Passam hoje 30 anos sobre o fim do Muro de Berlim. Nunca me pareceu muito legítimo que se falasse apenas em "queda", quando se fala do célebre muro. A verdade é que foi derrubado, e pela mesma ação humana que o construiu. Se isto à partida pode parecer um pormenor menos importante, ganha outra dimensão se pensarmos que foi um momento que ficou histórico também porque, pela paz e por via do diálogo, a humanidade conseguiu uma transição na ordem internacional através do consenso. Deveu-se apenas a alguma fraqueza da antiga URSS? Ou foi, de facto, um momento inspirador na história da cultura democrática europeia, aquele wind of change que os Scorpions imortalizaram na sua célebre balada? Talvez um pouco de ambos. Certo é que a necessidade de acabar com os "muros" que servem de obstáculo à paz e à tolerância nunca foi tão atual como hoje..Há muito que as relações internacionais não se viam tão complexas como agora. Entre a incerteza quanto ao papel dos EUA enquanto potência global de manutenção da paz, o Brexit, os populismos e o Vox, celebrar a reunificação de Berlim nunca fez tanto sentido. Estaremos a ser alarmistas se decretarmos, em termos globais e políticos e um pouco à semelhança do que acontece com o clima, uma "emergência democrática"? Estaremos pelo menos a tempo de sermos prudentes e de percebermos que os populismos não se alimentam apenas da manipulação de factos, informação e notícias, mas também, e cada vez mais, da manipulação da própria história e da memória coletiva..Em 2016, durante a Web Summit, correu mundo a frase "In the free world you can still find a city to live, invest and build your future. Making bridges. Not walls. We call it Lisbon". Foi uma forma eficaz de promovermos Lisboa e uma maneira de responder a uma pergunta cada vez mais premente: como promover a cultura democrática e da paz em termos concretos?.Na Web Summit, que terminou na quinta-feira, Katherine Maher, CEO da Wikimedia Foundation, cujo maior projeto é a bem conhecida Wikipédia, afirmou, com alguma ironia: "Não, o mundo não vive uma crise do conhecimento. O mundo vive uma crise de confiança." Essa crise - de valores - traz consigo a substituição do espírito crítico pela polarização tendenciosa, com os efeitos nefastos que já conhecemos. A resposta ao populismo não poderá nunca descurar a educação. Neste ano letivo, em Portugal, os alunos do 12.º ano passaram a ter a opção de escolher uma nova disciplina. Pretende-se abordar a história contemporânea e que os estudantes consigam interpretar o presente e agir de forma crítica: "História, Culturas e Democracia." A repetição da história e dos erros do passado não tem de ser uma fatalidade no futuro. A ponte, no entanto, é no presente que tem de ser feita..Deputada do PS
Passam hoje 30 anos sobre o fim do Muro de Berlim. Nunca me pareceu muito legítimo que se falasse apenas em "queda", quando se fala do célebre muro. A verdade é que foi derrubado, e pela mesma ação humana que o construiu. Se isto à partida pode parecer um pormenor menos importante, ganha outra dimensão se pensarmos que foi um momento que ficou histórico também porque, pela paz e por via do diálogo, a humanidade conseguiu uma transição na ordem internacional através do consenso. Deveu-se apenas a alguma fraqueza da antiga URSS? Ou foi, de facto, um momento inspirador na história da cultura democrática europeia, aquele wind of change que os Scorpions imortalizaram na sua célebre balada? Talvez um pouco de ambos. Certo é que a necessidade de acabar com os "muros" que servem de obstáculo à paz e à tolerância nunca foi tão atual como hoje..Há muito que as relações internacionais não se viam tão complexas como agora. Entre a incerteza quanto ao papel dos EUA enquanto potência global de manutenção da paz, o Brexit, os populismos e o Vox, celebrar a reunificação de Berlim nunca fez tanto sentido. Estaremos a ser alarmistas se decretarmos, em termos globais e políticos e um pouco à semelhança do que acontece com o clima, uma "emergência democrática"? Estaremos pelo menos a tempo de sermos prudentes e de percebermos que os populismos não se alimentam apenas da manipulação de factos, informação e notícias, mas também, e cada vez mais, da manipulação da própria história e da memória coletiva..Em 2016, durante a Web Summit, correu mundo a frase "In the free world you can still find a city to live, invest and build your future. Making bridges. Not walls. We call it Lisbon". Foi uma forma eficaz de promovermos Lisboa e uma maneira de responder a uma pergunta cada vez mais premente: como promover a cultura democrática e da paz em termos concretos?.Na Web Summit, que terminou na quinta-feira, Katherine Maher, CEO da Wikimedia Foundation, cujo maior projeto é a bem conhecida Wikipédia, afirmou, com alguma ironia: "Não, o mundo não vive uma crise do conhecimento. O mundo vive uma crise de confiança." Essa crise - de valores - traz consigo a substituição do espírito crítico pela polarização tendenciosa, com os efeitos nefastos que já conhecemos. A resposta ao populismo não poderá nunca descurar a educação. Neste ano letivo, em Portugal, os alunos do 12.º ano passaram a ter a opção de escolher uma nova disciplina. Pretende-se abordar a história contemporânea e que os estudantes consigam interpretar o presente e agir de forma crítica: "História, Culturas e Democracia." A repetição da história e dos erros do passado não tem de ser uma fatalidade no futuro. A ponte, no entanto, é no presente que tem de ser feita..Deputada do PS