Benfica-FC Porto no Jamor 16 anos depois. O 10.º capítulo da final mais repetida
A final da Taça de Portugal vai juntar 16 anos depois no Jamor o Benfica e o FC Porto. Após as águias terem deixado pelo caminho o Famalicão numa meia-final sofrida, nesta quarta-feira os dragões eliminaram o Académico de Viseu, o único sobrevivente da II Liga. Dia 24 de maio, Benfica e FC Porto vão defrontar-se pela décima vez na final da prova rainha do futebol português.
Esta disputa vai acontecer precisamente uma semana depois da última jornada do campeonato nacional (17 de maio), ou seja, com o novo campeão nacional já conhecido. Neste momento, os dois clubes estão separados por quatro pontos na I Liga e a viver um autêntico clima de guerrilha, com ataques de parte a parte, sobretudo depois do triunfo dos portistas, no último fim de semana, por 3-2, no Dragão, que levou inclusivamente o Benfica a pedir que todos os jogos dos dois rivais até ao final do campeonato fossem apitados por árbitros estrangeiros. E não se prevê que até ao dia da final o ambiente possa arrefecer.
Apesar de nos últimos 35 anos apenas se terem defrontado em duas ocasiões (em 1984-85 e 2003-04), o Benfica-FC Porto é a final mais repetida da Taça de Portugal - já aconteceu em nove ocasiões. Os dragões, refira-se, são a equipa com mais finais perdidas na competição, num total de 13.
O domínio do Benfica nos confrontos diretos em finais da Taça com o FC Porto é arrasador - oito vitórias e apenas uma derrota. Aliás, o clube da Luz é o recordista de troféus nesta competição, com um total de 26. Segue-se o Sporting com 17 e os portistas com 16. Ou seja, caso vençam a final do dia 24 de maio, os dragões igualam o número de títulos dos leões.
O último triunfo do FC Porto sobre o Benfica aconteceu na temporada 1957-58, num jogo onde curiosamente nos bancos estavam dois brasileiros com o mesmo nome. Mas os dragões de Otto Bumbel levaram a melhor sobre as águias de Otto Glória, graças a um golo de Hernâni aos 52 minutos.
Registe-se que nesta altura as eliminatórias da Taça de Portugal eram jogadas em duas mãos e os dois vencedores das meias-finais disputavam com dois clubes das ex-colónias o acesso à final - eram as designadas meias-finais da Metrópole e do Ultramar. Por isso, para marcarem presença no jogo decisivo, os dragões eliminaram o Desportivo de Lourenço Marques e as águias o Ferroviário de Angola.
Depois deste triunfo (único) do FC Porto, seguiram-se sete vitórias do Benfica. O último na temporada 2003-04, curiosamente no ano dourado dos dragões de José Mourinho, com as conquistas da Liga dos Campeões e do campeonato nacional - o FC Porto venceria a Champions (vitória por 3-0 sobre o Mónaco, em Gelsenkirchen), dez dias depois de perder a final com o Benfica.
Nesse jogo disputado há 16 anos, o Benfica treinado pelo espanhol José Antonio Camacho acabou por levar a taça, vencendo na final apitada por Lucílio Baptista o FC Porto por 2-1. Os dragões até estiveram em vantagem, com um golo de Derlei em cima do intervalo. Mas na segunda parte, Fyssas igualou a partida aos 58', e depois no prolongamento foi Simão Sabrosa quem deu o troféu às águias, num jogo em que Jorge Costa foi expulso aos 70 minutos.
No historial de finais da Taça de Portugal entre os dois rivais há um jogo que se destaca pelo caricato da situação. A final da temporada 1982-83 foi apenas disputada no início da época seguinte e não no mês de maio como estava prevista. Motivo? Um imbróglio relacionado com o palco do jogo decisivo.
Antes ainda de se saber quem eram os finalistas, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) decidiu marcar a final para o Estádio das Antas, a então casa do FC Porto. O destino juntou os dois rivais na final da prova e os dirigentes federativos resolveram mudar o local - das Antas para o Jamor.
A decisão causou revolta entre os portistas, que em assembleia geral decidiram não comparecer à partida se a FPF mantivesse o Estádio Nacional como palco. A federação demorou muito tempo a anunciar uma decisão final e quando o fez os jogadores das duas equipas já tinham ido de férias. Ficou então decidido que a final seria mesmo nas Antas, a 21 de agosto, uma semana antes da 1.ª jornada do campeonato da época seguinte. Nesse dia, um grande remate de Carlos Manuel a 30 metros da baliza resolveu o assunto a favor das águias.
A final entre Benfica e FC Porto será também uma oportunidade para os dois treinadores juntarem este troféu aos respetivos currículos. No caso de Bruno Lage, será a primeira vez que o técnico estará sentado no banco no Estádio Nacional numa final da prova. Uma oportunidade rara que se explica também pelo pouco tempo (pouco mais de um ano) que está como treinador principal do Benfica, ele que no passado foi eliminado nas meias-finais pelo Sporting.
No caso de Sérgio Conceição, o treinador portista quer finalmente colocar um ponto final na malapata, pois já esteve presente em duas finais no Jamor e perdeu ambas no desempate por grandes penalidades e depois de ter estado em vantagem no marcador. Como jogador, contudo, tem uma Taça de Portugal, conquistada na época 1997-98, numa final em que os dragões venceram o Sp. Braga por 3-1.
Na temporada 2014-15, como técnico do Sp. Braga, apanhou na final o Sporting de Marco Silva. As coisas até começaram a correr pelo melhor, com a equipa a chegar ao intervalo com uma vantagem de dois golos (Eder de grande penalidade e Rafa). Mas na segunda parte, já bem perto do fim, Slimani reduziu e Montero na compensação empatou o jogo. A decisão foi para penáltis e o leão venceu por 3-1.
No ano passado, já como treinador do FC Porto, teve possibilidade de se vingar, outra vez numa final diante do Sporting. Mas foi novamente traído na lotaria das grandes penalidades, com os leões de Marcel Keizer a vencerem por 5-4. Isto numa final que acabou empatada a um golo após o tempo regulamentar e que no prolongamento terminou 2-2 - Felipe marcou o golo que permitiu ao FC Porto levar o jogo para penalidades mesmo no último minuto do prolongamento.
Se para Bruno Lage o desafio é vencer logo na sua primeira final da Taça de Portugal, para Sérgio Conceição é a hipótese de dizer que à terceira é de vez. Mas até ao dia 24 de maio a luta é outra e está apenas centrada no campeonato, com muito ruído à mistura como já se percebeu nos últimos dias.