Verão com sabor amargo

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Nem os campeões estão a salvo da pandemia. O camisola amarela na Volta a Portugal, Daniel Freitas, foi forçado a abandonar a corrida, após novo caso de covid-19 na sua equipa. Antes do início da quinta etapa, já João Benta e Tiago Machado tinham sido afastados da Volta, por estarem infetados com o novo coronavírus. Freitas tinha ganho a amarela na quinta etapa da prova, que liderava com uns bons 42 segundos de vantagem sobre Alejandro Marque. Tem um sabor amargo para o português deixar a prova rainha do ciclismo nacional por causa do coronavírus, mas nem os grandes atletas e vencedores estão protegidos, mesmo ao ar livre.

A pandemia está longe de terminar, dizem em coro os médicos e outros especialistas da área da saúde e da investigação. Desde o início, em todo o mundo já morreram mais de 4 milhões de pessoas com covid-19. Em Portugal, os casos totais de contágios já chegam quase a um milhão de pessoas e os óbitos superam os 17 mil. Veja-se o retrato das últimas 24 horas: perderam a vida 12 portugueses e as infeções quase tocaram a barreira dos 3 mil, em pleno verão. Os números são ainda preocupantes, mesmo que a maioria das pessoas esteja de férias (mas o vírus não está...), e igualmente preocupante é ouvir o pai da vacina da AstraZeneca, Andrew Pollard, afirmar que a imunidade de grupo é impossível de alcançar com a variante Delta.

Este epidemiologista e diretor do Centro de Vacinação de Oxford é peremptório: "Sabemos claramente que, com a variante Delta, o vírus continuará a infetar pessoas que foram vacinadas e isso significa que qualquer pessoa que ainda não foi vacinada vai ser infetada a qualquer momento."

Andrew Pollard alertou ainda que, no futuro, "pode surgir uma variante que talvez seja ainda mais transmissível entre as populações vacinadas", o que "dá ainda mais razões para não desenhar os programas de vacinação em torno da imunidade de grupo". Ora, a variante Delta do coronavírus é precisamente a que prevalece em Portugal, com uma frequência relativa de 98,9% (dados do Instituto Ricardo Jorge), o que significa que não devemos baixar a guarda, mesmo em época de praia.

Voltar ao velho normal parece uma realidade distante. Nesta nova conjuntura (ou guerra), a única arma que temos é mesmo a vacina - para todos. A inoculação para maiores de 12 anos começa com atraso face a vários países, mas arranca no próximo dia 21 de agosto e deverá ser concluída em setembro, mês de regresso às aulas.

Lisboa e Vale do Tejo, onde há maior concentração de cidadãos, é a região onde a vacinação está mais atrasada, o que tem de ser rapidamente alterado, como alertei ontem neste mesmo espaço de editorial, sob pena de as escolas confinarem após o primeiro dia de aulas.

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