Já vamos tarde na tarefa de evitar o surgimento de partidos populistas ou extremistas. Eles estão por toda a parte, crescendo. O desafio que se coloca é outro: como lidar com eles, agora que existem e estão em vários graus de poder? Este desafio é tanto mais premente quanto esses partidos começam a ser essenciais para formar maiorias em contextos de mudança..Há quem defenda uma espécie de cordão sanitário, excluir esses partidos de qualquer diálogo, acordo. Essa é a forma, defende-se, de ser coerente com os nossos valores: permitir um acordo parlamentar ou de governação com esses partidos será uma cedência intolerável..Há quem defenda, pelo contrário, que esses partidos devem ser forçados a fazer parte do sistema, provocando o que sempre sucede quando se exerce o poder e se encontra com a realidade: incoerências, cedências, desilusões. Sem isso, defende-se, esses partidos continuarão de fora, na coerência total, a agremiar descontentamentos..Esta segunda opção exige, do meu ponto de vista, que se avalie bem se o partido em causa é mesmo inaceitável, intolerável, imprestável para qualquer acordo, ou se, pelo contrário, se trata de um partido com quem é possível, com todas as imensas diferenças, chegar a um acordo mínimo..No âmbito da sua visão de sociedade, o partido recusa o sistema, a democracia representativa, a igualdade, a liberdade, querendo impor a todos a sua visão ao invés de exigir que a sua visão seja também respeitada? No âmbito da sua ação política, o partido deslegitima a oposição, incentiva a violência e a criminalidade, recusa as instituições democráticas, defende abertamente ditaduras e afirma a superioridade étnica? Estas são perguntas importantes e não é nada claro que partidos que muitos consideram inaceitáveis respondam afirmativamente a estas perguntas..Ainda estou em processo de reflexão sobre esta matéria, sobre estas duas opções, mas é para mim claro que devemos encontrar uma resposta para este desafio. Porque ele nos está a ser colocado, e vale de pouco meter a cabeça na areia, à espera de que passe..Uma análise no insuspeito jornal eldiario.es (insuspeito porque tão conotado com a esquerda que aparenta só considerar populismo aquilo que vem da direita), publicada a propósito do dilema dos partidos da direita sobre um acordo com o Vox (devem fazer um acordo, acabando com décadas de poder socialista na Andaluzia?), mostra como esses partidos vão perdendo votos à medida que são testados pelo poder. Ao contrário, se mantidos à margem, preservam rotas de crescimento..Ainda que seja cedo para grandes conclusões, porque vamos precisar de mais tempo para testar as hipóteses, é altamente revelador que os partidos populistas estejam a perder gás em países onde foram chamados a partilhar o fardo do poder, nacional ou local, como na Noruega, na Grécia, em Espanha ou na Dinamarca..Talvez fosse útil olhar de forma desapaixonada, pragmática, para a questão, se queremos vencer este desafio..Advogado e vice-presidente do CDS