Um líder surgiu na cidade submersa

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A entrada do Metro tornada cascata, casas e lojas inundadas, carros com água até ao tejadilho, imagens de uma tarde de pandemónio que deixara Alcântara, a Baixa, Entrecampos e grande parte da cidade num completo caos, em setembro de 2014. Era o retrato dos 112 milímetros médios de água que caíram sobre a cidade, fazendo daquele o quinto mês de setembro mais chuvoso desde 1931.

Num cenário trágico como o que de novo se abateu sobre Lisboa nesta noite de quarta-feira, com a chuva a deixar a cidade alagada e a causar incontáveis estragos, inesperadamente vivemos um momento raro: a humanização política. Empatizando-se com o sofrimento dos lisboetas, Carlos Moedas passou a noite e o dia na rua, a avaliar danos e a ponderar formas de os reparar, a falar com os presidentes de junta para saber de que necessitavam e inteirar-se de todos os detalhes, a alertar os lisboetas para que tomassem o máximo cuidado - "Não arrisquem, não fiquem dentro dos carros" - e a aconselhá-los quanto às soluções possíveis.

Sem dramatizar e sem tentar sobressair, sem embarcar em distrações e vias verdes para a politização fácil (ou não fossem os seus antecessores na câmara hoje primeiro-ministro e ministro das Finanças do país), o presidente da câmara foi um exemplo de liderança. Ao lado das tropas e dos cidadãos, olhou o presente e o futuro, informou-se e informou, preocupou-se em dar conta daquilo que está a fazer, da obra estrutural capaz de pôr fim ao que nas cheias de 2014 se disse ser "inevitável". "Não há capacidade de drenagem do sistema quando há precipitações daquela anormalidade, coincidindo com a maré cheia", concluía o então presidente da câmara, perante a Lisboa submersa.

Quase uma década depois, Moedas usa o retrato de Lisboa para pedir paciência aos lisboetas, não para aceitar o infortúnio, mas para encaixar o desconforto que certamente sentirão com as fundamentais obras dos túneis de drenagem aprovados pela autarquia, cuja obra arranca em março e estará pronta no início de 2025, permitindo acabar com uma "inevitabilidade" que afinal terá solução. E em contraste total com a habitual forma de fazer política, disse claramente que não contassem com ele para politizar um momento em que o importante é dar resposta - imediata e a longo prazo - à situação.

Dúvidas houvesse quanto à exceção que Carlos Moedas vai confirmando ser no panorama político nacional, os socialistas que mantêm presença na câmara não saíram à rua, mas enviaram o competente comunicado. Nele, sem perder tempo com manifestações de solidariedade, o PS vem exigir ao presidente eleito há um ano que "reavalie os planos de manutenção das principais infraestruturas e coletores" e a "possível adaptação dos meios humanos de combate" às cheias na capital. E devem saber do que falam, considerando a experiência que acumularam nos últimos 15 anos a gerir Lisboa, ao lado de António Costa e Fernando Medina.

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