Efeito facada, revolta de mulheres e vice problemáticos preocupam equipa de Bolsonaro
Deputado vai perder, no mínimo, toda a campanha da primeira volta. E sem poder sequer falar, deixa colaboradores à deriva. Na internet, seu reduto preferido, há protestos de 1,5 milhões no feminino.
O "efeito facada", que levou membros da cúpula da campanha do deputado Jair Bolsonaro (PSL) e até rivais a prognosticar importantes ganhos eleitorais para o presidenciável, está a revelar-se, afinal, uma fonte de problemas. Em primeiro lugar, porque a saúde deixa o capitão do Exército fora de combate por tempo indeterminado, depois porque o protagonismo que daí decorreu do seu vice-presidente Hamilton Mourão está a expor brechas na estrutura e, finalmente, porque grupos de eleitores específicos, como as mulheres, não dão tréguas ao candidato acamado.
Na madrugada de quinta-feira, Bolsonaro foi operado de urgência pela segunda vez, por complicações derivadas de uma facada sofrida num ataque durante comício em Juiz de Fora que lhe perfurou o intestino.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Antonio Macedo, o cirurgião chefe do Hospital Israelita Alberto Einstein, em São Paulo, afirmou que o candidato terá de ficar internado de dez a 15 dias, caso não ocorra nenhuma outra complicação, e ainda voltar a ser operado mais para a frente. E especialistas estimam uma recuperação plena em apenas quatro meses - ou seja, para lá da primeira e da segunda voltas eleitorais e até da tomada de posse, marcada para 1 de janeiro de 2019.
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"Temos a vitória na primeira volta como meta mas admitimos que sem ele estamos a jogar sem o "camisa 10" da equipa, nem eu, nem o [candidato o deputado federal e filho do presidenciável] Eduardo Bolsonaro, nem o [candidato a vice-presidente] general Hamilton Mourão temos a capacidade de levar milhares às ruas como é característica do Jair Bolsonaro", disse o deputado Major Olímpio (PSL), após visita ao hospital.
A maior preocupação da cúpula do PSL, que se multiplica em reuniões nos últimos dias, passa por tentar evitar uma eventual sensação de fragilidade física do candidato, que tem no vigor das suas intervenções uma das imagens de marca. Por outro lado, impedido até de falar na decorrência da segunda operação, vai deixando os principais colaboradores à deriva sobre os rumos da campanha. Um dos sinais dessa confusão partiu do próprio general Mourão: na quarta-feira, o seu partido, PRTB, consultou o Tribunal Superior Eleitoral para saber se poderia substituir Bolsonaro em debates e eventos de campanha, sem avisar o PSL.

Jair Bolsonaro ao ser esfaqueado em Juiz de Fora o dia 6.
© Reuters/Raysa Campos Leite
Confrontado com o incómodo do PSL, Mourão, que foi notícia por associar os indígenas a indolência e os negros a malandragem logo no início da campanha, pôs lenha na fogueira: "A decisão de eu participar ou não em debates tem de partir dele [Bolsonaro] e de mais ninguém." Há na candidatura quem defenda que a cadeira vazia nos debates reforça o papel de vítima junto ao eleitorado e há quem considere que essa ausência só o fragiliza.
Em paralelo, nas redes sociais, terreno onde Bolsonaro supera todos os concorrentes em visibilidade, surgiu um forte movimento contrário ao candidato. O Mulheres Unidas contra Bolsonaro reuniu 1,5 milhões de mulheres, com aumento de dez mil a cada minuto no primeiro dia.
"Destinado à união das mulheres de todo o Brasil contra o avanço e o fortalecimento do machismo, misoginia e outros tipos de preconceito representados pelo candidato Jair Bolsonaro e seus eleitores", de acordo com a descrição do Facebook, o grupo nasceu com a intenção de agregar os discursos de eleitoras indignadas com o presidenciável em relação aos direitos das mulheres. Mariana Patrício, membro do grupo, revelou ao DN que no dia 29 haverá manifestações dessas mulheres em 40 cidades do país.
Em paralelo, o período de "luto" pós-facada também já passou, de acordo com os rivais de Bolsonaro na corrida ao Planalto. Ciro Gomes (PDT) disse que "a facada atingiu a barriga e não a cabeça dele" e Álvaro Dias (Podemos) afirmou que é "contra bala e contra faca".

Jair Bolsonaro ao ser esfaqueado em Juiz de Fora o dia 6.
© Reuters/Raysa Campos Leite
Os problemas de Bolsonaro, no entanto, ainda não se refletem nas sondagens: nas quatro realizadas no início da semana, liderava em todas, com números que oscilavam entre os 30% e os 24%.