Tunísia. Talassoterapia, a cura que vem do Mediterrâneo

Mala de viagem (181). Um retrato muito pessoal da Tunísia.

Um centro de talassoterapia é semelhante a umas termas, mas com água do mar. Mais do que descrever o local, este momento serviu para refletir sobre um produto com tradições, mas pouco explorado no mundo. A Tunísia é um dos países que mais investiram nestes equipamentos de saúde. Presentemente, tem cerca de 60 unidades, o que coloca o país como o segundo dentre os principais destinos do mundo. A definição da talassoterapia é multifatorial, porque é preciso ter em conta quatro categorias que se interligam: a água do mar, os seus derivados, o clima e as técnicas associadas. Os benefícios completos da talassoterapia só se atingem se estes parâmetros forem articulados entre si de um modo equilibrado. Desta conceção, resulta a imperativa necessidade de as unidades de talassoterapia se situarem junto ao mar, em ambiente marinho, tal como as termas, que só se podem localizar não muito distantes das nascentes ou do percurso das águas minerais naturais. Segundo a comunidade médica, a talassoterapia é indicada para manutenção e recuperação da forma física e dos reumatismos, osteoporose, problemas circulatórios, celulite, fadiga, "stress", perturbações do sono, perturbações respiratórias, recuperação pós-parto, recuperação pós-operatória, recuperação pós-traumática, assim como é uma grande ajuda para os tratamentos de emagrecimento. A talassoterapia, ao encarar a saúde numa perspetiva global, atua coordenadamente nas vertentes de cura, prevenção e promoção da saúde. A utilização da água do mar como tratamento, visando essencialmente o bem-estar e a diminuição da sintomatologia relacionada com doenças do foro músculo-esquelético, tem vindo a ser cada vez mais frequente, com vista a minimizar o "stress" e o envelhecimento. Nas últimas décadas, em termos internacionais, os centros e institutos de talassoterapia têm evoluído no sentido de se dotarem, de uma forma crescente, de arquiteturas diversas, que tiram partido da sua localização privilegiada, investimentos que pretendem captar e dar resposta também a novas clientelas, cada vez mais atraídas por uma oferta inovadora. Historicamente, os alemães abriram vários no princípio do século XIX e, desde então, esta terapia desenvolveu-se junto às margens dos mares do Norte e do Báltico. Em poucos anos, surgiram outros centros em França e Itália. Em 1899, o médico Louis Bagot fundou o primeiro centro de talassoterapia (Instituto Rockroum, Roscoff), quando em Portugal já se projetara converter o Hospital Termal das Caldas da Rainha em especialização balnear de uso das águas termais, sem internamento, mas também das águas do mar, provenientes da Foz do Arelho e transportadas em barris. Em Espanha, os primeiros centros surgiram em meados da década de 1960 e, em França, foi criada, em 1986, a Féderation Internationale Mer et Santé, que oficializou, em 1997, a definição da talassoterapia, devidamente reconhecida pelos especialistas, com base nas seguintes características: um sítio privilegiado à beira-mar, a utilização da água do mar natural, uma equipa profissional, um serviço médico permanente e equipamentos higiénicos. A Tunísia absorveu a referência francesa e projetou um verdadeiro destino turístico e de saúde com base na água marinha. A elevada competitividade entre os destinos e produtos turísticos, a diversidade da oferta e as mudanças na natureza do turista e nas suas necessidades atuais saem beneficiadas com produtos diferenciados, para se construir uma imagem forte e consistente e responder a diferentes motivações dos turistas (terapia, relaxamento e combate ao sedentarismo). A talassoterapia não é a utilização da água do mar, por si só. Algas, lamas e sedimentos, assim como uma envolvente climática adequada, fazem parte desta antiga terapia. Globalmente, também é importante que o desenvolvimento da talassoterapia se enquadre na necessidade de uma intervenção política coordenada a favor do desenvolvimento sustentável dos mares, dos oceanos e dos litorais, quanto à coexistência de diferentes usos, à conciliação de interesses nem sempre convergentes e de pressões que se fazem sentir sobre o meio marinho e os ecossistemas costeiros e às possibilidades de empreendimento e de desenvolvimento da economia marítima. Na Tunísia, como noutras partes do mundo, intuímos os mistérios do mar, porque talvez se assista, nos próximos anos, a uma redescoberta e a uma nova relação com este recurso vivo, rico e agitado, tão abundante e ainda, em parte, por explorar, mas também em perigo de se deteriorar.

Jorge Mangorrinha, professor universitário e pós-doutorado em turismo, faz um ensaio de memória através de fragmentos de viagem realizadas por ar, mar e terra e por olhares, leituras e conversas, entre o sonho que se fez realidade e a realidade que se fez sonho. Viagens fascinantes que são descritas pelo único português que até à data colocou em palavras imaginativas o que sente por todos os países do mundo. Uma série para ler aqui, na edição digital do DN.

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