Empregos criados são precários e de baixos salários
Os empregos criados durante os meses do verão foram precários, de baixos salários e para trabalho a tempo parcial. São os canários na mina: os primeiros a sofrerem o impacto da crise e também os que mais depressa regressam ao mercado de trabalho dado o vínculo mais frágil.
E é isso que está a acontecer com o emprego criado no terceiro trimestre deste ano. Entre julho e setembro houve um aumento de 68,7 mil postos de trabalho face ao segundo trimestre do ano, apesar de ainda não ter recuperado para os níveis do início do ano.
Tendo em conta os dados divulgados ontem pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) é possível perceber que tipo de empregos foram criados. A análise é feita com os trabalhadores por conta de outrem (TCO).
Foi na categoria de "outras situações" - que inclui os mais precários dos precários, como os temporários ou prestadores de serviços - que se verificou o maior aumento, de 26,5% face ao segundo trimestre, de 92,1 mil trabalhadores para 116,5 mil. Nos contratos a prazo verificou-se uma descida muito pequena (0,2%), o que indica que há contratos que acabam e não são renovados. Para lugares no quadro, houve um ligeiro reforço de 1,4%.
Outro indicador que nos aponta a qualidade dos empregos criados é o salário líquido pago (já sem impostos e contribuições) e foi nos escalões mais baixos que também mais aumentou. De acordo com os cálculos do DN/Dinheiro Vivo, para o escalão de rendimento até 310 euros por mês entraram cerca de 16 700 pessoas, representando um aumento de 25,4%. Para o escalão seguinte - até 600 euros - mais 15 700 pessoas do que no segundo trimestre. Nos dois degraus seguintes assistiu-se a uma descida no número de pessoas e depois volta a aumentar nos escalões mais elevados. No caso do último nível de rendimento considerado pelo INE (3000 euros e mais) há cerca de 43 300 pessoas, um valor que se manteve inalterado face aos meses de abril a junho.
Mas também o trabalho a tempo parcial, considerando agora o total da população, teve um reforço mais acentuado de 6,4%, face ao segundo trimestre, enquanto no caso do trabalho a tempo completo teve um crescimento abaixo de 1%.
O número de pessoas desempregadas no terceiro trimestre disparou mais de 45%, registando a maior subida trimestral desde 2011, quando se iniciou a atual série do INE. Face aos três meses anteriores são mais 125 700 pessoas sem trabalho, atirando a taxa de desemprego para 7,8%, mais 2,2 pontos percentuais, para um total de 404,1 mil portugueses.
Esta subida é explicada pela forma como são contabilizadas as pessoas no desemprego e que obedece a regras internacionais. Neste caso, o alívio nas medidas de confinamento fez aumentar a taxa de desemprego, permitindo às pessoas saírem de casa e procurarem emprego ou estarem disponíveis para começarem a trabalhar, e que foram contabilizadas como inativas.
Mais uma vez e fazendo a análise trimestral, o contingente de pessoas sem trabalho engrossou devido ao desemprego das mulheres (66,7 mil, 48,5%); das pessoas com 45 ou mais anos (43,6 mil, 45,6%); com um nível de escolaridade baixo até ao terceiro ciclo (50,6 mil, 49,0%); à procura de novo emprego (118,5 mil, 46,8%); sobretudo do setor dos serviços (88,0 mil, 49,3%) e à procura de emprego há menos de 12 meses (78,4 mil, 44,8%).