Quem quer ser o próximo primeiro-ministro britânico?

Caso avance a moção de censura dentro do Partido Conservador e Theresa May perca, também terá de deixar o número 10 de Downing Street.
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A primeira-ministra britânica, Theresa May, enfrenta uma rebelião dentro do Partido Conservador, tendo sido dado início ao processo que poderá culminar numa moção de censura à sua liderança. Se perder, é também obrigada a deixar a chefia do governo britânico.

Mais de 20 cartas de deputados conservadores a dizer que já não confiam em May já terão chegado ao responsável pelo Comité 1922 (formado pelos membros do grupo parlamentar conservador que não têm cargos no governo). Com 58, será desencadeada a moção de censura. Basta então uma maioria simples de deputados (ou seja, 158 votos, visto os tories serem atualmente 315 no Parlamento britânico).

Caso May perca, há uma série de nomes que se repetem como eventuais sucessores na liderança do Partido Conservador e, consequentemente, do governo britânico.

Jacob Rees-Mogg, o líder dos eurocéticos

Um "milionário extravagante que cultiva a imagem de um cavalheiro inglês de tempos passados". É desta forma que a Reuters descreve Rees-Mogg, que se tornou um dos rostos de um Brexit mais radical do que aquele que May está a propor.

Rees-Mogg, de 49 anos, é deputado desde 2010 e líder do influente grupo de deputados eurocéticos (o European Research Group). Foi ele que deixou May a fazer contas aos apoios, ao anunciar publicamente que tinha enviado uma carta a anunciar que tinha perdido a confiança na líder do partido (com 58 cartas com o mesmo teor, desencadeia-se automaticamente uma moção de censura).

Mas Rees-Mogg recusou a ideia de que estaria à espreita para eventualmente suceder a May. Questionado diretamente sobre o tema, disse que não iria pôr o seu nome na corrida. Em vez disso, lembrou que o partido está "cheio de talentos" perfeitamente capazes de "conseguir um verdadeiro Brexit". E mencionou alguns: Boris Johnson, David Davis, Dominic Raab, Esther McVey ou Penny Mordaunt.

Boris Johnson, o eterno candidato

O ex-chefe da diplomacia britânica e antigo presidente da Câmara de Londres foi um dos rostos da campanha pelo Brexit e há muito que é apontado para a liderança do Partido Conservador.

Em 2006, após o referendo e a decisão de David Cameron de se afastar, o seu nome era um dos mais falados. Mas Johnson recuou no dia em que deveria apresentar a candidatura, depois de uma aparente facada nas costas do aliado da campanha para a saída da União Europeia. Michael Gove, atual ministro do Ambiente, antecipou-se e anunciou a sua própria candidatura.

Johnson, de 54 anos, acabaria por ser convidado por May para a chefia da diplomacia, apesar de ser um dos seus maiores críticos em relação ao Brexit. Demitiu-se em julho, em protesto pela forma como a primeira-ministra estava a empreender as negociações, depois de esta ter apresentado o plano de Chequers.

Na última conferência dos tories, em outubro, Johnson revelou a sua visão para o partido - num discurso para o qual alguns militantes fizeram filas durante horas. Apelou ao regresso aos valores tradicionais do partido para combater a "cabala de marxistas antiquados, admiradores de Hugo Chávez e defensores do Kremlin" que estão à frente do Labour de chegar ao poder no Reino Unido.

Boris Johnson criticou o acordo de Brexit, pedindo ao governo que o bloqueasse (o que não aconteceu) e desde então tem estado em silêncio.

David Davis, à terceira é de vez?

O ex-ministro do Brexit deixou o governo de May na mesma altura que Boris Johnson, após a primeira-ministra apresentar o plano de Chequers.

David Davis, de 69 anos, já foi candidato à liderança dos tories em duas ocasiões: em 2001 ficou pela segunda votação entre os deputados do partido (se há vários candidatos, vão sendo eliminados em sucessivas votações entre os deputados conservadores); já em 2005, perdeu para David Cameron (que viria a tornar-se primeiro-ministro) na votação dos militantes, tendo chegado a ganhar o primeiro voto entre os deputados conservadores.

Será que à terceira é de vez? O nome de Davis, um eurocético, surge várias vezes referenciado como possível líder interino.

Dominic Raab, o outro ministro do Brexit

Após a saída de David Davis do governo, foi Dominic Raab que ficou com a pasta do Brexit. Um cargo que ocupou menos de cinco meses, tendo-se demitido após May ter visto o seu governo aprovar o plano de Brexit que negociou com a União Europeia. O seu substituto, foi ontem anunciado, é Steve Barclay.

Raab considera que o acordo não cumpre as promessas que o Partido Conservador fez nas eleições de 2017 e foi por isso que se demitiu. Apesar de só ter sido ministro durante cinco meses, tem estado em cargos menores no governo desde que foi eleito deputado, em 2010.

Raab, de 44 anos, fez campanha pelo Brexit no referendo.

Esther McVey, a ministra contra May

A apresentação do plano de Brexit levou a outra demissão: a da ministra do Trabalho e das Pensões, Esther McVey.

Na carta de demissão, disse considerar que o acordo do Brexit não honra o resultado do referendo de 2016. "Passámos de nenhum acordo é melhor do que um mau acordo para qualquer acordo é melhor do que nenhum acordo", indicou, alegando que não é capaz de defender nem votar a favor desse plano.

McVey, de 51 anos, foi uma das que recusaram apoiar o plano de Chequers de May. E terá sido precisamente uma das ministras que recusaram apoiar o plano de May no Conselho de Ministros no qual o executivo deu luz verde à proposta. No dia seguinte, demitiu-se.

Penny Mordaunt, a crítica ao lado de May

É uma das ministras pró-Brexit que resta no governo de Theresa May, apesar de constantes notícias de que poderia ser a próxima a sair. Penny Mordaunt está à frente da pasta do Desenvolvimento Internacional, que acumula com a pasta da Mulher e da Igualdade.

O nome de Mordaunt, de 45 anos, já se fala há mais de um ano para uma eventual sucessão a May.

Outros nomes

Depois de ter chegado com Theresa May ao final da corrida para substituir David Cameron, em 2016, Andrea Leadsom optou por abandonar a candidatura, em vez de enfrentar May. A atual responsável por organizar os trabalhos do governo dentro do Parlamento poderia voltar a tentar ser eleita.

Há outros nomes que também surgem na eventual lista à liderança dos tories. Um deles é Michael Gove, atual ministro do Ambiente, que tentou ser eleito em 2006 (estragando os planos a Boris Johnson). Continua no governo de May.

Também se fala de Jeremy Hunt, que substitui Johnson na chefia da diplomacia britânica, depois de seis anos como ministro da Saúde. Votou para ficar na União Europeia. O mesmo fez Sajid Javid, ex-banqueiro de ascendência paquistanesa que já ocupou vários cargos no governo. Atualmente é ministro do Interior.

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