A democracia perdeu um dos seus maiores
Fui admirador e amigo de Diogo Freitas do Amaral, colaborei com empenho e responsabilidade na sua campanha à Presidência da República em 1985/86 e noutras iniciativas de natureza política e social. Por isso, estou triste com a sua morte.
Diogo Freitas do Amaral merece um lugar de destaque na história do Portugal democrático. Bateu-se pela liberdade ameaçada durante o período revolucionário que se seguiu ao 25 de Abril, teve a coragem de votar contra a Constituição que, nalguns aspetos, mais tarde corrigidos, atentava contra aos princípios democráticos e o Estado de Direito. Bateu-se sempre por um Portugal moderno, aberto à Europa e ao Mundo. Nos combates em que se empenhou fê-lo sempre com tolerância, respeitando os adversários, nunca cedendo à tentação da demagogia e do populismo.
Recordo uma reunião do círculo político da sua campanha presidencial em que se discutiu quem era o adversário que mais deveríamos combater. Sabíamos que uma segunda volta com Salgado Zenha ou Maria de Lurdes Pintassilgo seria mais fácil para Diogo Freitas do Amaral. Nessa lógica, o avisado seria combater Mário Soares. A opção foi outra; para o País seria bem mais importante e esclarecedor que a segunda volta fosse entre os dois candidatos moderados, e foi essa a opção que o nosso candidato perfilhou. Acho que o País ficou bem com Mário Soares como presidente, teria ficado igualmente bem com Diogo Freitas do Amaral.
Foi criticado por incoerência no seu percurso político, principalmente pelos do partido que fundou. Na minha opinião, não foi ele que mudou nas suas convicções fundamentais. Sempre o vi defender os mesmos princípios desde que o conheci em 1974 até ao momento em que nos deixa.
Por circunstâncias do PREC a que ele foi alheio, o CDS, partido do centro, de inspiração democrata cristã, ficou o partido mais à direita do espetro político. Aí se concentraram muitos dos que encararam com reservas, senão com hostilidade, o novo regime. A esses Diogo Freitas do Amaral desiludiu. Desiludiu também os que, embora genuínos democratas, não aceitaram a sua abertura à colaboração com o centro esquerda, colaboração que ele considerou ser útil ao País. E, de facto, Diogo Freitas do Amaral prestigiou Portugal como ministro dos negócios estrangeiros e como presidente da assembleia geral da ONU.
Acabou por afastar-se do partido que fundou por coerência com as suas ideias de sempre.
Diogo Freitas do Amaral será recordado como um dos Fundadores da democracia que partilhamos e um dos maiores pensadores do seu tempo.
Será recordado pelos muitos alunos que ensinou, como um excecional mestre e jurista, que explicava de forma simples os conceitos mais complexos do direito.
Portugal perdeu um dos seus maiores.