Foi ainda no tempo do seu pai, Jorge VI, que a Grã-Bretanha perdeu a Índia, considerada a joia da Coroa, mas foi já durante o reinado de Isabel II que o Império desapareceu mesmo, sobretudo com a vaga de independências africanas a seguir à do Gana em 1957. Hoje, do tal império que na Era Vitoriana se dizia que nele o sol nunca se punha, restam apenas confetis, como Gibraltar, as Falkands ou Pitcairn..Mas evitando os traumas das descolonizações francesa (Guerra da Argélia) ou portuguesa (três frentes de guerra em África), os britânicos conseguiram construir uma comunidade de países de língua inglesa, a Commonwealth, com mais de meia centena de membros. E, além das quatro nações do Reino Unido, Isabel II manteve-se monarca ainda de 14 países, como o Canadá e a Austrália, a Jamaica ou a Papua-Nova Guiné. Ficou sempre a sensação de que dependia muito da própria rainha este excecionalismo em termos de chefe de Estado aceitado por povos tão diferentes, alguns com evidentes raízes na Europa, outros nem por isso..Com a morte de Isabel II reabre-se a questão do futuro da Commonwealth, cujo modelo é muito fluido. Mas sobretudo especula-se sobre a manutenção do agora Carlos III como rei de tantos países distantes, até porque a sua popularidade não é comparável à da mãe. Antigua e Barbuda já anunciou um referendo sobre a transformação em república, e na Austrália o primeiro-ministro falou sobre a questão da monarquia, mas para dizer que não seria no seu primeiro mandato que algo aconteceria e que o atual sistema constitucional é para ser respeitado. Pelo menos para já, diríamos, tendo em conta o republicanismo assumido de Anthony Albanese..Monarca que reina mas não governa, Carlos III sabe que muito em seu redor terá que ver com o simbolismo do cargo e da forma de o encarnar. A própria unidade do Reino Unido, com as ameaças de secessão da Escócia e da Irlanda do Norte, será um assunto dos próximos tempos, mas problema mais dos políticos do que seu, pelo menos em termos de responsabilidade. Já sobre a coroa manter-se tão global, é provável que venham aí tempos difíceis, na verdade tudo o que se passar a nível da Commonwealth terá que ver os sinais dos tempos, pois mesmo com Isabel II viva os Barbados tinham no ano passado adotado a república e outros países também já o tinham feito antes. Não será culpa de Carlos III se um dia tiver menos povos a tê-lo como rei.