1,8 milhões de portugueses terão de mudar de emprego até 2030

A transformação digital vai levar à perda de 1,1 milhões de trabalhos na indústria e no comércio e criar entre 600 mil a 1,1 milhões nas áreas da saúde e das profissões técnicas, diz estudo da CIP, que defende uma "aposta séria" na reconversão profissional de adultos.
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Qualquer coisa como 1,8 milhões de trabalhadores portugueses vão precisar de melhorar as suas competências ou de mudar de emprego até 2030. Em causa está a transformação digital da economia nacional. De acordo com um estudo da CIP, que hoje é apresentado em Lisboa, a intensificação da automação poderá levar à perda de 1,1 milhões de empregos, em setores como a indústria transformadora e o comércio, mas, em contrapartida, novas ocupações irão surgir em áreas como a saúde, assistência social, ciência, profissões técnicas e construção.

O trabalho, realizado em parceria pelo McKinsey Global Institute e pela Nova School of Business and Economics, estima que serão entre 600 mil a 1,1 milhões os postos de trabalho gerados pelas novas oportunidades. António Saraiva, presidente da CIP, considera que, para isso, é fundamental que haja uma "aposta muito séria e tão rápida quanto possível" na formação de adultos e defende mesmo a criação de uma "verdadeira parceria público-privada" para abordar a questão.

O estudo, com o título "Automação e o futuro do trabalho em Portugal", pretende não só estimar o potencial impacto da automação da economia portuguesa, mas sobretudo "apontar os principais desafios que se colocam no processo de transição para o digital e os efeitos nas competências e salários dos trabalhadores", destaca a CIP - Confederação Empresarial de Portugal. Entidade que se assume como "leitora atenta da sociedade", que tem a "responsabilidade", enquanto parceira do Estado, de "antecipar as transformações e participar com propostas e soluções", diz António Saraiva.

O trabalho, no qual foram analisadas 800 ocupações e 2000 tarefas desempenhadas em diversos setores de atividade, identificou 18 competências de base necessárias para o desempenho de qualquer posição, bem como a capacidade de automação de cada uma. E conclui que Portugal tem um "alto potencial" de automação, precisamente devido ao peso da indústria: metade do tempo de trabalho dos portugueses é hoje gasto com tarefas repetitivas que podem ser automatizadas com recurso a tecnologias já existentes.

Em 2030, esse tempo gasto com tarefas repetitivas terá já subido para 67%. De acordo com os autores do estudo, num cenário em que 26% deste total do tempo de trabalho será automatizado, com recurso a equipamentos robotizados, levará à perda dos tais 1,1 milhões de empregos. Se a taxa de automação for superior, este número pode aumentar.

E, por isso, a CIP estima que seja necessário melhorar a competência de 1,8 milhões de trabalhadores, sublinhando que a situação coloca "desafios significativos" que exigem um "papel ativo" tanto do governo como dos privados para a "reconversão" da força de trabalho. "Para que se minimizem os desafios decorrentes desta transição e para que se potenciem as imensas oportunidades, impõe-se uma avaliação de novas políticas públicas e um eficaz plano de requalificação da sociedade, num esforço conjunto entre setor público, empresas e instituições de educação e formação", defende a CIP.

"Não podemos estar, apenas, a preparar hoje os jovens para os desafios do futuro, temos, também, de requalificar e reconverter os atuais trabalhadores. É uma responsabilidade social de cada um de nós, que não pode ser esquecida, até porque é a própria sustentabilidade da Segurança Social que está, igualmente, em causa", defende António Saraiva, em declarações ao DN/Dinheiro Vivo. A CIP promete levar o tema à discussão em sede de concertação social, sugerindo medidas e iniciativas.

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