"Em 2025 queremos ter 40 milhões de fumadores a optar por produtos alternativos"
Presente nos dois dias da conferência sobre as políticas sobre tabaco e produtos à base de nicotina em Washington, o responsável da Philip Morris International, Marc Firestone, garante estar a viver um momento entusiasmante. A mudança que a indústria tabaqueira está a atravessar é encarada como uma oportunidade: quando o mundo inteiro implementa políticas para acabar com os cigarros a bem da saúde - todos os anos morrem sete milhões de pessoas por doenças relacionadas com o fumo -, há que encontrar caminhos que salvem o negócio... e as vidas dos seus consumidores.
Um pouco à semelhança do que acontece no mundo dos combustíveis - ainda que os riscos sejam distintos -, com a indústria automóvel e a aviação a procurar soluções mais amigas do ambiente, também a tabaqueira com sede na Suíça mas com clientes no mundo inteiro está a operar uma transformação radical. É sobre isso que Marc Firestone nos fala hoje.
Como é trabalhar nesta área que tem o mundo contra si?
É fantástico. É uma oportunidade incrível ser parte do que a Philip Morris International está a fazer para melhorar a vida de centenas de milhões de consumidores.
Não pode ser frustrante, quando há um movimento generalizado contra o que a empresa tem por objeto de negócio?
Não, é entusiasmante pelo momento que vivemos. Temos uma tecnologia incrível que podemos pôr a uso dos nossos consumidores e melhorar a sua vida - estamos em 43 países e já há cerca de seis milhões de pessoas que desistiram dos cigarros tradicionais e passaram para estes novos produtos sem fumo.
No Japão, por exemplo, tem sido uma mudança rapidíssima.
Por exemplo, mas também na Coreia do Sul, em países da América Latina, da Europa, em todo o mundo. É incrível ver, depois de tanto tempo a desenvolver estes produtos, que chegámos ao mercado e as pessoas estão a aderir, a trocar os cigarros tradicionais por estas soluções. E a deixarem totalmente o fumo.
Estes produtos alternativos sem combustão são comparáveis ao que assistimos no mundo automóvel? A morte do diesel em favor de soluções menos danosas?
De muitas maneiras, sim. Quando as pessoas querem algo melhor, isso faz a diferença, obriga o mercado a responder, a criar soluções que respondam ao que deve ser. Se as pessoas querem carros mais amigos do ambiente, as empresas vão produzi-los e pô-los no mercado - e isso tem acontecido. Logicamente, também os fumadores querem alternativas melhores e foi particularmente difícil inventar um produto que fosse ao encontro do que queriam, por isso foi ótimo conseguir esta mudança. E é fantástico tê-los agora no mercado, vê-los trocar.
E como vê a relutância dos EUA em aceitar tratar essas alternativas de forma diferente da que tratam os cigarros tradicionais?
Na verdade, acho que outros países podem aprender muito com a maneira de estar americana. Há aqui um aspeto excelente que é a incrível capacidade de ter debates abertos sobre o assunto, como temos aqui. Conseguir debater com reguladores, ONG e indústria e trocar pontos de vista diferentes sobre um projeto numa mesma sala é uma oportunidade fantástica.
Mas a lei é altamente restritiva.
Isso é uma questão de se conseguir encontrar o equilíbrio. Tal como acontece noutras áreas, como os carros elétricos ou os produtos farmacêuticos ou a comida. O governo tem de ser cuidadoso e a dificuldade está nos detalhes. Quando temos por base os fumadores e todos sabemos que os cigarros trazem estes riscos enormes para a saúde, deve haver políticas capazes de incentivar melhores alternativas, desde que sujeitas a cuidadosa observação, logicamente. Ninguém quer que haja novos fumadores, sobretudo entre os jovens.
Podemos impedir que isso aconteça?
Não, como muitos já disseram nesta conferência, incluindo membros de organizações como a FDA, não se pode impedir que aconteça. A questão é que temos de minimizar, de educar, de criar obstáculos fiscais e leis que dificultem o acesso ao produto. Há muitas ferramentas previstas para limitar o acesso de novos consumidores ao tabaco e outras para incentivar os fumadores adultos a adotar outro tipo de produtos, de menor risco. O desafio para mim é conseguir maximizar a oportunidade e minimizar o que não queremos que aconteça. É importante é que não nos foquemos tanto no que não queremos que acabemos por excluir a oportunidade que existe.
O Reino Unido tem feito doutrina no sentido de encaminhar os seus fumadores para alternativas de menor risco. É esse o caminho certo?
O Reino Unido tem-se destacado na liderança desse movimento, sim. Fizeram o trabalho de casa, estudaram e optaram pela solução que vai ao encontro da oportunidade que existe aqui. Os britânicos certamente são sensíveis aos argumentos do que não querem que aconteça, mas sabem gerir as ferramentas de que dispõem.
E na Suíça, onde a PMI está sediada, também é assim?
O que acontece na Suíça é que se permite que os fumadores tenham acesso aos produtos enquanto se lhes disponibiliza toda a informação, eles têm acesso a tudo o que há de informativo - e esses são os principais fatores que contam. Claro que de país para país haverá diferenças e especificidades, mas desde que se mantenha essa base pode haver mudanças positivas. Permitir o acesso ao produto e disponibilizar toda a informação que explica porque faz sentido trocar o cigarro tradicional por alternativas de menor risco. Desde que esses princípios existam, há espaço para discutir tudo o resto.
A mudança para produtos de menor risco é uma aposta de tudo ou nada para a PMI?
O que a PMI está a fazer é uma das coisas mais radicais que uma empresa pode fazer, uma mudança incrível. Que é dizer, enquanto multinacional, vamos substituir os cigarros que produzimos por estes produtos de menor risco para tentar melhorar a vida dos nossos consumidores. Temos 150 milhões de clientes e seis milhões já trocaram os cigarros pelos novos produtos. Até 2025 queremos que sejam 40 milhões. Faz todo o sentido enquanto estratégia de negócios e ainda mais do ponto de vista da saúde pública.
A jornalista viajou a convite da PMI