Teste de stresse às famílias

Publicado a
Atualizado a

A expressão "teste de stresse" é geralmente utilizada para averiguar a saúde financeira dos bancos, mas, desta vez, são também as famílias portuguesas que vão estar debaixo de um autêntico teste de stresse. A subida generalizada de preços, e, consequentemente, da inflação, bem como a subida das taxas de juro sobre o crédito à habitação, são grandes desafios para o presente ano e que fazem antever um forte aperto do cinto.

Os mercados financeiros antecipam que o Banco Central Europeu (BCE) suba os juros. A Euribor, que vem de terreno negativo para positivo, pode chegar a 1,06% em novembro e a 1,62% daqui a um ano. Ora, a Euribor a 12 meses é usada em cerca de um quarto dos contratos de crédito à compra de casa que são realizados em Portugal e pode afetar cerca de 300 mil famílias. Além disso, mais de 82% dos contratos são feitos com base na taxa variável, portanto a subida da Euribor vai ter impacto em todas estes portugueses. Na prática, os orçamentos familiares vão ser postos à prova ou ao tal exame que se adivinha de grande tensão. Sobem os juros, cresce a prestação mensal e, no mínimo, falta dinheiro para compras de produtos essenciais no supermercado ou para um depósito de combustível que tanta falta faz a cada agregado.

Com os salários na mesma e os preços a subir, o poder de compra desgasta-se. As centrais sindicais, CGTP e UGT, mostraram, nas manifestações que decorreram no Dia do Trabalhador, como estes temas vão marcar a agenda laboral e de contestação social ao longo dos próximos meses. Os sindicatos pedem aumentos, mas, para já, o governo recusa, por temer uma espiral inflacionista. Colocando as duas posições nos pratos da balanço, o DN tenta hoje encontrar caminhos da macroeconomia para um compromisso possível. Os dois lados podem ter parte da razão e também já se percebeu que estão firmes nas suas posições.

Antes que a corda social quebre - tão poucos dias após ter sido aprovado o Orçamento do Estado na generalidade e ainda antes de o assunto chegar à mesa de discussão da concertação social -, é importante ouvir argumentos, fazer bem as contas e encontrar o equilíbrio entre as contas públicas e a carteira dos portugueses, que, por este andar, vai ficar leve. Muito mais leve. E quanto mais levitar a bolsa dos consumidores maior será a contestação nas ruas ao governo de maioria absoluta de António Costa. Assim, um teste de stresse político poderá estar também a caminho.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt