Lições de botânica

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1. A metáfora da árvore que o Presidente usou no 10 de Junho tem tudo para fazer entender, até aos mais básicos, os problemas que esta maioria absoluta nos traz. Os ramos atacados pelo bicho, já mortos mas ainda presos a um tronco crescentemente desenraizado da vontade dos portugueses, têm potencial para fazer apodrecer o resto. A questão é se o que resistiria a uma poda eficaz bastaria para a árvore sobreviver, tendo secado tudo o que é bom num raio de quilómetros.

Os galhos que se mantêm impolutos - ainda há uns poucos - lutam por se manter vivos e produtivos. Mas quem é que, sendo sério e tendo carreira e provas dadas, aceitaria ser enxertado num governo que se revelou semelhante a uma Macieira da Praia, queimando e intoxicando tudo o que toca?

Apesar de escutar o repetido recado do Presidente, é pouco provável que o tratamento chegue e ainda menos que dele resulte uma copa frondosa. António Costa sabe que tem um problema, mas também sabe que ele só se resolve cortando o mal pela raiz. E isso só fará quando vir nascer frutos dos rebentos que foi depositando por outras paragens. Portugal que limpe o jardim depois.

2. Mantendo a natureza em pano de fundo, viemos nesta semana a saber que os portugueses comem muito peixe, uma média de 150 gramas por dia, o que representa 2,5 vezes mais do que a média da União Europeia. Mas se pensava vir daqui um elogio à nossa base alimentar - dada a propaganda generalizada, ainda que desmentida, contra o consumo de carne -, desengane-se. Comer esta quantidade de peixe está a estragar os oceanos, dizem os ambientalistas, recomendando (já que, obviamente, se opõem ao consumo de qualquer proteína animal) que se coma plantas. E algas.

Considerando que rejeitam também a agricultura intensiva - que tem contribuído para um "abate indiscriminado de árvores", causa degradação dos solos, "põe em causa ecossistemas e habitats naturais" e chupa água dos seus cursos naturais para a irrigação -, talvez fosse avisado ponderar se a solução preconizada é mesmo a melhor.

Quanto aos cereais e às culturas que os têm na base da sua alimentação, os cientistas vêm alertando para a escassez de arroz no mundo, conforme aumenta e melhora a vida da população asiática. E os preços do milho e do trigo subiram mais de 20% nos últimos cinco anos.

Valia a pena perguntar como pretendem que uma população mundial de 8 mil milhões de pessoas (espécie omnívora, note-se) sobreviva, sem comer animais e apenas confiando que de cada caroço plantado nascerá, nos seus termos e nos seus tempos, uma árvore.

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