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Habitação, transportes, mobilidade, ação social, criação de riqueza. Os problemas de uma cidade vão muito além da própria cidade e só podem ser resolvidos criando elos de ligação de maior ou menor proximidade, envolvendo os cidadãos e comprometendo todos no caminho para soluções que nos melhorem a vida. É, por isso, um excelente sinal o que os autarcas de Lisboa, Oeiras e Cascais dão ao juntarem-se para criar planos conjuntos, desenhar uma visão de longo prazo para melhorar os municípios que gerem e as condições de perto de um milhão de habitantes que governam. Olhar além dos quatro anos do seu mandato e garantir que deixam as cidades em condições de evoluir.

Não só se propõem abrir caminhos de continuidade entre os municípios, de forma que se tornem mais ricos, complementares, mais abertos e amigos daqueles que lá vivem, como querem levar ao governo propostas de proximidade em áreas muito concretas - e sempre problemáticas -, abrir caminhos de futuro que respondam aos desafios atuais, do ambiente à mobilidade, passando pela qualidade de vida. Em resumo, melhorar o que podem e ajudar quem decide as políticas centrais com o olhar de quem vive os problemas e ouve as reivindicações e desejos em primeira mão.

Se for bem feito, o trabalho de aproximação de Moedas, Isaltino e Carreiras pode cumprir muito mais do que solucionar problemas antigos, como a necessidade de criar habitação para a classe média poder voltar a viver na cidade ou a urgência de reduzir substancialmente os 500 mil carros que todos os dias entram em Lisboa. Será capaz de gerar um movimento de atração de negócios, de potenciar o turismo de qualidade, de captar valor acrescentado com potencial de multiplicação da riqueza muito para além das fronteiras das três cidades, num momento em que a ameaça de uma crise sem precedentes se torna cada vez mais presente. E poderá tornar-se um exemplo a seguir por outras autarquias, para novas coordenações de esforços destas com as demais cidades vizinhas e até rumo a uma nova forma de atuação do poder central, menos focada no confronto e mais dedicada aos acordos que visem melhorias de longo prazo.

Quem ouviu o que Carlos Moedas partilhou com Richard Quest só pode ficar animado com os seus planos para a cidade - que vão muito além de rasgar ciclovias que se esburacam debaixo das rodas de meia dúzia de utilizadores diários, muitos deles entregadores de comida ao domicílio e entusiastas de uma cidade sem velhos, sem doentes, sem famílias que não resolvam a logística diária sobre duas rodas.

Inovar, criar empregos adaptados à nova economia, levar pela mão os mais frágeis assegurando-lhes cuidados, dignidade e habitação, aproximar a cidade dos que nela trabalham, atrair negócio, alimentar a oferta cultural e diversificar atividades sem descurar o turismo, mas abrindo Lisboa à revolução digital, tornando-a num hub tecnológico e, de caminho, atraindo mais jovens a um país terrivelmente envelhecido e sem planos para inverter a desgraça demográfica.

Cabe-nos a nós zelar para que cumpra a promessa, mas também ajudar na medida em que podemos fazê-lo, seja pelo escrutínio do que se cumpre, seja pela responsabilização de quem se atravessa no caminho para impedir o progresso.

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