Se as crianças aguentam? Aguentam
Vem aí um Carnaval sem festividades, sem bailes, sem máscaras. Pelo menos, fora de casa. Mas a melhor celebração desta época é, sem dúvida, olhar para o número de mortos e contágios por covid-19 em Portugal e vê-los a descer vertiginosamente. São boas notícias, ainda que estejamos longe de cantar vitória. A ordem é para continuar em casa, mantendo todas as regras apertadas de confinamento. Foi o que ouvimos nesta semana, quer no discurso do Presidente da República quer no do primeiro-ministro. O confinamento está a surtir resultados, mas a "situação ainda é extremamente grave", alertou António Costa. E recusou avançar qualquer plano, mesmo que faseado, sobre o tempo e o modo de um eventual regresso às escolas. Apesar do pedido nesse sentido da parte de Marcelo Rebelo de Sousa, as famílias nada podem planear quanto a isso. Primeiro é urgente salvar vidas e aliviar o Serviço Nacional de Saúde.
Pode ser até perigoso falar já em desconfinamento, e nem governo nem a presidência querem ver repetidos os erros do Natal. Desconfinar cedo de mais pode, de novo, ter um preço excessivamente alto a pagar em termos sanitários.
E as crianças aguentam? Claro que aguentam. Se há quem nos dê lições diárias de superação são as nossas crianças. Adaptam-se às dificuldades, criam e inventam formas de ultrapassar obstáculos e limitações, conseguem arrancar sorrisos de dentro de nós, os portugueses, quando só nos apetece chorar. As crianças não são só o futuro, são o presente. Um presente forte, vivo, resiliente, positivo. Nesta semana, ouvi o psiquiatra José Gameiro, na TVI24, relativizando todo o impacto de ficar em casa. Disse, e a meu ver bem, que "mal estão os que morrem e os que estão nos cuidados intensivos", porque para os restantes "é uma experiência", que vai passar e que pode não deixar tantas marcas negras como vaticinam os mais pessimistas. É preciso ver o aspeto positivo de cada vivência. Se determinadas famílias passaram a discutir mais, outras reencontraram-se, permitiram-se ter tempo e espaço para confidências, desabafos, revelações, cumplicidades.
Nem tudo tem de ser um quadro pintado a negro. O pior que pode acontecer a um povo é perder a esperança. E as crianças ajudam-nos a mantê-la, a relativizar o nosso dia-a-dia frenético e a recuperar o brilho no olhar mesmo quando observamos nuvens negras no horizonte. Apoiem e elogiem as vossas crianças, tornando-as seres mais seguros para enfrentar um futuro que será, no mínimo, desafiante. Não guardem um beijo ou um abraço apertado para lhes oferecer apenas no dia 1 de junho, quando se assinala o Dia Mundial da Criança, façam-no hoje e todos os dias.