Em Israel há o risco de nas eleições de terça-feira serem eleitas menos deputadas do que as existentes. Na legislatura cessante há 35 parlamentares mulheres em 120 lugares no Knesset. Quem o diz é a autarca da cidade de Haifa. "É preocupante que possa haver menos mulheres no novo Parlamento porque os partidos escolheram menos candidatas e em piores lugares das listas. Penso que Israel está em retrocesso e em muitos aspetos", comenta Eynat Kalisch-Rotem em entrevista ao El País ..No que respeita aos direitos das mulheres, o país é uma referência para a região. A declaração de independência de Israel concede "a todos os habitantes de Israel igualdade de direitos sociais e políticos, independentemente da religião, raça ou género". Três anos depois, em 1951, o país aprovou legislação na qual garante às mulheres o direito de viver com dignidade, concedendo igualdade no trabalho, na educação, na saúde e na assistência social..A política adotada pelo Ministério da Educação obriga as escolas do Estado a oferecer oportunidades iguais para os membros de ambos os sexos e a introduzir programas destinados a incentivar uma cultura de igualdade de género..Nas sete décadas de história do Estado de Israel, dezenas de mulheres foram eleitas deputadas no Knesset, 17 mulheres fizeram parte do governo e metade dos juízes são mulheres. Quando foi eleita em 1969, a primeira-ministra Golda Meir foi a terceira do mundo a chegar ao cargo, depois de Sirimavo Bandanaraike, no Sri Lanka, e de Indira Gandhi, na Índia..Influência ultraortodoxa.Mas a participação das mulheres na política ainda tem um caminho a percorrer. Por exemplo, Kalisch-Rotem é uma exceção: só 2% dos presidentes das Câmaras são mulheres e 13% são representantes locais. E quanto à educação, a influência dos ultraortodoxos está a sentir-se com o Estado a autorizar a segregação de género em universidades, um tema controverso que vai ser decidido no Supremo Tribunal..Os rabinos ultraortodoxos têm exercido pressão para separar homens e mulheres em locais públicos como transportes ou piscinas, uma política que o Ministério da Justiça rejeita, mas que acaba por ser prática nalgumas comunidades regidas por ultraortodoxos.."Há o poder político dos partidos judaicos ultraortodoxos que têm opiniões conservadoras sobre o papel das mulheres na sociedade. E, claro, há a imigração constante que caracteriza a história de Israel, e que cria uma sociedade particularmente heterogénea", explicam três ativistas feministas no NewsMavens..Refira-se ainda que o Estado hebraico foi condenado em 2017 pela Comissão sobre o Estatuto da Mulher da ONU, não pelos direitos das mulheres israelitas mas pelos direitos das mulheres palestinianas, por ser "o maior obstáculo" sobre o seu "progresso, autonomia e independência"..Um partido feminista.Contra o retrocesso que a autarca de Haifa antevê, um partido pode fazer a diferença. Criado pela deputada Orly Levy-Abekasis, que abandonou o partido nacionalista Yisrael Beitenu, o Gesher tem o duplo objetivo de lutar pelos direitos das mulheres e de ser o fator de desempate nas eleições entre os favoritos Benjamin Netanyahu e Benny Gantz. Com o partido deste último, a antiga apresentadora de televisão e modelo chegou a ter o projeto de concorrer juntos, mas acabou por decidir levar o seu projeto a votos sozinha. E agora, Levy-Abekasis está disposta a fazer parte de uma coligação com Netanyahu desde que este não seja acusado pela justiça..O Gesher quer aprovar legislação para garantir igualdade salarial, levar mais mulheres para posições de destaque na sociedade, criar tribunais especializados em crimes sexuais, criar uma autoridade contra a violência sexual e de género, e criar uma rede de creches. "Precisamos construir uma sociedade na qual nossas meninas possam realizar todos os seus sonhos sem terem de lutar pelo direito de fazê-lo", disse Orly no comício de arranque da campanha..As mais recentes sondagens dão ao Gesher entre 2% e 2,9%, o que, a concretizar-se, não chega para eleger deputados. Em Israel a barreira mínima para eleger deputados é de 3,25%. "Os pequenos partidos determinam quem será o primeiro-ministro e são responsáveis pela legislação de segurança social", disse uma otimista Orly Levy-Abekasis ao Haaretz.