Alojamento local cresce cinco vezes mais do que a hotelaria

Dormidas em estabelecimentos de alojamento local subiram 15% em 2019, enquanto os hotéis registaram um aumento de 3%. Um valor que ainda assim está abaixo da realidade, defende a associação do setor, que está a trabalhar com o INE na revisão das estatísticas.

Num ano em que o turismo bateu todos os recordes em Portugal, o alojamento local (AL) não foi exceção. Os números da atividade turística de 2019, publicados nesta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), revelam que as dormidas neste tipo de estabelecimentos já representam mais de 14% do total de pernoitas de visitantes.

Pela primeira vez no ano passado, o número de dormidas em AL ultrapassou a fasquia dos dez milhões. O crescimento face ao ano anterior foi de 15%, cinco vezes mais do que o aumento de 3,1% registado na hotelaria tradicional.

A escalada do AL não fica só pelas dormidas. Também no capítulo dos proveitos totais a subida face a 2018 foi expressiva e superior à da hotelaria. Os proveitos do alojamento local aumentaram 20,6% em 2019, para mais de 377 milhões de euros. Na hotelaria tradicional, a subida foi de 6%, para 3,7 mil milhões de euros.

O balanço do INE ainda é provisório e só em março serão conhecidos os números finais. Além disso, estes valores escondem a verdadeira realidade do setor em Portugal, alerta Eduardo Miranda, presidente da Associação do Alojamento Local em Portugal (ALEP). Isto porque o INE contabiliza apenas os estabelecimentos de alojamento local com dez ou mais camas. O que, segundo Eduardo Miranda, representa apenas 20% do total de camas e cerca de 10% dos estabelecimentos de AL em Portugal. Só a partir do final deste ano, graças a uma parceria entre o INE, o Turismo de Portugal e a ALEP, passará a ser possível pintar o retrato fiel do setor.

"Os números do AL ainda estão a ser integrados nas estatísticas oficiais do INE, que hoje revelam apenas a ponta de um icebergue. Esse processo está atualmente numa fase intermédia e quando estiver concluído será fundamental para se conhecer o verdadeiro peso do AL no turismo. Vai ter um impacto grande nos números", antecipa Eduardo Miranda ao DV.

As últimas contas da ALEP, com base nas receitas da taxa turística, permitem vislumbrar o que aí vem. "No Porto o AL já representa cerca de dois terços das dormidas e em Lisboa ultrapassa os 50%", revela o responsável.

Para Eduardo Miranda, "os números significam que o AL se transformou no pilar do turismo" e são um sinal claro de que "a procura quer este tipo de oferta". Numa altura em que o setor se prepara para a entrada em vigor do agravamento da tributação dos imóveis situados em zonas de contenção, previsto no Orçamento do Estado, o responsável da ALEP sinaliza que "é preciso ter cuidado com as medidas que penalizam o AL, porque estamos a afetar uma fatia importante do turismo nacional".

Eduardo Miranda salienta ainda que o crescimento conjunto do AL e da hotelaria "é muito positivo", pois quer dizer que "o crescimento do turismo nos últimos três ou quatro anos não teria sido possível sem o AL, porque não haveria capacidade de oferta para tanta procura".

No final do ano passado, havia perto de 92 mil unidades de alojamento local registadas no Turismo de Portugal. Em 2019, o país recebeu 27 milhões de turistas, um máximo histórico. Contabilizaram-se no mesmo ano perto de 70 milhões de dormidas. Espanha, Reino Unido e França continuam a ser os principais mercados emissores de visitantes para Portugal.

Jornalista do Dinheiro Vivo

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