Namíbia. Aqui nasceu Shiloh
Mala de viagem (124). Um retrato muito pessoal da Namíbia.

Angelina Jolie escolheu dar à luz a sua filha Shiloh na Namíbia. Na ocasião, em 2006, ela e Brad Pitt fizeram uma doação de 300 mil dólares para apoiar as maternidades do país. Porém, a relação da Namíbia com o cinema de Hollywood não se fica por aqui, pois o seu deserto tem sido o cenário perfeito para alguns dos maiores sucessos de bilheteira, como "O Voo da Fénix" (1964), "2001: Odisseia no Espaço" (1968) e "Mad Max: Estrada da Fúria" (2015). Este deserto existe há pelo menos 55 milhões de anos, o que o torna o mais antigo do mundo. No primeiro dos filmes, um avião fica avariado numa tempestade de areia, pousado em pleno deserto, pelo que é preciso fazer um outro aparelho, com as partes que sobraram do que caiu; sem alternativas e com pouca água, os sobreviventes começam a trabalhar no projeto da Fénix, o nome do novo avião. No segundo filme, o deserto é chão para a ficção científica no estado puro dada a época em que é realizado, num conto épico sobre a história e o futuro da humanidade. Finalmente, o quarto título da saga "Mad Max" também se passa neste deserto e num futuro pós-apocalíptico, onde a gasolina e a água são vistos como bens valiosos. Estes filmes representam três visões interligadas, a partir das quais se pode pensar acerca da superação do ser humano em busca do futuro. Lembro que o Papa Francisco disse que, "se os desertos exteriores se multiplicam no mundo, é porque os desertos interiores se tornaram tão vastos, [pelo que] precisamos de uma conversão ecológica que seja também uma profunda conversão interior", necessária para processos de resiliência. Em termos científicos, as condições secas dos desertos ajudam a promover a formação e a concentração de minerais muito importantes, como gesso, boratos, nitratos, potássio e outros sais, que ali se acumulam quando é evaporada a água que transportam. A vegetação mínima também acaba por facilitar a extração de minerais importantes das regiões desérticas; o deserto tem um número considerável de plantas e animais que se adaptaram para sobreviver. Os cientistas advogam que a floresta amazónica não pode sobreviver sem o deserto saariano, porque os seus nutrientes são transportados pelo vento quente, espalham-se na floresta e alimentam a flora local e permitem o crescimento das plantas. Ambos, floresta e deserto, são um importante "reciclador de carbono", pelo que, como o dióxido de carbono é responsável pelo aquecimento global, as areias do deserto podem desempenhar um papel fundamental na prevenção da entrada desse composto químico na atmosfera. O problema é que enquanto o deserto é fonte de vida e procura de futuro, há seres humanos que destroem o Planeta. O casamento entre a natureza e o ser humano pode acabar, sem que, por vezes, deixe frutos. O mesmo não se passou com o casal Angelina Jolie e Brad Pitt. Doaram fundos a instituições e a obras sociais em países mais desfavorecidos; e, nas terras da Namíbia, nasceu Shiloh, no Cottage Hospital, em Swakopmund. O Governo local ofereceu-lhe a cidadania. Se os pais são cidadãos do mundo, uma cidadã namibiana, sua herdeira, poderá fazer do seu país de nascimento uma estrela a brilhar no deserto.
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Jorge Mangorrinha, professor universitário e pós-doutorado em turismo, faz um ensaio de memória através de fragmentos de viagem realizadas por ar, mar e terra e por olhares, leituras e conversas, entre o sonho que se fez realidade e a realidade que se fez sonho. Viagens fascinantes que são descritas pelo único português que até à data colocou em palavras imaginativas o que sente por todos os países do mundo. Uma série para ler aqui, na edição digital do DN.