Contas certas com prioridades certas
Cada vez mais, ouvimos dizer que o vínculo entre os cidadãos e a vida política é, hoje em dia, menos pleno do que antes. Rui Rio, esta semana, falou até de um "divórcio entre a sociedade e os partidos". Percebe-se o recurso a esta metáfora por parte do PSD, devido ao seu clima interno de discórdia. No entanto, constatar o afastamento não basta e não nos isenta. Há também que refletir sobre o conceito de "democracia de proximidade" de que tanto falamos e do que isso significa. O que é - de facto - uma democracia de proximidade? Em primeiro lugar, é a democracia próxima dos problemas e anseios dos cidadãos. Basta olhar para a esfera pública para perceber que se exige cada vez mais à democracia que seja capaz de resolver problemas reais e estruturais.
O plano de melhoria da resposta do SNS, aprovado em Conselho de Ministros, e o Plano Plurianual de Investimento apontam um caminho. O reforço da dotação do OE para 2020 para combater a suborçamentação, o investimento ainda em 2019 para reduzir o pagamento de dívidas e o compromisso de contratação de 8.426 profissionais para o SNS, por sua vez, giram em torno do eixo do futuro. Ao mesmo tempo, aborda-se o universo da saúde, na sua componente gestionária, laboral e administrativa.
Nenhum partido consegue proximidade com a sociedade civil se estiver divorciado da realidade. A propósito da passagem por Lisboa de Greta Thunberg, entretanto apontada Time Person of the Year, o CDS voltou a mostrar a sua visão para o ambiente - é o planeta que tem de se adaptar a nós e não nós e as nossas atividades ao território. As causas ambientais são absolutamente fundamentais. O Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050, bem como o Plano de Gestão Integrada dos Fogos Rurais surgem na perspetiva de resolver um problema estrutural e sistémico do presente, na lógica da preparação de um futuro cada vez mais próximo.
Está tudo feito? Não. Nem estará. Ainda a nível da saúde, é frequente o surgimento de novas situações, novas realidades e novos indicadores que requerem interpretação e resposta. É o caso da taxa de mortalidade materna que, em Portugal e em 2018, quase duplicou.
As prioridades certas são fundamentais para a democracia e a sua credibilização. O atual excedente orçamental permite-nos materializar ainda mais essas prioridades e alargar a expectativa do investimento nas pessoas. Ao fazê-lo, teremos inclusivamente coerência para, nas negociações do Quadro Financeiro Plurianual da União Europeia 2021-2027 e pelo nosso exemplo, reivindicar uma Europa mais coesa. Em qualquer processo de mudança, mais fácil do que apontar caminhos e negociar soluções, é registar falhas. A etapa complexa é a da construção do diálogo que permite mudar. Já estamos a fazer a mudança.
Deputada do PS