Jornada Mundial da Juventude: já se pode falar do que importa?
O que vai acontecer em Lisboa nos primeiros seis dias de agosto é tão somente o maior evento que Portugal alguma vez recebeu. Algo capaz não apenas de trazer ao país um retorno imediato que se aproxima de 400 milhões de euros - faturados na receção de 1,5 milhões de pessoas esperadas para a Jornada Mundial da Juventude, que terão de dormir e comer, vão deslocar-se e consumir pelo menos durante toda aquela semana -, como de projetar a nossa imagem por longos anos.
Quem se recorda do sucesso que foi a Expo"98 pode ter, pelo menos, uma base sobre a qual fazer contas à quantidade de nacionalidades que se estrearam em Portugal e que por nós se encantaram, repetindo a experiência e contagiando outros nos seus países de origem. O número de peregrinos esperados para a Jornada Mundial da Juventude é três vezes superior à média de pessoas que essa grande exposição recebeu por dia. Podemos também lembrar os efeitos secundários do que foi então o maior evento alguma vez aqui organizado desde a Exposição do Mundo Português (1940) - que transformou Belém e nos deixou o Padrão dos Descobrimentos, o Jardim da Praça do Império, o Museu de Arte Popular, a Estação Fluvial de Belém, etc. -, que se materializaram na transformação de uma zona degradada e decadente de Lisboa, num dos bairros mais valorizados da capital, pleno de vida e de emprego, carregado de equipamentos lúdicos, turísticos e culturais.
Imagine-se então, além do efeito imediato, o que a Jornada Mundial da Juventude pode fazer por um país cuja economia depende tanto do turismo como o nosso, por um Portugal envelhecido e desesperado por captar e fixar os jovens que lhe fazem falta, por um território em permanente carência de renovação, de inovação, de expansão, de imaginação, de transformação.
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E, no entanto, em vez de nos alegrarmos e puxarmos por um momento que pode verdadeiramente empurrar Portugal para a frente e para cima, concentramo-nos na mesquinhez das contas de mercearia, debatemo-nos na espuma da cada vez mais vazia e suja luta política. Desprezamos a oportunidade de uma década e fazemo-lo com megafones, projetando a pior mensagem possível entre aqueles que devíamos estar a atrair.
O orgulho nacional foi substituído pelo desprezo nacional, o autoelogio pela automaledicência. É triste. E impede-nos de lutar pelo país que devíamos estar a construir e a anunciar ao mundo. O que queremos deixar aos nossos filhos.
NOTA DA DIREÇÃO
A direção do DN agradece o contributo e a dedicação de Sebastião Bugalho em mais de dois anos como cronista deste jornal. A sua frescura, irreverência e pertinência de análise enriqueceram esta marca editorial. Sebastião Bugalho abraça agora novos desafios e a direção deseja-lhe as maiores felicidades.