"Plano de Recuperação deve focar-se no valor acrescentado por trabalhador"
Presidente do Fórum para a Competitividade crê que recuperação do país dependerá da evolução nos nossos parceiros.

Ferraz da Costa, presidente do Fórum para a Competitividade
© Reinaldo Rodrigues/Global Imagens
Como vê o Plano de Recuperação e Resiliência aprovado para o país? Será capaz de responder aos desafios que a crise pandémica gerou?
O PRR é essencialmente uma proposta para financiar investimentos públicos não realizados nos últimos anos, por se ter dado prioridade à reposição de rendimentos, diminuição do horário de trabalho público para 35 horas e a admissão de novos funcionários. Contém também medidas de descarbonização e digitalização para responder à condicionalidade estabelecida pela Comissão Europeia. O PRR pode ser complementado com cerca de 11 mil milhões de euros, que não aplicámos no Quadro Comunitário anterior, e verbas de igual ou maior montante do próximo Quadro Comunitário. O governo tem mostrado a sua intenção de recorrer às subvenções comunitárias e muito pouco às possibilidades de empréstimo, o que nos parece uma atitude prudente de louvar tendo em conta o nosso elevado nível de endividamento.
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Mas a fatia de leão será aplicada através do Estado. Uma vez que o financiamento público atrai também financiamento privado, construiu-se a equação ao contrário? Devia haver mais ênfase nas empresas?
Não havendo indicação de racionalização de emprego no setor público, também não haverá aí desemprego. O desemprego concentrar-se-á no privado, e aí as necessidades de financiamento serão consideráveis se se quiser modernizar a economia para ter emprego melhor e mais bem remunerado.
As áreas de recuperação prioritárias estão bem identificadas?
O PRR ao referir objetivos transversais a todos os setores, e sendo pouco quantificado, torna difícil saber quais as opções prioritárias.
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Seria desejável que houvesse maior ênfase em setores como o turismo e lazer, ou antes na indústria?
A curto prazo, a recuperação no turismo pode trazer benefícios rápidos. até porque foi o setor que mais caiu. A médio e longo será a indústria e os serviços industrializados a concentrar as melhores opções para uma economia mais moderna.
Pode o Banco de Fomento materializar-se finalmente e ter um papel?
Prevejo que pouco tempo depois do regresso de D. Sebastião teremos o conselho de administração completo e que já se saiba se são as Finanças a mandar no banco.
Devia haver uma dependência entre a entrega dos fundos e a responsabilização sobre a sua execução - avaliando a execução de projetos e seus efeitos reais na economia?
O PRR não é quantificado e não se enunciaram os objetivos a atingir com a sua execução, o que torna impossível avaliar efeitos que não se quis prever. O objetivo tem de ser aumentar o valor acrescentado bruto por trabalhador, possibilitando melhores salários.
Será possível uma recuperação do país no segundo semestre do ano?
O BCE reviu em baixa os números do desempenho económico da União Europeia. Portugal exporta muito para os outros Estados membros, depende muito da situação económica de Espanha, França, Alemanha e Inglaterra. Os dois primeiros estão pior do que nós em termos de crescimento, a Alemanha dificilmente importará mais e a guerra político-económica gerada pelo Brexit prejudica-nos. Mas o turismo pode dar bons contributos.
Os apoios do Estado e as moratórias deviam ser prolongados?
Não temos elementos suficientes para emitir opinião sobre o tema.
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