Moody's. Banca nacional perde brilho, BCP e CGD podem precisar de mais apoios

Em Portugal, o peso do malparado é de quase 9%, o triplo da média da União Europeia (3%), alerta a agência de <em>rating</em>.
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Em menos de um ano, o mundo mudou por causa das guerras comerciais e com o espetro de uma nova recessão ou crise. De acordo com um estudo da Moody's, o futuro próximo da banca sediada em Portugal passou de "positivo" a "estável".

O abrandamento da economia será uma das principais causas para esta moderação nas expectativas, refere a empresa que avalia a qualidade de crédito. Além disso, apesar dos lucros apresentados na semana passada, há dois bancos que "podem" vir a necessitar de mais apoios do Estado. "Probabilidade moderada", refere a agência de rating, apontando para o BCP e a CGD - cujos resultados até setembro cresceram respetivamente 5% (para 270,3 milhões) e 74% (para 640,9 milhões). Prestações que o enquadramento mundial e o comportamento do malparado podem estragar.

Este novo estudo sobre os bancos recaiu sobre seis grupos que, segundo a Moody's, representavam cerca de 82% do mercado no final do primeiro semestre. "Portugal tem um sistema bancário altamente concentrado", comenta o avaliador. Os grupos analisados foram, por ordem de grandeza (valor dos ativos): CGD, BCP, Santander Totta, Novo Banco, Banco BPI e Montepio.

Maria Viñuela, analista principal da Moody's para o setor bancário e que segue a realidade nacional, refere que "as condições de capital, rendibilidade e financiamento dos bancos portugueses mudaram de positivas para estáveis na previsão dos próximos 12 a 18 meses" e que isso é em parte um reflexo do "crescimento económico do país, que deve desacelerar, em linha com o que está a acontecer na zona euro".

Em dezembro de 2018, quase há um ano, portanto, a Moody's tinha promovido o cenário da banca para "positivo", considerando que as condições de capital, rendibilidade e financiamento iriam melhorar.

Agora não é bem assim. "Esperamos que essas condições se mantenham estáveis", diz Viñuela que, no entanto, continua a acreditar que os bancos vão "reduzir ainda mais" os seus créditos improdutivos [onde se inclui o malparado].

Ainda assim, "a rendibilidade [lucros] provavelmente permanecerá próxima dos níveis reduzidos atuais", diz a mesma analista. A Moody's espera que os bancos venham a gastar menos com provisões e que continuem a reduzir custos de modo a "compensar amplamente o andamento mais fraco do volume de negócios e as taxas de juros muito baixas".

Menos crescimento complica tudo

A Moody's, que a 12 de outubro último subiu o rating da República para Baa3 (com tendência positiva), parece estar agora menos crente na força do crescimento português nos próximos tempos, já que esta vai começar a sofrer o impacto das condições agrestes da economia internacional e, particularmente, da europeia.

"O crescimento económico de Portugal tornou-se mais moderado no primeiro semestre de 2019, para 1,9%, e a Moody's espera que diminua ainda mais, para 1,7%, em 2019 como um todo e depois convirja gradualmente para uma taxa potencial estimada em torno de 1,5%."

A Moody's está visivelmente mais pessimista neste ponto de partida que é 2019. O Banco de Portugal e a Comissão Europeia projetam um crescimento de 2% neste ano. O Ministério das Finanças e o FMI dizem 1,9%.

A agência de rating relembra ainda que, "embora as condições de crédito no país tenham melhorado, o endividamento das famílias permanece acima da média da área do euro". Além disso, o crédito em incumprimento, embora tenda a cair com as muitas vendas de carteiras de malparado que estão a ser realizadas, "vai permanecer alto" comparativamente com os padrões europeus.

Em Portugal, o rácio de incumprimento total (peso do malparado no valor total dos empréstimos) "era de 8,9% no final de junho, o que compara com a média de 3% na União Europeia".

Ainda assim, a Moody's deixa uma nota mais positiva. "As necessidades de financiamento dos bancos portugueses permanecerão baixas, graças à desalavancagem e a uma base estável de depósitos." O financiamento ultrabarato do BCE também ajuda quando for a hora de reembolsar o banco central.

O facto de a economia perder gás, de as famílias e as empresas privadas continuarem a estar demasiado endividadas e de os níveis de malparado serem muito elevados faz que a Moody's tema pelo músculo de alguns bancos a prazo.

"Assumimos que existe uma probabilidade moderada de que o governo tenha de apoiar os dois maiores bancos portugueses, CGD e BCP", escreve a agência neste novo estudo. Relativamente aos outros quatro bancos, a probabilidade de ocorrer um reforço nas ajudas estatais "é baixa".

Esta análise da Moody's já estará a contar com o enorme pacote de ajuda ao Novo Banco (NB) via Fundo de Resolução, que foi decidido em setembro de 2017. Este prevê que o Estado injete no NB até um máximo de 3890 milhões de euros, com um limite anual de 850 milhões.

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