Governabilidade. O que ficou por dizer?

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A campanha para as eleições legislativas desenrola-se durante a segunda quinzena deste mês, ainda que tenhamos todos ficado com a sensação de que já aconteceu ao longo das dezenas de debates que se realizaram nos ecrãs televisivos. Esgrimiram-se argumentos, estratégicas e apontaram-se caminhos para Portugal no pós-2022. De uma coisa os portugueses têm hoje a certeza: é necessário um governo estável e durável. A hipótese de o país ser gerido com executivos provisórios ou eleições de dois em dois anos não só atrapalha como atrasa brutalmente a recuperação económica e social pós-pandémica.

Até aqui os debates não conseguiram esclarecer completamente os eleitores acerca das soluções possíveis de governabilidade, que poderão trazer a tão desejada estabilidade. Se no debate de quinta-feira, entre PS e PSD, António Costa disse estar disposto a negociar caso a caso e deixou aberta a porta ao PAN, pelos números que as sondagens (que conhecemos até quinta-feira) vão revelando poderá ser preciso mais quanto a alianças futuras. Não ouvimos o candidato do PS dizer se apoiará um governo minoritário do PSD, caso venha a ser o partido de Rui Rio e uma maioria de direita a formar um novo executivo. António Costa afirmou apenas que se demitirá se perder as eleições, contudo isso não dará um lugar automático a Pedro Nuno Santos no PS. Nem o país nem o partido são uma espécie de monarquia. Há todo um processo eleitoral interno que terá de decorrer no seio do Partido Socialista para a escolha de um novo líder para o Largo do Rato. E tanto pode ser um homem como uma mulher a tomar as rédeas do destino do partido. A futura chefia do PS não será favas contadas para ninguém.

Voltando ao grande debate entre PS e PSD, os dois potenciais primeiros-ministros estiveram bem, consistentes e preparados. Mas foram insuficientes as explicações de Rio acerca das soluções que defende quer para a saúde quer para a justiça; já António Costa teimou em mostrar para as câmaras, e por várias vezes, o Orçamento do Estado 2022, insistindo num documento que foi chumbado por todos (PAN absteve-se) no parlamento. Essa tática de comunicação desvalorizou a decisão tomada em plenário na casa da democracia, mesmo que o objetivo possa ter sido exibir o documento para lembrar aos eleitores que tem ali inscritas muitas promessas que poderão captar votos, desde o aumento do salário mínimo ao aumento de pensões.

Nesta campanha, António Costa e Rui Rio têm de dar tudo por tudo. Mas precisam de continuar a evidenciar as diferenças entre os dois numa linguagem mais simples e menos tecnocrata do que aquela que foi usada no debate televisivo, para que a mensagem chegue ao destinatário. E, como diz a regra da comunicação, "se a mensagem não chega ao recetor a culpa é sempre do emissor". Com palavras ou com sinais de fumo, é agora ou nunca.

PS - 3,3 milhões de espectadores viram o duelo Costa-Rio, o que o torna o debate mais visto da televisão portuguesa (em 2019 os dois foram vistos por 2,76 milhões). Afinal, os portugueses interessam-se por política. Espera-se que este recorde seja sinónimo de uma redução da abstenção.

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