Movimento de Militares pela Verdade e Cravinho coincidem

O primeiro tema que o novo "Movimento de Militares pela Verdade" quer levar a debate - a condição militar - foi esta semana colocado na agenda pelo ministério da Defesa Nacional, que anunciou pretender criar uma "entidade de avaliação da condição militar em Portugal"
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O recém-criado Movimento de Militares pela Verdade (MMV) já escolheu o primeiro tema que vai lançar a debate: a condição militar. Segundo explicou ao DN um oficial, que pediu anonimato, o MMV é um movimento "inorgânico constituído por militares insatisfeitos que exigem a reposição da verdade, doa a quem doer, nos mais variados temas", afastando "qualquer ligação ou inspiração" com outros movimentos "pela verdade", que foram surgindo no âmbito da pandemia.

As Forças Armadas e o setor da Defesa serão, para já, o principal alvo do MMV e a "clarificação da condição militar", definida por lei aprovada em 1989, é o tema de estreia.

"Há mais de 30 anos que esta lei não é revista e provavelmente está na hora de ser atualizada e, principalmente clarificada, quer em termos dos deveres, quer em termos dos direitos dos militares das Forças Armadas e da GNR", acrescentou a mesma fonte.

Nesta preocupação o MMV coincide, por sinal, com o ministro da Defesa Nacional. Esta quinta-feira, a secretária de Estado dos Recursos Humanos e Antigos Combatentes, Catarina Sarmento e Castro, anunciou que o ministério da Defesa está a estudar a criação de uma "entidade de avaliação da condição militar em Portugal", organismo independente que teria como objetivo recolher e analisar dados a utilizar pelos decisores políticos.

A governante reuniu com a vice-presidente do Alto Comissariado de Avaliação da Condição Militar de França, Catherine de Salins e segundo um comunicado do ministério "esta reunião enquadra-se no trabalho que tem vindo a ser desenvolvido nos últimos meses pelo Ministério da Defesa Nacional, com vista à apresentação de uma proposta de criação de uma entidade de avaliação da condição militar em Portugal que, de forma independente, recolha e analise dados para habilitar os decisores políticos na definição de estratégias e soluções que procurem responder às necessidades dos militares e das Forças Armadas".

Recentemente, a SEDES - Associação para o Desenvolvimento Económico e Social propôs a criação de um Conselho da Condição Militar, num relatório para a área da Segurança e Defesa e que será apresentado neste sábado, no V Congresso desta entidade, em Carcavelos.

No texto, ao qual a agência Lusa teve acesso, é proposto o "desenvolvimento do modelo de diálogo social dos militares" com a criação de um Conselho da Condição Militar.

"Em virtude de se constatar a incapacidade do modelo atualmente vigente de satisfazer as necessidades de equidade e dignificação efetiva das Forças Armadas e dos militares, impõe-se a evolução do modelo de diálogo social dos militares em vigor, pelo que se propõe, a criação de um órgão de "Conselho da Condição Militar", tendo em vista reunir o necessário consenso político e institucional sobre a dignificação das Forças Armadas e dos militares", lê-se.

O Movimento de Militares pela Verdade tem como objetivo debater também outros temas, "ouvir e receber várias opiniões e encontrar a verdade com base em documentos e factos", assinala o mesmo interlocutor.

O Movimento, criado oficialmente no passado dia 25 de novembro, tem uma página oficial no Facebook com pouco mais de 100 seguidores, entre os quais se encontram já alguns oficiais militares na reserva e reforma.

No "código de conduta", publicado a 1 de dezembro, garantem que vão cumprir as "leis é regulamentos da República, em especial do Código de Honra dos militares das Forças Armadas e da GNR".

É "vedado" aos membros do MMV "o uso de palavras, imagens ou vídeos de baixo calão, pornográficas, violentas, de cunho político, religioso, racista, discriminatório, de qualquer forma ofensivo ou ainda que possam constranger os demais membros do grupo", sendo o "infrator" deste código punido com a sua eliminação das atividades do grupo".

Para "enquadramento da ação futura" do MMV e "dos princípios de obediência" que garantem pretender "respeitar", os militares começaram a publicar na página do Facebook algumas "propostas para pensamentos do dia", com citações de várias figuras históricas de relevo.

O mais relevante foi o escritor Miguel Torga. "É um fenómeno curioso: o país ergue-se indignado, moureja o dia inteiro indignado, mas não passa disso. Falta-lhe o romantismo cívico da agressão. Somos, socialmente, uma coletividade socialmente pacífica de revoltados", citam.

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