O Estado, a emergência e a Europa

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Com Portugal aos comandos, arrancou a presidência rotativa da União Europeia. O clima, o digital e o social são três pilares importantes que marcarão as políticas públicas no próximo semestre. Assim dito, até parecem termos vagos ou apenas conceitos, mas traduzidos para a economia real são da maior importância. As alterações climáticas estão à vista e já influenciam as nossas vidas e os nossos trabalhos; o digital promete mudar os empregos, as empresas e a forma como nos relacionamos com o Estado, sobretudo se a máquina da administração pública conseguir concretizar a modernização há muito prometida; e em termos sociais é preciso não deixar ninguém para trás e passar das palavras aos atos, nos 27 países. Em toda a Europa a pandemia está a gerar uma gigantesca onda de novos pobres e "um exército de desempregados", citando António Costa Silva, consultor do governo e autor do documento que reúne a Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica.

A bazuca será a arma que permitirá ajudar a recuperar a economia europeia. Vai ser preciso aplicá-la de forma eficaz e não desperdiçar balas, optando pelos investimentos certos e estruturantes para o país e para a Europa. Cortar fitas, inaugurar rotundas e pavilhões gimnodesportivos ou alcatroar estradas já não é suficiente e muito menos desejável. É necessário pensar o país e a Europa para a nova década, num cenário pós-pandémico em que todos os setores económicos saem fragilizados e, nalguns casos, ainda vão demorar até conseguirem desligar-se do ventilador. Hotelaria, restauração e agências de viagens irão enfrentar mais um ano de forte contração.

Ligado ao ventilador começa a estar, de novo, o sistema nacional de saúde à medida que os contágios e mortes por covid-19 disparam. Portugal registou ontem mais 90 mortes e 4956 novos casos, em apenas 24 horas. Há 3260 doentes internados e 512 estão em unidades de cuidados intensivos. O alarme exige novo decreto presidencial que renova o estado de emergência, ontem aprovado pelo governo. Para já vai vigorar durante uma semana, entre 8 e 15 de janeiro. O Presidente quer ouvir, de novo, os especialistas e epidemiologistas, antes de propor novas medidas. Os médicos pedem mais restrições para que os hospitais públicos aguentem esta vaga, que para muitos é já a terceira.

Hoje vale a pena ainda recordar neste editorial os três grandes vultos da cultura portuguesa que nos deixaram no espaço de um mês e que o DN homenageou nas suas edições: a 1 de dezembro partiu Eduardo Lourenço, filósofo e ensaísta; a 1 de janeiro morreu Carlos do Carmo, fadista; e a 5 de janeiro deixou-nos João Cutileiro, escultor. Lusitanos de exceção que deixam obra feita e premiada e são referências importantes para as gerações futuras.

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