Três áreas governamentais poderiam ser afetadas pela eventual necessidade de reajustar a composição do novo Governo ao facto de ter começado uma guerra no Leste da Europa, com a Rússia a atacar a Ucrânia: Negócios Estrangeiros (por causa da componente diplomática envolvida), Defesa (componente militar e envolvimento na Nato) e Segurança Social/Trabalho (por causa da questão dos refugiados ucranianos que estão a caminho)..No entanto, a verdade é que, antes da guerra irromper, o primeiro-ministro (PM) António Costa já tinha definido para si o que faria nessas três áreas, ao formar o seu novo Governo, e, aparentemente, não irá mudar de ideias..No MNE, a experiência diplomática do ministro Augusto Santos Silva - titular da pasta desde 2015 - deverá ser substituída pela experiência diplomática do atual ministro da Defesa (esperando-se que depois Augusto Santos Silva seja eleito presidente da Assembleia da República)..João Gomes Cravinho já foi embaixador da UE na Índia e no Brasil e, durante seis anos, nos governos de José Sócrates, secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros. Não sendo um diplomata de carreira, o que não lhe falta, porém, é experiência na matéria, inclusivamente académica e como consultor..Tudo indica que será o próximo MNE e, sendo atualmente ministro da Defesa, já está certa forma "rodado" na questão da guerra da Ucrânia. Aparentemente, há muito que é claro para Costa que Cravinho não poderia ver o seu mandato na Defesa renovado com a entrada em funções de um novo Governo..As relações do ministro com Presidente da República (PR) ficaram turvas com o caso do tráfico de diamantes por militares portugueses na República Centro Africana. Marcelo disse que o ministro tinha um parecer jurídico que lhe sustentara a decisão de não informar nem o PM nem o PR desse caso. Cravinho não hesitou em desmentir publicamente Marcelo, dizendo que não havia parecer, e Marcelo engoliu em seco: "Pelos vistos o erro foi meu.".Ficando a pasta da Defesa vaga, especula-se agora sobre quem será o(a) eleito(a). Costa já terá feito a sua escolha e até com convite formalizado e aceite - mas o nome mantém-se uma incógnita. Especulou-se sobre a possibilidade de ser a atual líder parlamentar, Ana Catarina Mendes, mas a sua total ausência de experiência governativa parece ter desaconselhado a sua escolha..Na terceira área que poderia ser afetada - Trabalho/Segurança Social - também não se preveem mudanças. A ministra Ana Mendes Godinho deverá ser reconduzida na pasta e ainda anteontem fez anúncios relativamente à política nacional de acolhimento de refugiados ucranianos..A ministra revelou que a plataforma digital criada no IEFP para reunir ofertas de trabalho para quem esteja a caminho de Portugal fugindo da guerra já registou duas mil ofertas. Segundo disse, no IEFP foi criada uma task force mobilizada para garantir o "melhor match possível" entre as qualificações e perfil dos ucranianos que vão chegando a Portugal e as necessidades das empresas..Seja como for, o gabinete do primeiro-ministro a nada responde, remetendo para a nota emitida no início de fevereiro: "Compreende-se a natural curiosidade jornalística pelo processo e composição do novo Governo e outros órgãos, na sequência das recentes eleições parlamentares, mas são puras especulações, sem fonte credível, quaisquer notícias sobre intenções do primeiro-ministro, que não resultem de: declarações do próprio; ou de nota deste gabinete." O elenco completo do novo Governo só será revelado depois de, formalmente, o Presidente da República indigitar António Costa a formar Governo..Esse é um procedimento que aguarda pela publicação oficial, em Diário da República, dos resultados finais das eleições legislativas, o que, por sua vez, espera pela repetição das eleições no círculo da Europa (voto presencial nos próximos dias 12 e 13 e votos por correspondência aceites se forem enviados até dia 23). Dito de outra forma: António Costa tem ainda à frente quase um mês para construir o XXIII Governo Constitucional. Marcelo Rebelo de Sousa já sugeriu que gostaria de lhe dar posse no próximo dia 29..joao.p.henriques@dn.pt