Cabrita por Carneiro foi tirar a sorte grande
Dez meses depois da morte de Ihor Homeniuk, o então ministro da Administração Interna mantinha-se firme no cargo, mas ordenava a extinção do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, mostrando-se irredutível na intenção de partir aos bocados uma polícia altamente especializada, com créditos dados a nível internacional e que ele próprio viria a condecorar por "serviços extraordinários" um ano depois de ditar o desmantelamento daquela força. Sem surpresa, sucessivos casos e trapalhadas não abalaram a confiança de António Costa no seu ministro, que se tornou inamovível até a ambição de uma maioria absoluta nas legislativas de janeiro deste ano o empurrar para uma demissão.
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A sentença de morte ao SEF, porém, sobreviveu no legado de Cabrita - uma herança agoirada que José Luís Carneiro constatou, à chegada ao MAI, não ter avançado um passo além da decisão irrevogável do seu antecessor na pasta.
Mais de 450 dias depois de ter sido apresentado o plano de reestruturação, o novo ministro encontrou o processo quase a zero e os quadros daquela polícia reduzidos em mais de 200 ativos, depois de muitos deles se verem forçados a trocar a indefinição e o risco que lhes ameaçava a carreira no SEF pelo respeito e valorização garantidos pela agência europeia Frontex. A mesma Frontex que chumbou há dias a candidatura de Eduardo Cabrita, o carrasco do SEF, à Agência Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira.
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Nos antípodas do ex-MAI, José Luís Carneiro sabe da relevância vital do SEF para a segurança nacional. Reconhecendo a competência dos recursos humanos altamente especializados que ainda ali resistiam e respeitando as diferentes valências das polícias que tutela - "Nós hoje somos um país seguro (...) e devemo-lo às forças de segurança, que não apenas cultivam uma ética de serviço público, como elevados padrões de respeito pelos Direitos Fundamentais", disse ao JN/TSF -, o atual ministro conseguiu em seis meses fechar com sucesso um dossier que parecia não ter salvação.
Sem precipitações, José Luís Carneiro tomou o tempo necessário para as ideias amadurecerem. Com toda a tranquilidade, adiou anúncios para quando tivesse certezas e fez-se valer da capacidade de ouvir as inquietações de todos para arrumar a casa e conduzir o SEF a um final feliz. Se há ainda muito caminho a percorrer para haver justiça nas nossas forças de segurança e para que os riscos e esforços que diariamente marcam o trabalho das polícias sejam devidamente reconhecidos, o atual ministro da Administração Interna tem estado ativamente empenhado em lutar por esse objetivo. A um país que tanto compra gato por lebre, a troca de Cabrita por Carneiro foi a sorte grande.