"O Vox em Espanha é um partido que veio para ficar"
Politólogo e professor na Universidade Carlos III, editor do blogue Politikon, Pablo Simón analisa ao DN a campanha eleitoral para as eleições legislativas antecipadas de 28 de abril em Espanha.
Continua a existir em Espanha uma grande desilusão política?
A irritação com a política em Espanha surgiu a partir de 2012 e 2013. O ponto mais importante foi 2014 e 2015 com a emergência de dois novos partidos. Hoje, a política faz parte do problema, não é a solução.
Nestas eleições a novidade é o Vox. É certo dizer que é um partido de extrema-direita?
Sim. É correto. É um partido autoritário, a nível interno e externo, defende políticas de carácter xenófobo e nacionalista e costuma seguir estratégias populistas que identificam o partido com a nação e os inimigos com as elites tradicionais que não atenderam às exigências dos espanhóis.
Mas há diferenças com outros partidos de extrema-direita europeus?
Sim. Tem três elementos próprios. Conta com um programa económico partidário de menos Estado e isto é parecido à extrema-direita da Alemanha e não da França. É um partido muito reacionário católico e isso faz que tenha rasgos parecidos com a direita da Europa de Leste. E depois é também muito centralista. É um partido com as suas peculiaridades.
Subscreva as newsletters Diário de Notícias e receba as informações em primeira mão.
Até onde pode chegar?
Ter representação parlamentar é importante e conseguir 10% a 15% dos votos na primeira eleição é entrar muito forte. Penso que é um partido que veio para ficar.
Como explica que existam espanhóis a identificar-se com as suas mensagens?
Conecta com duas questões. Por um lado a rutura dentro da direita tradicional que supõe o colapso do Partido Popular. E por outro lado a enorme crise constitucional que gera a questão catalã desde 2017 - que cria um importante aborrecimento na cidadania mais conservadora. A questão territorial é o que mais atrai eleitores. Estão também presentes nos temas das migrações, do feminismo... mas o aspeto territorial é o mais importante. É a sua política-chave.
Há muitos espanhóis que não querem o modelo autonómico?
Desde o ano de 2017. Consideram que se foi longe de mais depois de ver o que aconteceu na Catalunha. Querem devolver os poderes ao governo de Madrid.
Falemos de um outro extremo. Como chega o Podemos a estas eleições?
Está numa situação complicada, a perder votos (entre 20% e 25%) para o PSOE, com divisões internas na Galiza e na Comunidade Valenciana. É uma situação difícil. O Podemos procura aguentar-se e manter com sorte a metade do seu grupo parlamentar.
O Ciudadanos já teve fases más e boas. Chegou agora o seu momento?
Vai ter melhores resultados do que em 2016 mas não sabemos quanto. A chegada do Vox torna mais complicado competir pelos eleitores de centro-direita. Este é o nicho que Albert Rivera quer. Nas sondagens aparecem como os votantes mais indecisos. Podem crescer mas sem deputados. A sua expectativa é crescer para ameaçar a hegemonia do Partido Popular.
O PP, com o novo líder, Pablo Casado, que quer estar mais à direita?
Tem um cenário muito complexo, pode perder entre um quarto ou um terço dos votos, tanto para Ciudadanos como para Vox. A nova direção quis seguir os mesmos marcos ideológicos do que o Vox e provavelmente é uma estratégia. Não aposta nos pontos fortes do PP como a boa gestão. O importante não é ser o primeiro ou o segundo se não puder governar.
Quais são as causas da recuperação do PSOE de Pedro Sánchez?
Recuperou o poder e converteu-se no ponto focal dos eleitores de esquerda. A isso junta-se o medo de um potencial governo apoiado pelo Vox.
Sánchez é um líder forte?
Como outros líderes da esquerda, como Jeremy Corbyn [do Labour no Reino Unido], foi capaz de derrotar o seu partido no processo interno. Com tudo contra ele, chegou à liderança do seu partido e do governo. Juntaram-se vários golpes de sorte mas teve talento para se adaptar às circunstâncias. É o candidato mais bem avaliado entre os cinco.
Madrid