo agravar da situação.
Como escrevia este jornal em janeiro, se no primeiro trimestre de 2020 houve uma diminuição de 9,1% nas participações à PSP e à GNR por violência doméstica, em relação a 2019, por outro lado, deu-se um aumento de 29,5% no total das medidas de coação de afastamento do agressor, de 38,8% nas medidas de coação de afastamento com vigilância eletrónica e de 33,4% nas pessoas abrangidas por teleassistência no âmbito do crime de violência doméstica. No segundo trimestre, os mesmos indicadores registaram um acréscimo de 29,5%, 39,2% e 30,1%. No terceiro trimestre, voltaram a crescer: 26%, 29,17% e 44%, respetivamente. No ano passado, até setembro, também o número de reclusos em prisão preventiva e efetiva por violência doméstica tinha aumentado. Com a situação pandémica a piorar, o cenário pode repetir-se neste inverno. Justifica-se, assim, voltar a levantar a questão que o DN avançou no início do ano: o confinamento é "uma lua-de-mel para os agressores"? Sim, é, dizem as instituições de apoio e as vítimas. E Portugal não pode fingir que este drama não existe. Pelo contrário, é real e deve envergonhar-nos enquanto Estado de direito.
Pelas razões e pelos números aqui recordados, é muito oportuno o evento que hoje e amanhã acontece na Reitoria da Universidade Nova de Lisboa. Ali realiza-se, a partir das 09h00, o Primeiro Fórum Portugal Contra a Violência. Em análise e debate estarão temas como a proteção das vítimas, os gabinetes de apoio à vítima nos departamentos de investigação e ação penal, a capacitação para intervir, o plano anual sobre a violência contra as mulheres e a violência doméstica, sem esquecer as crianças e os jovens, alvos inocentes tantas vezes esquecidos.
Face aos desafios impostos pela covid-19, urge ampliar os apoios. Trazer a palco temas como estes é o primeiro sinal de não esquecimento. Bem haja à organização.
Uma nota final para dar os parabéns a uma mulher portuguesa e pioneira: Isabel Capeloa Gil, reitora da Universidade Católica Portuguesa (e cronista habitual no DN), será agraciada amanhã, com o título de doutora honoris causa pelo Institut Catholique de Paris (ICP). Será a primeira mulher a receber a distinção por esta universidade. O Institut Catholique de Paris foi fundado em 1875 e é uma das mais prestigiadas universidades francesas. Conhecido como "La Catho", tem entre os honoris causa Amartya Sen, René Girard e Jacques Delors. Isabel Capeloa Gil é reitora da UCP desde 2016 e presidente da Federação Internacional das Universidades Católicas desde 2018. Em 2019 recebeu o título de doutora honoris causa pelo Boston College, nos Estados Unidos.