Dois israelitas ficaram feridos na sequência do lançamento de um par de mísseis oriundos da Faixa de Gaza no mesmo dia em que Telavive assinou com duas monarquias árabes, Emirados Árabes Unidos e Bahrein, um acordo de estabelecimento de relações. Segundo o exército israelita, um dos projéteis foi intercetado pelo sistema de defesa. O segundo caiu na cidade de Ashdod, situada entre Gaza e Telavive. Um aviso com a assinatura do movimento islâmico Hamas, que controla aquele território, de que a paz de Israel com os vizinhos terá necessariamente de incluir os palestinianos..O teor dos Acordos de Abraão (patriarca das três principais religiões monoteístas do mundo) só foi conhecido horas mais tarde e menciona apenas "a continuação de iniciativas para alcançar uma justa, abrangente e duradoura resolução do conflito israelo-palestiniano", deixando uma grande margem de manobra, ao contrário do que os países do Golfo haviam referido, que Israel aceitara "terminar com a anexação de territórios palestinianos"..Israel é trunfo para Trump a sete semanas das eleições.Para já, não é essa a prioridade do governo de coligação liderado por Benjamin Netanyahu e que tem na administração Trump mais do que um aliado. Isso mesmo lembrou o líder da oposição israelita. "Devemos seguir em frente e discutir com os palestinianos no quadro da solução de dois Estados. Mas este governo não tem intenção de negociar com os palestinianos porque para Netanyahu é um perigo político, e com os problemas legais [julgamento por corrupção] que enfrenta precisa da base eleitoral que se opõe a qualquer acordo com os palestinianos", disse Yair Lapid em entrevista à AFP..Na cerimónia decorrida na Casa Branca, Donald Trump afirmou: "Durante gerações as pessoas do Médio Oriente têm sido prejudicadas por conflitos, hostilidades, mentiras, traições. Estes acordos provam que os países da região estão a libertar-se das falhadas abordagens do passado." De seguida disse que outros "cinco ou seis" países se seguirão a Emirados e Bahrein..Anteriormente, entre as nações do Médio Oriente, apenas Egito e Jordânia reconheciam Israel..Quais os países mais próximos em seguir o trilho do reconhecimento mútuo e porquê?.Comecemos pelo nosso quase vizinho, cuja capital Rabat está a uma distância em linha reta semelhante a Madrid. Há um mês, no seguimento do anúncio da normalização das relações entre Dubai e Telavive, o Washington Post ouviu de funcionários do Departamento do Estado que seguir-se-iam Bahrein (como acabou por acontecer), Omã e Marrocos..As relações não oficiais entre Israel e Marrocos remontam a 1960, tendo o pai de Mahomed VI, Hassan II, desempenhado um papel ativo no estabelecimento de relações entre Egito e Israel e da visita histórica de Anwar Sadat a Israel em 1977. Nos anos 80 e 90 dirigentes israelitas encontraram-se com Hassan II, mas a segunda Intifada, a revolta palestiniana de 2000, deitou quase tudo a perder..Marrocos, que tem uma importante comunidade judaica, estará interessado em juntar-se ao grupo de países que reconhecem Israel, até porque poderá receber em troca um importante prémio: o reconhecimento por parte de Washington e de Telavive das suas ambições territoriais relativas ao Sara Ocidental..Em 2019, um encontro entre o rei de Marrocos Mohamed VI e o secretário de Estado norte-americano Mike Pompeo foi cancelado no último momento. Segundo foi noticiado então, a reunião incluía Netanyahu, que se encontraram horas antes em Lisboa..O sultanato de Omã, vizinho a sul dos Emirados na Península Arábica, tem desempenhado um papel de intermediário diplomático. Por exemplo, consegue manter boas relações com o Irão e com os Estados Unidos e é visto como um membro fundamental do Conselho de Cooperação do Golfo..Noutro exemplo da sua atividade diplomática, o país recebeu várias reuniões que conduziram ao acordo nuclear entre o Irão e a comunidade internacional (entretanto rasgado por Trump). No entender de Omã, não ter relações diplomáticas com Israel apenas dificulta a sua capacidade de mediação, pelo que normalizar as relações com Israel é um passo lógico..Em outubro de 2018, Netanyahu visitou a capital Mascate e foi recebido pelo sultão Qaboos. No final da visita, quando foi divulgada, o então ministro dos Negócios Estrangeiros Yusuf bin Alawi declarou Israel "um Estado aceite do Médio Oriente". Desde então, houve várias declarações de funcionários de Omã que apontavam no sentido de normalizar as relações..No entanto, o novo sultão, Haitham bin Tariq Al Said, está no poder desde janeiro, pelo que há quem ache improvável que tome quaisquer medidas ousadas nos primeiros meses no poder..Quando se soube da normalização das relações entre Israel e Omã, Mascate saudou o acordo, mas disse estar empenhado "nos direitos legítimos do povo palestiniano que aspira a ter um Estado independente" com Jerusalém Oriental como sua capital..Após a destituição do presidente Omar al-Bashir em fevereiro de 2019, que aguarda julgamento, o novo governo sudanês liderado por Abdel Fattah al-Burhan deixou a órbita do Irão, Turquia e Irmandade Muçulmana e rumou para a órbita do Egito, dos Emirados, e, em menor medida, da Arábia Saudita..Exemplo claro dessa mudança foi a anulação do acordo com Ancara que previa o estabelecimento de uma base militar turca numa ilha em Suaquém, cidade portuária no mar Vermelho..Com o Sudão mais próximo de países alinhados contra o Irão e mais próximos de Israel, Netanyahu encontrou-se com o novo líder do Sudão em fevereiro, no Uganda, com o objetivo de normalizar as relações..Na realidade, sudaneses e israelitas já tinham começado a preparar terreno ainda no tempo de Bashir, pelo menos em 2016..Para Cartum é de vital importância ter parceiros com boas relações em Washington: os sudaneses desesperam para que o país seja retirado da lista de patrocinadores estatais do terrorismo do Departamento de Estado dos EUA e, em consequência, deixar de sofrer as sanções correspondentes..Além do mais, o novo governo do Sudão mostra-se hostil aos grupos islamistas, incluindo a Irmandade Muçulmana, facto a ter em conta quer em Telavive quer em Washington..Dois países em lados opostos da barricada, cada qual com as suas razões para reconhecer Israel, mas que seria surpreendente se avançassem agora com esse gesto. Como o rei Salman foi o proponente da Iniciativa de Paz Árabe em 2002, a qual propunha a normalização das relações dos países árabes em troca da retirada dos territórios ocupados por Israel desde 1967 na Palestina, bem como na Síria (montes Golã) e Líbano (Shebaa), e toda a política oficial foi realizada nesse quadro, não é de esperar que haja uma mudança em vida do rei. O seu herdeiro, Mohammed bin Salman, apontam os analistas, poderá ser o protagonista da viragem política..À Arábia Saudita interessa, como ao Bahrein (este com uma oposição ao regime pró-iraniana) e Emirados fazer frente à teocracia xiita que com a guerra na Síria tentou ligar Damasco a Teerão com Beirute e Bagdade pelo caminho. A Israel, ter relações com a principal potência regional do Golfo e que goza do prestígio entre o mundo muçulmano devido a Meca e Medina, é um troféu diplomático de monta, para lá do desanuviamento que poderia conduzir..A ambos também interessa contrapor a cada vez maior influência do regime de Recep Tayyip Erdogan no mundo islâmico, e em especial na Palestina..O Qatar será o país com maiores ambiguidades nas suas relações internacionais, e não só em relação a Israel. Ambos os países viram nascer uma relação após a Guerra do Golfo que culminou com a inauguração de uma representação comercial em Doha em 1996..No entanto, o pequeno país começou a entrar em várias partidas de xadrez geopolítico, ora a promover discussões de paz com Israel, ora patrocinando Gaza, o Hamas, a Irmandade Muçulmana e outras organizações islamistas..Após a crise de 2017, que isolou o Qatar do mundo árabe (ficaram com o apoio da Turquia, que estacionou tropas, e do Irão), o regime tentou fomentar laços com Israel para tentar chegar a Washington..O emir do Qatar, Tamim bin Hamad al-Thani, pode dar esse passo para obter o degelo com o resto do mundo árabe e aproximar-se dos Estados Unidos. Resta saber o grau de influência de Ancara e Teerão.
Dois israelitas ficaram feridos na sequência do lançamento de um par de mísseis oriundos da Faixa de Gaza no mesmo dia em que Telavive assinou com duas monarquias árabes, Emirados Árabes Unidos e Bahrein, um acordo de estabelecimento de relações. Segundo o exército israelita, um dos projéteis foi intercetado pelo sistema de defesa. O segundo caiu na cidade de Ashdod, situada entre Gaza e Telavive. Um aviso com a assinatura do movimento islâmico Hamas, que controla aquele território, de que a paz de Israel com os vizinhos terá necessariamente de incluir os palestinianos..O teor dos Acordos de Abraão (patriarca das três principais religiões monoteístas do mundo) só foi conhecido horas mais tarde e menciona apenas "a continuação de iniciativas para alcançar uma justa, abrangente e duradoura resolução do conflito israelo-palestiniano", deixando uma grande margem de manobra, ao contrário do que os países do Golfo haviam referido, que Israel aceitara "terminar com a anexação de territórios palestinianos"..Israel é trunfo para Trump a sete semanas das eleições.Para já, não é essa a prioridade do governo de coligação liderado por Benjamin Netanyahu e que tem na administração Trump mais do que um aliado. Isso mesmo lembrou o líder da oposição israelita. "Devemos seguir em frente e discutir com os palestinianos no quadro da solução de dois Estados. Mas este governo não tem intenção de negociar com os palestinianos porque para Netanyahu é um perigo político, e com os problemas legais [julgamento por corrupção] que enfrenta precisa da base eleitoral que se opõe a qualquer acordo com os palestinianos", disse Yair Lapid em entrevista à AFP..Na cerimónia decorrida na Casa Branca, Donald Trump afirmou: "Durante gerações as pessoas do Médio Oriente têm sido prejudicadas por conflitos, hostilidades, mentiras, traições. Estes acordos provam que os países da região estão a libertar-se das falhadas abordagens do passado." De seguida disse que outros "cinco ou seis" países se seguirão a Emirados e Bahrein..Anteriormente, entre as nações do Médio Oriente, apenas Egito e Jordânia reconheciam Israel..Quais os países mais próximos em seguir o trilho do reconhecimento mútuo e porquê?.Comecemos pelo nosso quase vizinho, cuja capital Rabat está a uma distância em linha reta semelhante a Madrid. Há um mês, no seguimento do anúncio da normalização das relações entre Dubai e Telavive, o Washington Post ouviu de funcionários do Departamento do Estado que seguir-se-iam Bahrein (como acabou por acontecer), Omã e Marrocos..As relações não oficiais entre Israel e Marrocos remontam a 1960, tendo o pai de Mahomed VI, Hassan II, desempenhado um papel ativo no estabelecimento de relações entre Egito e Israel e da visita histórica de Anwar Sadat a Israel em 1977. Nos anos 80 e 90 dirigentes israelitas encontraram-se com Hassan II, mas a segunda Intifada, a revolta palestiniana de 2000, deitou quase tudo a perder..Marrocos, que tem uma importante comunidade judaica, estará interessado em juntar-se ao grupo de países que reconhecem Israel, até porque poderá receber em troca um importante prémio: o reconhecimento por parte de Washington e de Telavive das suas ambições territoriais relativas ao Sara Ocidental..Em 2019, um encontro entre o rei de Marrocos Mohamed VI e o secretário de Estado norte-americano Mike Pompeo foi cancelado no último momento. Segundo foi noticiado então, a reunião incluía Netanyahu, que se encontraram horas antes em Lisboa..O sultanato de Omã, vizinho a sul dos Emirados na Península Arábica, tem desempenhado um papel de intermediário diplomático. Por exemplo, consegue manter boas relações com o Irão e com os Estados Unidos e é visto como um membro fundamental do Conselho de Cooperação do Golfo..Noutro exemplo da sua atividade diplomática, o país recebeu várias reuniões que conduziram ao acordo nuclear entre o Irão e a comunidade internacional (entretanto rasgado por Trump). No entender de Omã, não ter relações diplomáticas com Israel apenas dificulta a sua capacidade de mediação, pelo que normalizar as relações com Israel é um passo lógico..Em outubro de 2018, Netanyahu visitou a capital Mascate e foi recebido pelo sultão Qaboos. No final da visita, quando foi divulgada, o então ministro dos Negócios Estrangeiros Yusuf bin Alawi declarou Israel "um Estado aceite do Médio Oriente". Desde então, houve várias declarações de funcionários de Omã que apontavam no sentido de normalizar as relações..No entanto, o novo sultão, Haitham bin Tariq Al Said, está no poder desde janeiro, pelo que há quem ache improvável que tome quaisquer medidas ousadas nos primeiros meses no poder..Quando se soube da normalização das relações entre Israel e Omã, Mascate saudou o acordo, mas disse estar empenhado "nos direitos legítimos do povo palestiniano que aspira a ter um Estado independente" com Jerusalém Oriental como sua capital..Após a destituição do presidente Omar al-Bashir em fevereiro de 2019, que aguarda julgamento, o novo governo sudanês liderado por Abdel Fattah al-Burhan deixou a órbita do Irão, Turquia e Irmandade Muçulmana e rumou para a órbita do Egito, dos Emirados, e, em menor medida, da Arábia Saudita..Exemplo claro dessa mudança foi a anulação do acordo com Ancara que previa o estabelecimento de uma base militar turca numa ilha em Suaquém, cidade portuária no mar Vermelho..Com o Sudão mais próximo de países alinhados contra o Irão e mais próximos de Israel, Netanyahu encontrou-se com o novo líder do Sudão em fevereiro, no Uganda, com o objetivo de normalizar as relações..Na realidade, sudaneses e israelitas já tinham começado a preparar terreno ainda no tempo de Bashir, pelo menos em 2016..Para Cartum é de vital importância ter parceiros com boas relações em Washington: os sudaneses desesperam para que o país seja retirado da lista de patrocinadores estatais do terrorismo do Departamento de Estado dos EUA e, em consequência, deixar de sofrer as sanções correspondentes..Além do mais, o novo governo do Sudão mostra-se hostil aos grupos islamistas, incluindo a Irmandade Muçulmana, facto a ter em conta quer em Telavive quer em Washington..Dois países em lados opostos da barricada, cada qual com as suas razões para reconhecer Israel, mas que seria surpreendente se avançassem agora com esse gesto. Como o rei Salman foi o proponente da Iniciativa de Paz Árabe em 2002, a qual propunha a normalização das relações dos países árabes em troca da retirada dos territórios ocupados por Israel desde 1967 na Palestina, bem como na Síria (montes Golã) e Líbano (Shebaa), e toda a política oficial foi realizada nesse quadro, não é de esperar que haja uma mudança em vida do rei. O seu herdeiro, Mohammed bin Salman, apontam os analistas, poderá ser o protagonista da viragem política..À Arábia Saudita interessa, como ao Bahrein (este com uma oposição ao regime pró-iraniana) e Emirados fazer frente à teocracia xiita que com a guerra na Síria tentou ligar Damasco a Teerão com Beirute e Bagdade pelo caminho. A Israel, ter relações com a principal potência regional do Golfo e que goza do prestígio entre o mundo muçulmano devido a Meca e Medina, é um troféu diplomático de monta, para lá do desanuviamento que poderia conduzir..A ambos também interessa contrapor a cada vez maior influência do regime de Recep Tayyip Erdogan no mundo islâmico, e em especial na Palestina..O Qatar será o país com maiores ambiguidades nas suas relações internacionais, e não só em relação a Israel. Ambos os países viram nascer uma relação após a Guerra do Golfo que culminou com a inauguração de uma representação comercial em Doha em 1996..No entanto, o pequeno país começou a entrar em várias partidas de xadrez geopolítico, ora a promover discussões de paz com Israel, ora patrocinando Gaza, o Hamas, a Irmandade Muçulmana e outras organizações islamistas..Após a crise de 2017, que isolou o Qatar do mundo árabe (ficaram com o apoio da Turquia, que estacionou tropas, e do Irão), o regime tentou fomentar laços com Israel para tentar chegar a Washington..O emir do Qatar, Tamim bin Hamad al-Thani, pode dar esse passo para obter o degelo com o resto do mundo árabe e aproximar-se dos Estados Unidos. Resta saber o grau de influência de Ancara e Teerão.