A propósito do Dia Mundial do Professor
A 5 de outubro, além dos 110 anos da Implantação da República, celebrou-se o Dia Mundial do Professor, instituído pela UNESCO em 1994 e celebrado em parceria com a Organização Internacional do Trabalho e a Internacional da Educação.
A instauração de democracias leva inevitavelmente a investimento em educação, com aumento exponencial do número de estudantes em todos os níveis de ensino e iniludíveis carências em estruturas físicas e em pessoal docente. Portugal não foi exceção. Após a Revolução dos Cravos conhecemos um verdadeiro boom da educação. Quem não se lembra dos pavilhões prefabricados com coberturas de amianto e das turmas de 30 e muitos alunos, sem professores? A nível de educação, o nosso país é hoje incomparável com o que era antes de 1974. É, por isso, com estupefação que ouço dirigentes patronais afirmar, para justificar baixos salários, que temos uma força laboral com baixa formação e que o regime democrático pouco ou nada fez para alterar a situação.
Enquanto estudante não tive sempre bons professores, longe disso. Da maioria não me lembro e de muitos faço-o pelas piores razões. Foram poucos aqueles que me marcaram pelo saber, a competência pedagógica e as qualidades humanas, conjugação que, creio, faz os bons professores. É, por isso, também com estupefação que ouço dizer que antigamente é que era bom e que os professores eram muito cultos, verdadeiros intelectuais. Sim, sempre houve professores assim, mas eram e serão sempre a exceção. Por isso se destacam.
Comecei a lecionar em 1981, ainda a frequentar o 2.º ano da faculdade. Era normal existirem professores sem habilitações científicas e profissionais adequadas. Quem viveu naquela época lembra-se das dificuldades em arranjar professores, especialmente de Matemática, Português e Francês, língua que era obrigatória entre os 5.º e 9.º anos de escolaridade. Não me orgulho de ter começado a trabalhar sem todas as habilitações, mas estive longe de ser a única a fazê-lo. Em 1983 concluí a licenciatura, mas apenas em 1990 me foi permitido concluir a profissionalização. Já na primeira década deste século, participei na formação de professores; tive alunos muito bons e motivados, que concluíram o ramo educacional com brilhantismo; destes, a maioria não conseguiu um posto de trabalho no ensino e hoje exerce outras profissões. Nos últimos anos, foram implementadas estratégias de "poupança de recursos" na formação inicial dos professores; não conheço os resultados.
Os professores têm sofrido na pele as mudanças de rumo, convulsões, crises e dificuldades do país. Em vários momentos, foram tomados como bodes expiatórios da sociedade, não sem quota-parte de culpa. Em geral são desvalorizados social e financeiramente, mais do que outros grupos profissionais com níveis semelhantes de formação e responsabilidade. Temos um corpo docente envelhecido e cansado, e ser professor de gente jovem exige saúde, força e vigor. Os professores são muitos, demasiados, dizem, mas indispensáveis à sociedade e longe de ser suficientes. Em breve descobriremos a falta que nos fazem todos aqueles que nas últimas duas décadas formámos e rejeitámos. Infelizmente para os nossos jovens. Infelizmente para todos nós.
Professora e investigadora, coordenadora do Portal da Língua Portuguesa