A soberania é para usar, não para delegar
A adesão da Finlândia à NATO está na ordem do dia. Será motivo para preocupação? Na ótica do Presidente da República não é. É sim um "motivo de reforço de solidariedade europeia". A Rússia já veio dramatizar e considerar uma ameaça a junção da Finlândia à NATO. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que "tudo isto será analisado" e requer "uma análise especial e desenvolvimento das medidas necessárias para equilibrar a situação e garantir a segurança da Rússia".
Irá esta iniciativa criar uma tensão ainda maior na relação da Finlândia com a Rússia? Ou corre-se o risco de, com isto, criar uma extensão da guerra a outros territórios? Ninguém sabe a resposta, só Putin. Mas estranho era a Finlândia ainda não ter aderido à NATO e continuar a acreditar na sua neutralidade face ao enquadramento geográfico ameaçador. A Finlândia é livre de integrar a Organização do Tratado do Atlântico Norte e não é, com toda a certeza, o presidente russo quem decide os destinos dos finlandeses, ou não fosse o povo descendente dos vikings. Como declarou ontem Marcelo Rebelo de Sousa, "quem decide o seu destino é cada país" e se "considera ser melhor para a sua segurança passar a pertencer a uma aliança defensiva" está "a usar da sua soberania".
A decisão deverá ser anunciada oficialmente no próximo domingo, em Helsínquia. Para o chefe de Estado, Sauli Niinistro, e a primeira-ministra, Sanna Marin, que falaram a uma só voz, "ser membro da NATO vai reforçar a segurança da Finlândia. Como membro da NATO, a Finlândia vai reforçar a aliança no seu conjunto. A Finlândia deve ser candidata à adesão à NATO sem demora". A próxima candidatura será, certamente, da Suécia.
Com ou sem NATO, os nórdicos e o mundo já aprenderam a lição ao longo destes 79 dias de guerra: não confiar em Vladimir Putin. A Finlândia partilha 1340 quilómetros de fronteira terrestre com a Rússia, país que tem uma fronteira marítima com a Suécia. Se ambos aderirem à NATO cai a política histórica de não alinhamento dos dois países nórdicos, mais um ato que sublinha a mudança do status quo já em curso. Na sequência da invasão da Ucrânia pela Rússia, em 24 de fevereiro, não há como não entender este pedido de ajuda preventiva por parte destes povos vikings. Corajosos, corpulentos, destemidos, mas não loucos ao ponto de ficarem de fora de um círculo de segurança que é o único que pode enfrentar a insanidade ou a raiva de Putin.