A poção de Ursula para puxar pela Europa
Ursula von der Leyen reforçou o seu papel como uma das grandes líderes da Europa, além de Angela Merkel, claro. No seu discurso sobre o estado da Europa, proferido ontem, traçou metas ambiciosas a atingir no combate à pandemia, no avanço da vacinação e enalteceu ainda a importância da criação de uma entidade europeia que irá trabalhar na prevenção e resposta a crises pandémicas futuras. A presidente da Comissão Europeia acredita que com a existência do certificado digital e o entendimento entre os Estados membros, tudo ficará mais fácil em termos de política de coordenação global da área da saúde para os anos vindouros.
Porém, o grande desafio para a Europa não está apenas em fazer perdurar o entendimento, mas, claro, nas gigantescas diferenças dos orçamentos que cada país europeu consegue alocar à área crucial da saúde. O discurso de Ursula tem a virtude de ser um alerta, um primeiro passo, uma tomada de consciência de que temos todos de trabalhar em conjunto. Quando os problemas são globais, as respostas têm de ser globais se querem ser bem sucedidas, e todos aprendemos isso ao longo do último ano e meio.
As diretrizes apresentadas por Ursula von der Leyen requerem que os 27 se alinhem. Resta saber como vão as nações implementar as medidas de que falou e superar esta crise sanitária e económica. Os pacotes financeiros que foram aplicados até agora ajudaram a superar a agonia, mas não bastam, é preciso um esforço maior para que o bloco europeu seja resiliente e enfrente os outros blocos comerciais como o americano e o asiático.
A crise do Afeganistão não foi esquecida pela líder europeia. A catástrofe humanitária está a forçar a Europa a tomar posição sobre temas como estes e a ter, uma vez mais, de se entender acerca do seu verdadeiro papel no mundo. O bloco tem mesmo de estar alinhado no tema das migrações, mas julgo que continua a faltar uma plataforma comum de debate e decisão sobre a maneira como a Europa se posiciona face a estes dramas globais.
A crise do Afeganistão acentua a urgência de respostas conjuntas, porque as consequências tocam a todos e não ficarão isoladas naquela região do globo. Uma política de defesa e segurança clara e estratégica ganha assim urgência maior na velha Europa.
Na economia a bazuca vem ajudar os 27 a sair do ventilador e Ursula está otimista. A Comissão Europeia antevê que 19 países da União vão atingir valores pré-pandemia ainda este ano. A presidente afiança que diferenças face à última crise são "marcantes". Se em 2008 foram precisos oito anos para que o PIB da zona euro recuperasse, desta vez, espera-se que até 2022 todos os Estados membros se reergam". Boas notícias para reenergizar a rentrée.
Uma nota final para dar os parabéns a André Carrilho, ilustrador no Diário de Notícias, vencedor do Prémio Nacional de Ilustração, na sua 25.ª edição, com a obra A menina com os olhos ocupados.