Fundo americano avança para travar OPA dos chineses à EDP. Mexia responde a 12 de março
O dia 12 de março pode tornar-se o dia-chave no futuro da EDP. É nessa data que se espera uma resposta da elétrica à proposta apresentada nesta quinta-feira pelo fundo Elliott. A gestora liderada por Paul Singer divulgou ontem um plano alternativo ao da oferta pública de aquisição da China Three Gorges (CTG).
A Elliott considera que a EDP está subavaliada pelo mercado e que a oferta pública de aquisição (OPA) não é do melhor interesse dos acionistas. Defende que o preço oferecido pela empresa estatal chinesa, de 3,26 euros por ação, é "inaceitável" e que a CTG não está comprometida em resolver as preocupações regulatórias. Desde o início da oferta que os analistas apontavam que dificilmente a operação obteria luz verde dos reguladores europeu e americano.
As ações da EDP reagiram positivamente à iniciativa da Elliott. Dispararam em bolsa e chegaram a superar o valor oferecido pelos chineses da OPA lançada em maio de 2018. Os títulos estiveram a valorizar 2,9%, para 3,274 euros. Encerraram a sessão a subir 2,45%, para 3,26 euros.
Na resposta, a elétrica liderada por António Mexia referiu: "Agradecemos a contribuição da Elliott e iremos analisar cuidadosamente as suas propostas, em linha com a prática seguida com todos os nossos acionistas." E remete para 12 de março, altura em que "irá apresentar um strategic update ao mercado juntamente com a divulgação dos resultados anuais".
A Elliott, que tem perto de 3% do capital da EDP, propõe a venda de ativos, como a EDP Brasil, o portfólio térmico ibérico e 49% do negócio de distribuição de eletricidade na Península Ibérica, que permitiria um encaixe de 7600 milhões de euros. O objetivo seria investir 3500 milhões em energias renováveis, diminuir o grau de endividamento da EDP e aplicar 1200 milhões de euros num programa de compra de ações próprias (share buyback), uma forma de premiar os acionistas.
O DN/Dinheiro Vivo apurou que a Elliott consultou previamente o governo, a administração da EDP e a CTG antes de divulgar o plano detalhado para o futuro da elétrica. Este fundo liderado por Paul Singer, que já foi classificado como o investidor mais temido do mundo, tem vindo a aumentar a sua posição acionista na EDP e planeia continuar a fazê-lo. O plano surge quatro meses depois de a Elliott ter anunciado uma posição relevante na EDP.
Num comunicado, a gestora de ativos afirma que "escreveu uma carta ao Conselho Geral e de Supervisão e ao conselho de administração executivo da EDP, em que conclui que uma EDP fortalecida - que investe no seu crescimento e otimiza o portfólio - pode atingir resultados positivos e aportar valor acrescido a todos os stakeholders". E "convida todos os stakeholders a ponderar este caminho alternativo e mais promissor, de modo a garantir um futuro mais brilhante para a EDP".
O Estado chinês é o maior acionista da EDP, com 23% do capital detido através das CTG e 5% através da CNIC. A CTG não comenta o plano da Elliott, mas adianta "que continua a cumprir com todos os procedimentos regulatórios, a trabalhar com um conjunto de assessores em discussões com reguladores em diferentes jurisdições e no cumprimento de todas as condições prévias para o lançamento da OPA voluntária sobre a EDP".
Para a Elliott, a OPA lançada pelos chineses sobre a EDP está morta e enterrada. Primeiro porque a contrapartida é baixa - já o tinha dito a gestão da elétrica - e pela tarefa hercúlea que a China Three Gorges enfrenta para responder a todas as condições regulatórias que se levantam nos Estados Unidos e em Portugal. Para a OPA ter sucesso, os chineses teriam de eventualmente alienar ativos nos EUA e sair da REN - onde a chinesa estatal China State Grid é acionista.
A Elliott considera "que a oferta da CTG, tal como se encontra atualmente, não favorece os melhores interesses dos stakeholders da EDP e acredita que a existência da referida oferta está a afetar o desempenho da EDP", diz no mesmo comunicado. "Na visão da Elliott, caso a oferta da CTG venha a concretizar-se, conduzirá a um enfraquecimento da EDP, tornando-a uma empresa mais volátil, com um conjunto de ativos menos atrativo e com poucas oportunidades de crescimento", frisa.
A OPA lançada em maio de 2018 tem-se arrastado e não há previsão de quando estará concluída. Na apresentação que divulgou, a Elliott refere que é um dos processos de oferta mais longos no setor da energia. E defende que a CTG não respondeu a preocupações como o destino dos ativos americanos, o problema do unbundling (a China detém 25% da REN e as regras europeias exigem a separação entre os ativos de transporte elétrico e os de produção) e não justifica o motivo de um preço que "subavalia a EDP".
As OPA lançadas pela CTG sobre a EDP e a EDP Renováveis foram rejeitadas pelas administrações das duas empresas, devido ao preço. Ainda assim, diziam haver "méritos" nas "intenções estratégicas" da empresa chinesa.