Uma líder empoderada pela guerra
A Europa amanheceu com decisões, metas e muitos avisos à navegação da Presidente da Comissão Europeia. Num discurso de serenidade, mas duramente assertivo, Ursula Von der Leyen provou que a Europa unida tem, finalmente, uma liderança forte, sem medo das palavras e com uma estratégia. Falta passar da teoria à prática em várias áreas e de forma célere, mas o plano e as decisões orientadores para o futuro foram bem audíveis. Ursula parece agora ainda mais empoderada pela guerra. Vale a pena fazer marcha atrás, ou seja, carregue no botão do comando do seu televisor (ou consulte o site do Diário de Notícias), ande para trás, e ouça (ou leia) o discurso de Ursula Von der Leyen ontem em Estrasburgo, a propósito do Estado da União Europeia.
Von der Leyen alertou que as sanções a Moscovo estão para ficar, a diversificação e a transição energética não podem abrandar, a urgência climática mantém-se e, como tal, é preciso acelerar o mercado de hidrogénio e será criado um Banco Europeu de Hidrogénio de 3 mil milhões de euros para dinamizar investimentos nessa área. Mais há mais: a presidente da Comissão atirou-se aos proveitos das elétricas: "Não me interpretem mal. Na nossa economia social de mercado, os lucros são bons, mas, nestes tempos, é errado receber receitas e lucros extraordinários recordes, beneficiando da guerra e nas costas dos nossos consumidores, [pelo que], nestes tempos, os lucros devem ser partilhados e canalizados para aqueles que mais precisam", declarou. Na prática, afirmou que a ideia desta taxação aos lucros extraordinários seria obrigar os produtores de eletricidade a partir de combustíveis fósseis a darem uma contribuição para a crise, fazendo com que esta taxa possa somar verbas para apoios sociais.
Vestida com as cores da Ucrânia, Von der Leyen discursou perante a primeira-dama ucraniana, que marcou presença no Parlamento Europeu. Emocionou Olena Zelenska, a quem se dirigiu por diversas vezes e, com a mesma serenidade e assertividade, incendiou o mercado das elétricas. Salientou a importância de financiar a transição para uma economia digital e de emissões zero, sempre com sustentabilidade orçamental. E ainda avançou que em outubro serão "apresentadas novas ideias para a governação económica", deixando em aberto "uma melhor flexibilidade no caminho para a redução da dívida". Mas deixou o aviso final: "É preciso aprender com erros do passado". Flexibilidade sim, mas contas em dia precisam-se!
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Diretora do Diário de Notícias