Apoio de praia ou praia de apoio?

As ondas, o mar e os imensos areais estão no sítio de sempre mas a relação com eles permanece incerta, são inúmeras as restrições que suprimiram a liberdade de se dar um mergulho sem mais razões, o tempo do confinamento levou-nos isso e tantos outros prazeres da vida. Mas nem tudo está perdido, apenas o modo de usar é diferente. Temos de nos pôr em festa, que é em festa que estamos. E aproveitar para conhecermos bons restaurantes de praia.

Quisemos percorrer de norte a sul alguns pontos estivais fulcrais, daqueles que tanto explicam as praias como, ainda que temporariamente, nos tornam donos delas. Não há português que não tenha a sua praia, assim como não há verão sem sardinhas, marisco e peixe grelhado. Foi por um triz, mas parece que vamos poder de novo satisfazer a volúpia da praia, onde não conseguimos andar depressa mas andamos em total liberdade. E seja com cerveja, sangria ou sumo, parece que recuperámos o direito a uma refeição junto ao mar.

Devo aqui confessar a minha perplexidade perante a possibilidade de perder o mar que de repente senti. Ficamos tristes sem mar e o mar para nós, portugueses, não é paisagem, é tocar-lhe, sentir-lhe o cheiro e o ruído. Nunca fui de ficar horas estendido numa toalha ao sol, sempre fui mais pelos banhos, tropelias com a criançada e caminhadas vagarosas de fim de tarde.

E apesar do gosto pela mesa, nunca foi na praia que encontrei o espaço de realização que tenho nos muitos santuários que me orientam nesta vida complexa mas tão cheia de compensações. O repto feito para elencar restaurantes de praia, juntamente com a vontade de voltar sem condições para o pé do mar, lavou totalmente o meu preconceito quanto aos restaurantes de praia, a que sempre me referi como apoios de praia.

A partir de agora, inverterei, e passo a chamar praia de apoio à praia que serve os muitos grandes restaurantes da nossa costa. Que os há, e variados. Fica aqui uma modesta contribuição de ótimas mesas, servidas por praias de apoio! Boas descobertas! Bom verão!

Zizi

Rua Mar - Praia da Aguda
4410-332 Vila Nova de Gaia
Tel.: 227 620 728
12.00-15.00; 19.30-22.00
Fecha: domingo ao jantar e segunda
Preço médio: 30 euros

Vera Ferreira é a cara e a alma deste renovado e requintado templo marítimo. Fundado em 1969 por seu pai, Manuel Ferreira, o Zizi é a um tempo lugar de retiro e ponto de encontro. Não sou dado à crítica de decoração de interiores, mas sou forçado a dizer que a paz que se sente desde que aqui se entra até bem depois de já se ter saído é reforçada pelos tons suaves presentes nos mais pequenos pormenores da elegante sala, apetecendo ficar. Renovação bem conseguida, ganhou vocação cosmopolita e podíamos estar numa pequena casinha isolada da Bretanha como num chiringuito exótico da Camarga. Viajamos sempre que aqui estamos sentados à mesa, servidos pelas maravilhas culinárias e de produto de sempre. Peixe belíssimo, cascaria de primeira e os pratos que aqui nos obrigam a voltar. É campeão o arroz de robalo, um luxo, note-se, já robalos de linha há-os aqui de supimpa qualidade, mas este tachinho secreto tem encantos que não dá para contar. As caldeiradas de peixe ou de polvo com camarão vêm-me muitas vezes à memória, pela elegância e pela precisão com que são processadas.

Clube de Vela

Av. José Estêvão
Costa Nova
3830-435 Ílhavo
Tel.: 234 360 250
12.00-22.30
Fecha: domingo ao jantar
Preço médio: 28 euros

Tem mais de 25 anos de história esta sala de bem comer implantada no coração da Costa Nova e não há amigo do mar que aqui não tenha feito uma refeição. Acaba de passar de mãos, Manuel Santos é o novíssimo timoneiro. Venezuelano de nascimento, é empresário de mão-cheia e tem dado alma nova a espaços de sempre, caso, por exemplo, do vizinho Canastra do Fidalgo. Pensou, repensou e finalmente abraçou o projeto que intimamente sempre quis que fosse seu, e o resultado está à vista de quem o quiser ver. Mesmo quando se passa na avenida já se vê que mudou. Continua, contudo, a ser a cara da casa o cardápio diversificado de cascaria, peixe e o bacalhau, que continua a estar na ordem do dia. Há motivos para sorrir no lado carnívoro, além dos vários bifes faz-se um chuletón maturado que outrora não havia. Mas o que sabe mesmo bem é a excelência ter voltado a esta casa.

Tubarão da Bebé

Av. 25 de Abril, 14
3080-086 Figueira da Foz
Tel.: 233 045 745
11.30-22.30
Fecha: segunda ao jantar e terça
Preço médio: 16 euros

O projeto Carrossel da Bebé, na Gala, ajudou-nos a todos muito na leitura do receituário de pescador e sempre ali íamos em festa justamente por isso. A Bebé Cardoso é a mesma e está com o seu filho bem ancorada agora noutro porto, em plena avenida principal da muito sua Figueira da Foz. Mulher de muitos segredos, sabe que não é olhando para trás que se consegue andar com força para a frente e a Bebé anda sempre com força. Obrigatório conferir as suas sopas, assim como obedecer ao novo modo de usar, através dos muitos petiscos disponíveis entre as 16.00 e as 19.30. Como sempre, a pensar em nós, passantes errantes que nem sempre conseguem planear as fomes e os apetites. Os sentidos e o sentimento esses estão todos no mar.

Magna Carta Wine & Food

Rua António C. Sousa Luz
2445-130 Paredes da Vitória
Tel.: 244 599 114
12.00-15.00; 19.00-22.00
Fecha: domingo ao jantar e segunda
Preço médio: 30 euros

Luís Bento e sua mulher, Marina, passavam férias por aqui. Num belo dia aconteceu o duplo clique, a um e a outro subiu a mesma vontade de pegar numa das casas que orlam a fantástica praia de Paredes da Vitória e começar uma nova vida. Estamos praticamente no areal e apetece o debulhe informal da rica cascaria de que a casa dispõe. Há sempre peixes do dia e o melhor marisco, os tachos, contudo, merecem inspeção e prova aturada, faz-se bom caril de camarão e o arroz de lingueirão é de truz. A caldeirada à antiga fragateira que aqui dá pelo simples nome de caldeirada é de receita e mão inspiradas, e há bons bifes, que estar com os pés na areia não puxa só peixe. Casa venerável apesar de recente, vive-se aqui o vinho de forma especial.

Nortada

Av. Alfredo Coelho, 8
Praia Grande
2705-329 Colares
Tel.: 219 291 516
12.00-16.00; 19.00-22.30
Fecha: terça
Preço médio: 30 euros

Ao almoço está-se tão bem cá fora como lá dentro, ambos os espaços têm igual matriz rústica, voltados para o mar. A localização é única, autêntico promontório instalado no cabeço norte da Praia Grande e é quase pecado não ficar ou chegar para assistir ao extraordinário pôr-do-sol que diariamente aqui acontece. Luís Silva gere a casa num registo de franca familiaridade e orgulha-se da pescaria e da cascaria que tem sempre para oferecer. A grelha é manuseada com mestria e a sequência copiosa de petiscos merece visita. É lugar para vir sem pressa de partir, até porque após a primeira visita só se chega, nunca mais se parte. É bom ir em grupo, para partilhar, por exemplo, um bom pregado e depois passar a uma carne bem escolhida, sem dispensar a fase inicial dos petiscos do dia.

Praia Dourada

Praia dos Pescadores
Rua da Praia
8365-114 Armação de Pêra
Tel.: 282 310 230
10.00-22.00
Preço médio: 30 euros
Não fecha

Está a reabrir agora mesmo este restaurante, um dos três pertencentes ao Vila Vita Parc instalados em plena praia, cada um com sua vocação. A reabertura era há muito desejada e está agora a acontecer, para gáudio dos amantes dos bons momentos à mesa com os pés entre a areia e o mar. Há sempre bom peixe para emprestar à grelha, e muitas preparações diferentes, de inspirações diversas. Bom sushi, por exemplo, maravilhoso flatbread de camarão panado, poke bowl misto, ceviche branco com maracujá, tacos de peixe e gambas grelhadas com arroz de coco são motivos mais do que suficientes para justificar um dia bem passado. Da grelha sai ainda carne de categoria distintiva e, apesar de se tratar de um espaço ligado a uma unidade hoteleira, o acesso é público, sem restrições.

Grand Beach Club

Ponta da Areia
8900-227 Vila Real de Santo António
Tel.: 281 543 025
10.00-19.00
Não fecha
Preço médio: 35 euros

Tudo o que está a acontecer no Grand House, antigo Grande Hotel do Guadiana totalmente renovado e rebatizado, devia ter divulgação diária, tal a novidade e a qualidade do que ali está a acontecer. O chef alemão Jan Stechemesser, radicado em Portugal há 18 anos, está como peixe na água. Seguindo a linha da marina até ao fim, damos com esta beach house muito especial, paraíso silencioso onde quase estamos com os pés na água. Espaço onde o chef espraia saberes diferentes ao mesmo tempo que dá provas do imenso arsenal técnico e culinário de que dispõe, e que a postura descontraída e natural nem sempre deixam antever. É bom chegar com fome e deixar-se levar pela sequência estabelecida, pois há muito do próprio Algarve à mesa que é desconhecido da maioria dos portugueses, e está aqui disponível, graças ao empenho do jovem cozinheiro. Caso, por exemplo, de uma bruschetta de estupeta de atum servida com pesto de ervas aromáticas, e do gaspacho algarvio, que vem com tostas de sardinha em pão de alfarroba.

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