Cahora Bassa, Itaipu, Três Gargantas. As barragens onde da água nasce a luz
Mantêm quase sempre os nomes que os antigos davam àquele lugar do rio: Cahora Bassa,
como os homens de Tete indicavam que, a partir dali, o Zambeze não era navegável. Ou Itaipu, termo com que os guaranis celebravam a água que canta. E assim sucessivamente. Mas desses tempos ancestrais resta apenas o velho desejo humano de pôr a natureza ao seu serviço e, do ímpeto dos grandes rios, fazer a luz que nos ilumina e a energia que nos move.
No final dos anos 1960, com a Guerra Colonial a abalar o regime (e a sociedade portuguesa), o projeto de uma grande barragem no rio Zambeze, em Moçambique, divide o Governo de Marcelo Caetano. Baltazar Rebelo de Sousa, governador da então província ultramarina, considera que uma obra de tal dimensão, capaz de fornecer eletricidade também à Rodésia (atual Zimbabwe) e à África do Sul, solidificará a presença portuguesa na região. Mas, em Lisboa, homens como o ministro das Finanças, João Dias Rosas, pensam que o investimento é excessivo para uma região de soberania incerta. Não obstante, as obras iniciaram-se em 1969, exigindo uma vigilância reforçada pela tropa portuguesa e uma operação logística muito complexa, já que o facto de todas as peças da futura barragem serem importadas da Europa obrigou, entre outras medidas, à pronta modernização do porto da cidade da Beira. Em 1974 começou-se a encher a gigantesca albufeira no lugar onde o rio se estreita e passa a impedir a navegação e o trabalho humano - kahoura-bassa em língua nyungue, idioma bantu, falado por mais de 400 mil pessoas na província de Tete. Nos acordos de Lusaka, Portugal e Moçambique chegaram a acordo quanto à gestão do empreendimento, mas a guerra civil no território levou-o a trabalhar, sobretudo na década de 1980, muito aquém das suas possibilidades. Mais de 40 anos depois de inaugurada, continua a ser a maior barragem em betão de África e a maior obra alguma vez edificada pelos portugueses nas antigas colónias. A sua albufeira é a quarta maior do continente, imediatamente a seguir a Assuão (Egito), Volta (Gana) e Kariba (na fronteira do Zimbabwe com a Zâmbia).
A maior central hidroelétrica do planeta situa-se na China, transformando em energia a força do maior rio da Ásia, o Yang-tsé. Pensada pelo menos desde 1919, chegou a ser iniciada pelo Governo nacionalista de Chiang Kai-shek e os próprios japoneses tinham-na prevista nos seus planos de ocupação da China. Todavia, as obras só se iniciaram em 1993 e sua conclusão ocorreu em 2012, após 19 anos de trabalho, participação de 40 mil trabalhadores e um custo estimado em 28 biliões de dólares. Possui um reservatório de água de mais de 600 quilómetros cúbicos, mais de 2,2 quilómetros de comprimento e o topo da barragem está 185 metros acima do nível do mar. O projeto utilizou 16 milhões de metros cúbicos de concreto e aço, o suficiente para construir 63 torres Eiffel. Tem uma capacidade instalada de 22 500 MW, mas a produção de eletricidade não foi o único objetivo da sua construção, também foi possível reduzir o potencial de inundação do rio Yang-tsé ao longo dos mais 6000 quilómetros do seu leito. A construção da Três Gargantas não foi, todavia, isenta de polémica interna e externa, já que destruiu sítios arqueológicos e desalojou mais de um milhão de pessoas.
Construída no rio Paraná, é um empreendimento conjunto do Brasil e do vizinho Paraguai inaugurado em 1984. O seu lago tem uma área de 1350 quilómetros quadrados, indo de Foz do Iguaçu, Foz no Brasil e Ciudad del Este, no Paraguai, até Guaíra e Salto del Guairá, 150 quilómetros a norte. Foi até à conclusão das Três Gargantas a maior barragem, mas em 2016, quando já perdera esse título, realizou um feito histórico ao produzir, num ano, mais de 100 milhões de MWh de energia limpa e renovável, batendo o recorde do gigante chinês. Em território brasileiro localizam-se ainda outras grandes obras do género, como Tucuruí e Belo Monte, ambas no estado do Pará.
No rio Caroni, a 100 quilómetros da foz do rio Orinoco, encontra-se a Central Hidroelétrica Simón Bolívar, também conhecida como represa de Guri. A sua construção foi iniciada em 1963 e só ficou totalmente concluída em 1986, formando o segundo maior lago artificial do país, logo a seguir ao de Maracaibo. Em março de 2019, em plena crise energética, Nicolás Maduro chegou a noticiar que a barragem fora sabotada por opositores ao seu Governo.
Situada no rio Columbia, no estado de Washington, a central hidroelétrica de Grand Coulee começou a ser pensada como parte do New Deal, a política de obras públicas com que o presidente Franklin Roosevelt procurou responder à tragédia do desemprego em massa durante a Grande Depressão. Construída por fases (só ficou totalmente concluída em 1974), tornou-se uma das mais famosas do mundo, devido ao tamanho e à envergadura: a sua barragem possui 1,6 quilómetros de largura e o dobro da altura das cataratas do Niágara. O cantor folk Woody Guthrie dedicou-lhe várias canções enquanto trabalhou na área ao longo da década de 1940.