Vai viajar de carro pela Europa? Abasteça em Espanha, evite Portugal, França e Itália

Quase 3600 quilómetros separam Lisboa de Sófia, na Bulgária, o país europeu onde a gasolina é mais barata e um depósito cheio custa menos 22 euros. Portugal tem a quinta gasolina mais cara da UE, que volta a subir já na segunda-feira
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As férias de verão estão à porta, e se o plano é aventurar-se Europa fora, numa viagem de carro à descoberta do Velho Continente, saiba que Espanha, mesmo aqui ao lado, é uma boa opção ao nível dos preços dos combustíveis para os turistas portugueses que escolham esta opção para os tão aguardados dias de descanso. Partindo de Portugal, que é o quinto país da União Europeia com a gasolina mais cara, é recomendável encher o depósito ao máximo antes de deixar a Península Ibérica e atravessar os Pirenéus. É que os preços da gasolina e do gasóleo voltam a subir assim que se passa a fronteira para França e Itália, só voltando a descer depois no Leste Europeu.

Mas antes de fazer as malas e atestar o carro para a viagem, saiba também que o preço dos combustíveis vai voltar a subir em Portugal já na segunda-feira, somando mais meio cêntimo nos preços da gasolina e do gasóleo na hora de ir à bomba, de acordo com fontes do setor. A gasolina vai passar a custar 1,579 euros por litro e o gasóleo 1,363 euros, o preço mais alto desde 2014.

Mostram os dados mais recentes do Eurostat que só a Holanda (1,67 euros), a Dinamarca (1,64), a Itália (1,63) e a Grécia (1,63) pagam a gasolina mais cara do que Portugal neste momento. Excluindo impostos, Portugal tem a terceira gasolina mais cara, depois da Dinamarca e da Espanha. No gasóleo, Portugal é o décimo mais caro, ultrapassado por Suécia (1,52 euros), Itália (1,51), Bélgica (1,49), Reino Unido (1,48), França (1,45), Grécia (1,41), Dinamarca (1,41), Finlândia (1,38) e Holanda (1,36). A média da UE 28 ronda os 1,45 euros para a gasolina e os 1,35 euros para o gasóleo.

"Os preços em Portugal estão normalmente acima da média europeia por três razões: maior carga fiscal, nível de incorporação de biocombustíveis superior à média, rede de retalho muito densa com vendas médias por posto inferiores e, portanto, menos diluição dos custos fixos", explicou João Reis, responsável da Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas (Apetro).

Abastecer: onde é mais barato e mais caro?

O país com a gasolina mais barata é a Bulgária (a quase 3600 quilómetros de Portugal), onde atestar o depósito não vai além dos 1,13 euros por litro. Para um depósito com 50 litros, neste país do Leste Europeu a fatura à saída da bomba ficaria assim nos 56,5 euros, menos 22 euros do que em Portugal, onde a mesma quantidade custa 78,7 euros. Já na Holanda, a campeão dos preços altos, os mesmos 50 litros de gasolina custam 82,5 euros (mais 26 euros do que na Bulgária). No gasóleo, a conta que mais pesa na carteira é a dos suecos, que por 50 litros pagam 76 euros. No extremo oposto está o Luxemburgo, como o mais barato no diesel, com 1,10 euros por litro e 55 euros por depósito, menos 21 euros do que na Suécia.

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A seguir à Bulgária, os países da UE com a gasolina mais barata são a Polónia (1,14 euros por litro), Hungria (1,19), Roménia (1,22), Lituânia (1,25), Luxemburgo (1,25), República Checa (1,27) e Áustria (1,28).

Aqui mesmo ao lado, Espanha também apresenta preços competitivos (abaixo da média europeia), o que leva muitos portugueses que moram mais perto da fronteira a viajar até ao país vizinho para comprar combustível. A poupança é significativa: com a gasolina a 1,32 euros e o gasóleo a 1,22 euros, isto traduz-se em menos 12 euros e menos sete euros, respetivamente, por abastecimento de 50 litros. Isto faz que muitos portugueses "optem por abastecer em Espanha, onde os preços são inferiores, devido a uma muito menor carga fiscal", explica João Reis, da Apetro.

Francisco Albuquerque, presidente da Associação Nacional de Revendedores de Combustíveis, sublinha que a "elevada carga fiscal em Portugal acarreta problemas de concorrência e perda de competitividade face a Espanha" e defende o fim do adicional do imposto sobre os produtos petrolíferos (ISP) introduzido pelo governo. "Fomos dos primeiros a levantar a voz contra esta medida que penalizou as bombas na zona da fronteira, porque agravou ainda mais as diferenças em relação à Espanha."

Fim do adicional do ISP à vista em 2019

O tema do preço dos combustíveis está definitivamente na ordem do dia, com o Parlamento a aprovar recentemente a eliminação do adicional do ISP. Resta agora saber se a medida irá constar do Orçamento do Estado para 2019, tendo em conta a importância deste imposto para os cofres do Estado: nove milhões de euros por dia, nos primeiros três meses deste ano. O secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, António Mendonça Mendes, já avisou: reduzir a receita fiscal não assegura uma redução do preço de venda ao público dos combustíveis.

Pelo contrário, António Comprido, secretário-geral da Apetro, garantiu que "a descida do imposto será repercutida nos preços de venda ao público" e as petrolíferas não vão encaixar o lucro. "A cadeia de valor não vai absorver essa diferença de maneira nenhuma." A Apetro quer que o governo garanta "as condições para o funcionamento do mercado de forma competitiva, revendo em baixa o valor do ISP, da CSR e da taxa da carbono".

No contexto europeu, Portugal tem a quinta carga fiscal mais elevada na gasolina (depois de Holanda, Grécia, Itália e Finlândia) e a décima no gasóleo. Os impostos representam assim 63% do preço de venda ao público da gasolina e 56% do preço do gasóleo. Segundo a Autoridade da Concorrência (AdC), os custos de política fiscal reclamam o maior peso nos preços de venda ao público dos combustíveis rodoviários, tendo aumentado 56% no gasóleo e 26% na gasolina desde 2004. A maior fatia vai para o ISP, que pesa 44,3% na gasolina e 36,8% no gasóleo. Em 2016, o governo aumentou o ISP em seis cêntimos por litro para corrigir a perda de receita fiscal resultante da diminuição da cotação internacional do petróleo.

Além da carga fiscal, as petrolíferas sublinham ainda o impacto da incorporação de biocombustíveis tanto na gasolina como no gasóleo, para o aumento dos preços de venda ao público. Galp, Repsol e BP são, de acordo com a AdC, as três maiores operadoras a atuar na venda a retalho de combustíveis rodoviários, com 56% da quota de mercado. Contactadas pelo DN/Dinheiro Vivo, nenhuma das empresas quis pronunciar-se.

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