Poucos valores têm permanecido imutáveis ao longo da evolução da humanidade. A evolução da própria racionalização da contagem do tempo é espelho disso. Aliás, a par da noção de tempo, as próprias noções de família, de parentalidade e de género têm ganho novas dimensões. As civilizações do mundo, desde a antiguidade ao tempo presente, convencionaram diversas conceções do tempo e das suas valências. No entanto, todas tiveram, frequentemente, sempre um objetivo comum - a racionalização tendo em vista uma organização instituída, quer laboral, quer defensiva, quer social ou até no âmbito das relações de poder. De fora ficava, por regra, o tempo dos afetos e da família..Historicamente, a luta das mulheres por uma cidadania plena teve efeitos também na aceção que fazemos globalmente do tempo. Não de uma forma quantitativa, obviamente, mas qualitativa. Com a luta por uma efetiva igualdade entre homens e mulheres, a responsabilidade do tempo passado em família deixou de ser exclusiva da esfera da mulher e passou a ser algo independente do género. .A par desta redefinição surgiu coletivamente também uma crescente exigência sobre o próprio indivíduo - cada vez mais, desde o nascimento, somos bombardeados com a pressão para sermos cada vez melhores, mais completos, mais capazes profissionalmente e, em suma, mais competitivos....Qual o espaço, nesta sociedade em que o consumo estimula globalmente um ideal de perfeição e em que um determinado ideal de felicidade mais parece uma obrigação, para o tempo dos afetos e da família? A sociedade de hoje estipula que a felicidade é algo que se alcança e pela qual devemos lutar. Ninguém refuta esse facto. Mas também é verdade que a definição dessa felicidade e do processo pela qual a mesma se atinge é direito de cada um. Às mulheres, por exemplo, foi convencionado a certa altura um determinado papel restrito à esfera familiar. Quando conseguiu ultrapassar essa esfera, começou a ser-lhe exigido que fosse simultaneamente mãe, filha, trabalhadora, esposa, realizada, linda e feliz. No papel da mulher na família, a superação plena do estereótipo residirá sempre no direito pleno à liberdade das suas escolhas..Qual deverá ser o nosso contributo, enquanto civilização, para uma evolução no conceito do tempo de qualidade, da felicidade e da família? .Creio que será a implementação do paradigma da conciliação e do equilíbrio entre a vida profissional, pessoal e familiar, harmonizada com a escolha pessoal. Sobretudo, não apenas como condição de igualdade entre mulheres e homens, mas como garante de justiça laboral para todos. O Pilar Europeu dos Direitos Sociais assume-o como uma das condições justas de trabalho. Para concretizar essa resposta é preciso promover a mobilização das entidades empregadoras, da administração pública, de instituições e cidadãos em torno da promoção de práticas e medidas promotoras da conciliação como direito e como motor de aumento de produtividade e de diminuição de absentismo. A liberdade plena passa, cada vez mais, pelo direito a esta conciliação..Deputada do PS
Poucos valores têm permanecido imutáveis ao longo da evolução da humanidade. A evolução da própria racionalização da contagem do tempo é espelho disso. Aliás, a par da noção de tempo, as próprias noções de família, de parentalidade e de género têm ganho novas dimensões. As civilizações do mundo, desde a antiguidade ao tempo presente, convencionaram diversas conceções do tempo e das suas valências. No entanto, todas tiveram, frequentemente, sempre um objetivo comum - a racionalização tendo em vista uma organização instituída, quer laboral, quer defensiva, quer social ou até no âmbito das relações de poder. De fora ficava, por regra, o tempo dos afetos e da família..Historicamente, a luta das mulheres por uma cidadania plena teve efeitos também na aceção que fazemos globalmente do tempo. Não de uma forma quantitativa, obviamente, mas qualitativa. Com a luta por uma efetiva igualdade entre homens e mulheres, a responsabilidade do tempo passado em família deixou de ser exclusiva da esfera da mulher e passou a ser algo independente do género. .A par desta redefinição surgiu coletivamente também uma crescente exigência sobre o próprio indivíduo - cada vez mais, desde o nascimento, somos bombardeados com a pressão para sermos cada vez melhores, mais completos, mais capazes profissionalmente e, em suma, mais competitivos....Qual o espaço, nesta sociedade em que o consumo estimula globalmente um ideal de perfeição e em que um determinado ideal de felicidade mais parece uma obrigação, para o tempo dos afetos e da família? A sociedade de hoje estipula que a felicidade é algo que se alcança e pela qual devemos lutar. Ninguém refuta esse facto. Mas também é verdade que a definição dessa felicidade e do processo pela qual a mesma se atinge é direito de cada um. Às mulheres, por exemplo, foi convencionado a certa altura um determinado papel restrito à esfera familiar. Quando conseguiu ultrapassar essa esfera, começou a ser-lhe exigido que fosse simultaneamente mãe, filha, trabalhadora, esposa, realizada, linda e feliz. No papel da mulher na família, a superação plena do estereótipo residirá sempre no direito pleno à liberdade das suas escolhas..Qual deverá ser o nosso contributo, enquanto civilização, para uma evolução no conceito do tempo de qualidade, da felicidade e da família? .Creio que será a implementação do paradigma da conciliação e do equilíbrio entre a vida profissional, pessoal e familiar, harmonizada com a escolha pessoal. Sobretudo, não apenas como condição de igualdade entre mulheres e homens, mas como garante de justiça laboral para todos. O Pilar Europeu dos Direitos Sociais assume-o como uma das condições justas de trabalho. Para concretizar essa resposta é preciso promover a mobilização das entidades empregadoras, da administração pública, de instituições e cidadãos em torno da promoção de práticas e medidas promotoras da conciliação como direito e como motor de aumento de produtividade e de diminuição de absentismo. A liberdade plena passa, cada vez mais, pelo direito a esta conciliação..Deputada do PS