Sociedade
08 fevereiro 2023 às 00h12

Greves. Pais e alunos do Secundário exigem aulas de recuperação

No último dia de greves por distrito, em que a Fenprof espera uma "coisa extraordinária", confederação de pais diz estar preocupada e pede um reforço de aulas para os alunos.

Inês Dias

"Não gostaríamos que houvesse uma maior sobrecarga, mas estamos a ver que é o que vai acontecer. Terá de haver um reforço de aulas de apoio que permita aos alunos realizar os exames nacionais". Cerca de dois meses depois do início das greves dos professores, Mariana Carvalho, presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), admite existir uma preocupação face aos exames previstos para este ano letivo, frisando também desconhecer o modelo das provas nacionais anunciadas esta semana pelo Ministério da Educação (ME) e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES). "Ainda não conhecemos o documento, que ainda não foi divulgado, só nos podemos pronunciar sobre o que foi dito e, pelo que se sabe até agora, parece ser mais positivo do que o que tínhamos antes da pandemia, mas ainda podemos melhorar os sistemas de avaliação e exames", confessa.

No dia em que hoje se marca o fim das greves por distrito marcadas pela Federação Nacional de Professores (Fenprof), a representante dos pais adiantou que a paralisação iniciada a 9 de dezembro foi sentida de forma muito diferente nos mais de cinco mil estabelecimentos de ensino públicos espalhados pelo país.

"Sendo o último dia das greves distritais - que são greves previsíveis e de fácil gestão - poderá haver um maior alívio nas escolas, nas famílias e nos alunos. Mas as greves que estão a causar mais constrangimentos são as indefinidas, ou por tempo indeterminado", tal como a convocada pelo Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (S.T.O.P), explicou ao DN.

Nesse sentido, e tendo em conta as diferenças das greves pelos diferentes distritos do país, Mariana Carvalho defende que "tem de haver uma estratégia diferenciadora para que os alunos mais prejudicados consigam ter o mesmo nível de aprendizagem, porque há alunos com um impacto zero ou muito próximo de zero e outros em que o impacto foi grave".

"Há imensas escolas que não sentiram qualquer efeito das greves, outras estiveram um ou dois dias fechadas, o que é facilmente gerível e recuperável. Mas depois há casos de alunos que praticamente não tiveram aulas durante todo o mês de janeiro, nomeadamente na zona do Algarve e de Lisboa", frisa.

Para a Confap, é importante realizar-se um levantamento do impacto das greves nas escolas e construir estratégias que permitam aos alunos recuperar a matéria perdida. A representante da confederação lembrou que existem "muitas estratégias" que os professores podem usar tendo em conta a singularidade da sua turma, tais como constituir grupos mais pequenos de aprendizagens ou contar com a ajuda dos próprios alunos, que se podem apoiar mutuamente.

Para a Confap, também faz sentido prolongar o Plano de Recuperação de Aprendizagens criado pelo Governo para colmatar as falhas provocadas pela pandemia.

Mariana Carvalho volta ainda a apelar a um consenso entre o Ministério da Educação e os sindicatos do setor - que vão reunir-se ainda esta semana - pedindo que "se encontrem medidas que sejam satisfatórias para todos e que pensem primeiramente nos alunos", que são os principais lesados das greves dos docentes.

Para o último dia de greve por distritos, no Porto, as expectativas estão bastante altas para Mário Nogueira, secretário-geral da Fenprof.
"Eu acho que a greve, olhando para aqui, atinge, de certeza absoluta e sem medo de errar, os 98% em Viseu. E quarta-feira [hoje], no Porto, vai ser uma coisa extraordinária", contou à Lusa, frisando que o local da concentração dos docentes foi alterado para os Aliados, de forma a haver mais espaço para a "luta".

O secretário-geral da Federação Nacional de Professores acusou ainda o Governo de ser o responsável pelo facto de a adesão à greve crescer "a cada dia que passa", devido à falta de respostas para as reivindicações dos professores.

"O Governo não está a apresentar qualquer tipo de proposta que possa permitir que a greve seja levantada ou que a greve alivie", sublinhou.

Segundo Mário Nogueira, apenas tem existido "propostas do Ministério da Educação que os professores não podem aceitar" e, por este motivo, só lhes resta gritarem a exigir respeito.

"Aquilo que falta ao Ministério da Educação e ao Governo é respeito pelos nossos colegas, é respeito pelos professores, e, portanto, de cada vez que há uma reunião, há mais razões para os professores exigirem respeito", apoiou.

Neste momento, estão a decorrer três greves distintas, convocadas por várias organizações sindicais, e para o dia 11 de fevereiro, pelas 15.00, prevê-se uma grande Manifestação Nacional para "defender a profissão de professor", no Marquês de Pombal, em Lisboa.

Com Lusa