A incerteza continua a ser a única certeza
A previsibilidade é um dado importante para todos os agentes económicos, mas também para as famílias. No que toca às empresas, para planear, gerir os stocks, prospetivar exportações, desenhar mapas de disponibilidade de mão-de-obra em teletrabalho e presencial, definir investimentos, estruturar pagamento de dívidas, etc., um cronograma é uma ferramenta importante de gestão. Ter um calendário de desconfinamento não é tudo, mas ajuda. É claro que devemos e temos de estar preparados para a alteração das datas previstas para a reabertura do país, caso o Rt (índice de transmissibilidade) volte a subir, mas conhecer o calendário previsto para o desconfinamento é um passo importante e é um sinal de esperança para todos. No caso das famílias, a previsão do regresso das crianças mais jovens (da creche até ao primeiro ciclo) ao ensino presencial, de forma faseada, já a partir de segunda-feira ajuda não só a organizar a vida familiar, mas também as tarefas profissionais.
O primeiro-ministro anunciou, nesta semana, um plano de desconfinamento "a conta-gotas" que vai de 15 de março a 3 de maio. Vários especialistas da área da saúde criticam e dizem mesmo que são "muitas gotas" face à persistente pandemia e aos sinais externos - vários países da Europa, como França, que voltou atingir um pico de contágios, ou Itália, que anunciou um novo confinamento. Por isso, para já, é importante manter as fronteiras fechadas.
António Costa afirmou que já "estamos abaixo da linha de risco", com 105 novos casos por cada 100 mil habitantes. Lisboa e Vale do Tejo, porém, tem uma taxa de incidência acima dos 120 impostos como meta pelo governo e o Rt já está nos 0,8. Em suma, é preciso dar um sinal, mas cauteloso.
A asfixia económica já está a prejudicar a vida a muitos e terá incentivado o Executivo a desenhar um plano para o próximo mês e meio. O pequeno comércio dá o primeiro passo de desconfinamento a partir de segunda-feira. Vários empreendedores podem voltar a respirar. Não ficarão sanadas todas as dificuldades e as dívidas acumuladas, mas passa a haver algum oxigénio a encher os pulmões, volta-se a respirar e a sentir que vale a pela viver, trabalhar, lutar com prudência e consciência.
Os comportamentos de prevenção devem continuar, mas o investimento no Serviço Nacional de Saúde também não pode ser descurado. Noutras pandemias, as primeiras vagas nem sempre foram as mais mortíferas. A incerteza continua a ser a única certeza que temos hoje.