Com o ano letivo a entrar nos últimos meses e os exames nacionais cada vez mais perto, a pressão para os alunos obterem bons resultados num ambiente marcado por greves e manifestações é cada vez maior..Os centros de explicações são já há muitos anos a forma que os encarregados de educação têm para colmatar os problemas do ensino português e perante as greves dos professores que duram desde dezembro, a situação parece ter-se agravado pois em muitas escolas foram inúmeros os dias em que não houve aulas..Sandra Romão, diretora-geral dos Ginásios Da Vinci, conta ao DN que os centros de estudo trabalham para "dar resposta ao impacto das greves que têm acontecido de forma transversal ao longo deste ano letivo".."A questão das greves dos professores é outro problema que está em cima da mesa e afeta não só o próprio aluno ao longo do seu processo educativo, pedagógico e académico, mas fere também as necessidades dos agregados familiares - pais que trabalham durante o dia e não têm onde deixar os seus filhos", explica..Nesse sentido, "os centros de estudo têm procurado, na sua generalidade, estar presentes no sentido de reforçar a capacidade de resposta em relação aos agregados familiares que, havendo greve, não têm onde colocar os seus filhos. Houve ainda uma resposta ativa no sentido de criar um reforço do conteúdo pedagógico que não foi dado nas aulas"..Apesar de terem acrescido as dificuldades dos alunos - especialmente dos que ficaram sem aulas devido às greves - a diretora dos 40 centros de explicação espalhados por todo o país admite que não ocorreu um "aumento significativo da procura decorrente diretamente da falta de aulas".."Verifica-se um crescimento de inscrições gradual ao longo dos meses, mas não uma adesão substancial em relação à procura de centros de estudo para repor as aulas que os alunos não tiveram", frisa..Assim sendo, os alunos do ensino secundário são os que mais procuram apoio, tendo em conta a preparação para os exames nacionais e entrada no ensino superior: "Existe uma dificuldade da aprendizagem dos alunos não só devido às greves dos professores, mas também graças a todo o período de confinamento. Foi um acumular de um conjunto de variáveis que vão levando a que os alunos sintam uma necessidade de acompanhamento para o reforço dos conteúdos, face aos exames nacionais"..Para Sandra Romão, "as greves são uma preocupação de todos os atores que fazem parte daquilo que é o parque educativo - quer sejam as famílias ou os próprios professores - uma vez que não se encontra uma linha de entendimento que esteja consumada entre o Governo e a luta dos professores". Portanto, as consequências e dificuldades sentidas nas escolas chegam também aos centros de estudo, entre elas a falta de professores, que também se faz sentir na comunidade de explicações.."Tendo em conta o panorama atual das dificuldades ao nível dos professores, não só as escolas e os agrupamentos, mas também os centros de explicação vão sentindo estas dificuldades na identificação de professores que possam colaborar", diz Sandra Romão.."A falta de professores é transversal a todo o setor educativo em Portugal: ensino particular, ensino público ou ensino complementar de apoio pedagógico - que é o caso dos centros de estudo", completa.."Existem duas situações: A primeira são as famílias que têm possibilidades financeiras e que acabam por inscrever os seus filhos em centros de estudo ou recorrem a professores que dão explicações particularmente. E a segunda situação são os pais que não têm disponibilidade económica e não conseguem pagar explicações aos seus filhos, que acabam por ser os mais prejudicados"..Mariana Carvalho, presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), considera que o inevitável recurso aos centros de explicações, considerando os desafios de aprendizagem atuais, podem "evidenciar as desigualdades económicas e sociais do sistema" português..Numa altura em que a subida dos preços causada pela inflação dificulta a vida de muitas famílias, a presidente da Confap alerta que nem todos os jovens conseguem ter um apoio extracurricular e que a escola deve ser o principal "companheiro" no percurso curricular dos alunos. No entanto, visto que "os pais tentam recorrer à melhor solução para os seus filhos", são forçados a procurar ajuda junto de professores e explicadores, fora das instituições de ensino.."É necessário haver um ensino público de qualidade em que não exista a necessidade de recorrer a estas explicações privadas. O nosso ensino deveria acompanhar os nossos alunos e corresponder às suas dificuldades. Se os alunos vão fazer um exame, é necessário garantir a aprendizagem na escola. Todos os alunos devem ter um nível equivalente de aprendizagem", conclui..ines.dias@dn.pt