Boris Corbyn
Para a semana (quinta-feira, 12), já todos saberemos o que vai acontecer ao Reino Unido. Ganha o aldrabão do Boris Johnson, que é o mais provável à hora atual das sondagens, e o Brexit acontecerá. Ou ganha o cágado do Jeremy Corbyn e continuaremos sem saber se há Brexit ou não. Quer dizer, saberemos o que é mau; ou saberemos o que é pouco.
Se houver uma maioria de voto conservador, é a decisão que tem consequências mais francas sobre a Europa: eles brexitam mesmo. E não só saem, como essa decisão pode levar a Escócia a referendar a sua independência e as Irlandas a unir-se. Quer dizer, ao partir, e por partir, o Reino Unido pode partir-se. Tudo mau.
As incertezas políticas no Reino Unido começam a ser tão habituais que mesmo as más certezas ganham algum encanto. Vivo atónito desde aquela madrugada depois do referendo de junho de 2016. Deitei-me com um suspiro de alívio, os resultados não pareciam tolos, "claro, eles não podiam ser tão absurdos", disse a uma amiga, mas acordei com o telefonema dela: "Foram!"... Mas já lá vão três anos e meio, quase apetece passar a nova fase.
Então, seja, Boris ganha e aplica o slogan conservador destas eleições gerais, "Get Brexit done", "Façamos o Brexit", e ele o fará. Será bem menos duro do que ele obrigou Theresa May a ameaçar defender, em rutura com a União Europeia. Depois, ela resignou, ele substituiu-a e acabou por acordar com a União Europeia, em outubro passado. Agora, se vitorioso nas urnas, Boris Johnson fará um acordo comercial com a UE. Comercial e só, porque para ele a Europa não tem outro interesse.
O acordo será em desacordo com a dureza que ele exigia a Theresa May? Certo, mas agora ele é primeiro-ministro. O acordo será prejudicial ao Reino Unido? Claro que o será, porque o referendo de 2016 foi defendido por ele e o seu cúmplice Nigel Farage, mentindo ambos sobre os custos da saída - mas agora Boris Johnson é primeiro-ministro. O campeão do Brexit duro vergou-se às exigências da União Europeia que se limitou a não ceder ao estabelecido na adesão entre iguais (os países da União Europeia e o seu parceiro Reino Unido) que o experimentado jornalista em Bruxelas Boris Johnson e o experimentado deputado em Bruxelas Farage estavam fartos de conhecer? Sim, mas agora Boris Johnson vai conseguir eleger-se primeiro-ministro.
Sim, sim, sim, mas isso, dizer e desdizer, ser duro na conquista da cadeira do poder e manso em mantê-la - e, já agora, também o vice-versa se ele der jeito - não é coisa incomum dos dois lados do canal da Mancha. E continuará a ser praticado dos dois lados antes e depois do Brexit. O novo, neste caso, não está no uso despudorado da mentira para perseguir uma ambição. Nem está na cegueira política ao não se entender a exigência de uma Europa unida. O novo, a indecência, está na aceitação em arriscar-se o que se arrisca.
"Paris vale uma missa", disse um dia um protestante francês, aceitando confessar-se e engolir hóstias em troca de se tornar rei. Boris Johnson bem mais caro vende a pátria - arriscar a unidade dela - pelo prémio de uma simples porta, "10 Downing Street". O Reino Unido, depois do Brexit, de ganho talvez só venha a ter um prefixo: ex-. E a Europa fica mais fraca.
Perante tamanha eventualidade, nestas eleições, os trabalhistas foram liderados por um anacronismo, Jeremy Corbyn. Ele vai dizendo que, caso ganhe, fará um segundo referendo sobre o Brexit. Mas sobre esse voto - sair da Europa, sim ou não - ele esconde-se... Como pode um líder não ter uma opinião clara sobre uma decisão tão definitiva e dramática como o Brexit?